Google Analytics Alternative
Google Analytics Alternative

domingo, 29 de março de 2015

dos processos teurapeuticos curativos

hoje é domingo, nesses dias, minha casa costuma ter sempre gente, alguém sempre bate aqui pra almoçar, quando não é assim estou enchendo a casa de alguém com todos os meus excessos.
Estou em dias tão delicados de minha vida que me forcei a solidão. Aproveitei o vazio da casa para sentir as coisas. Coloquei minha lista de musicas fossa, e mergulhei na cozinha. Minha cozinha virou meu quarto. Entre cigarro, musicas e tempero resolvi cuidar de mim. Resolvi sair da cama, e ir enfrentar a cozinha. E como foi terapeutico. Cozinhei para mim, so eu ia almoçar, normalemnte em dias assim eu nem como.
Enfrentei as dores, eu, a faca e a tabua de temperos. moí tudo no liquidificador, coloquei sal sem pensar no gosto alheio, coloquei a quantidade de pimentão que eu achei necessária.
Isso foi tão bom. Eu me vi colocando a mesa para mim, ouvindo a musica que eu queria no volume que me agradasse.
Pensei, senti, parei de cortar tudo, falei com amores gaúchos, fiz tratos comigo, estipulei metas, descumpri regras , puxei a cadeira que gosto para dentro da cozinha e me melhorei.
Não sei até que horas,mas sei que serviu para eu pensar em mim. De forma bem egoista mesmo. Eu detesto não reconhecer meus sentimentos. Quando eu me vejo tumultuando tudo é como se eu tivesse me boicotando. Eu sei que se eu parar um pouco para ver, para escutar e sentir tudo, as coisas vão ficar menos turvas.

Em fim, cozinhei para mim, no meu tempo, com meu tempero, e cuidei de pensar em tudo, e me permiti sentir meu caos e me assustar com ele. A solidão é uma coisa poderosa quando se escolhe por ela.

Eu, meus alhos e minha fumaça fomos felizes no meio de tão poucas risadas.

Ele sempre comigo, me acompanhando nos mais doidos devaneios, o nome da musica é um detalhe importante, Obrigada Renato!

"Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.
Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos."


sábado, 21 de março de 2015

pessoas necessárias

Hoje recebi em minha página um link que me fez pensar em pessoas necessárias.

Recebi o link de Carlos Bonfim. Professor de primeiro semestre no Bacharelado. Foda. Ele foi responsável por tirar vários panos dos meus olhos. Ainda posso ouvir sua voz marcante e suave, necessária. Nutri inclusive uma paixão platônica por sua pessoa. Mas platônica mesmo, ele nunca soube, se soubesse acharia graça. Eu tentava disfarçar e não tinha a menor pretensão de levar aquilo para além a abstração. Ainda guardo uma copia do email que chegou até mim,  onde ele me indicava a uma professora para participar de seu grupo de pesquisa, e se referia a mim como uma das alunas promissoras do IHAC. Todos os dez que e me deu em sua aula de Estudo das Culturas, não me deixaram mais feliz que suas palavras naquele e-mail. 

Foi através dele que conheci projetos e pessoas sensacionais. O projeto Sarau bem black , do gigante Nelson Maca. Foi ele que levou nossa turma numa quarta-feira de noite lá no Sankofa African Bar, para jogar na minha cara como eu não sabia de porra de nada da vida. Eu ainda amamentando meu pequeno João, tão longe de outras socializações, lembro claramente o que senti quando entrei naquele lugar, era o véu caindo, era a vida sorrindo e pisando, era a muita coisa prum semestre só... eu tinha era que ter uns 6 semestres com aquele homem que me desconstruiu toda. Que não me avaliava em números e me levava para conhecer a produção cinemátográfica de Bollywood, e fiquei envergonhada da minha cegueira. Foi ele quem me levou pro hip hop, e me disse suavemente que eu precisava ir ao Equador. Ainda irei.
Carlos é necessário em toda universidade, é necessário em todas as vidas, e seu projeto não diferente dele é incrivel, e tai bombando. Adoro voltar dos lugares ouvindo Latitudes Latina no carro, mato a saudade dele.

Carlos é o tipo de homem que foge os estereótipos, todos, de autoridade enquanto professor, de masculinidade enquanto homem cis, enquanto produtor de conhecimento. Ele de fato borra diversas fronteiras, e isso o deixa por demais interessante. 

A história de vida de Carlos é incrível. E ele tem tanta suavidade em ser, e parece ser intelectualmente tão honesto, que não é surpresa nenhuma ouvir sua voz hoje em uma das rádios mais potentes de Salvador, não é surpresa nenhuma ver o o projeto Latitudes Latinas ocupando diversos espaços. Muito bom perceber nossas afinidades na perspectiva pós-colonial, e perceber que cruza completamente com meus interesses em estudos de gênero. Eu me identifiquei por demais com os saraus do Latitudes organizados no sebo, achei sensacional o encontro de pessoas latinas ao som de suas musicas... aquele povo é demaiiis! 

Eu lembro de ter tomado um breve café com ele em letras há uns 3 anos atrás e ter lhe dito de meus projetos em gênero e sexualidade, e ele disse que sabia de minhas pesquisas e que torcia pela minha entrada lá no PósCult. Disse isso tão honestamente que pensei em levar a diante aquela ideia maluca de colocar um mestrado em minha vida. Fique animada em saber que ele seria meu professor de novo caso  eu entrasse no poscult e ainda estou no aguardo de me ver trocando outra ideia com ele e outrxs colegas na mesma sala de aula. E nunca mais falamos, nos vemos brevemente nos lugares de interesse comum, mas sempre com muita gente e som, dois beijos e tchau. Até eu passar no mestrado, quando ele me mandou um email muito do gentil dizendo que tava muito feliz com minha entrada lá e que sabia que em breve seríamos colega. Espero ter várias oportunidades de agradecer suas singelas palavras de sempre e sua doce desconstrução em minha vida, eu acho que eu nunca disse a ele de sua importância na minha formação e como tudo fez sentido quando ele me ajudou a entender a contra-cultura e cobiçar a subalternidade. 

é isso, mais Carlos, por favor. 

Sarau Bem Black

quarta-feira, 18 de março de 2015

Pequeno mapa do tempo


Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião
Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão
Medo, medo. medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo que Belo Horizonte
Eu tenho medo que Minas Gerais
Eu tenho medo que Natal, Vitória
Eu tenho medo Goiânia, Goiás
Eu tenho medo Salvador, Bahia
Eu tenho medo Belém, Belém do Pará
Eu tenho medo pai, filho, Espírito Santo, São Paulo
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá
Eu tenho medo Estrela do Norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará
Medo, medo. medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo e já aconteceu
Eu tenho medo e inda está por vir
Morre o meu medo e isto não é segredo
Eu mando buscar outro lá no Piauí
Medo, o meu boi morreu, o que será de mim?
Manda buscar outro, maninha, no Piauí

Belchior

tempo, tempo, tempo



"Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo"

É tão bom ter a quem recorrer, é tao bom entrar nessa estrada e seguir em frente , até passar aquele posto de gasolina e entrar naquela rua. Minha alma já começa se aquietar, tudo que não importa vai embora, fica só o que eles deixam. Viro aquela esquina, e tá lá minha vaga, e eu desço quase louca, se eu virasse no santo tenho certeza que não conseguiria entrar no terreiro sem ele. Quado buzino naquela porta só quero estar lá dentro e deixar o mundo todo lá fora. Quando eu tomo aquele banho já estou ali por completo,e eles sabem que eu estou e desafogam meu coração. Acho que pela primeira vez fui chamada com toda força que eles puderam. Quando eu bato minha cabeça nos pés da minha mãe tenho certeza que a tremedeira era a falta, e aí recebo aquele abraço apertado, aquele olhar acolhedor e aquela força de quem tem super poderes. E pouco preciso dizer. Entramos e entendemos as urgências. Era aquilo, de sempre, cuidado com as pessoas, cuidado com os corações, calma, calma, muita gente em volta. Respira, entenda o tempo das coisas. Deixa de ser burra. Assim vc estraga tudo. Uma Oxum, dois Xangôs, uma Iansã, dois Oguns e alguns Exus. Babado, confusão e gritaria, é muito trabalho espiritual, muita reflexão, muita experimentação, crescimento espiritual. O aprendizado foi de cuidar muito disso, com paciência e fé, muita fé. 

Eu tenho muito o que agradecer a meus guias, tenho muito o que dizer que os amo, tenho muito o que trabalhar por aquele lugar e dar o melhor de mim, pq eu não tenho dúvidas que sou privilegiada de ter um lugar para ir, sempre , todo os dias, para sempre. 

Esse também é um post para dizer que dar certo é isso, fazer dar.  E que eu tenho é muito muito amor dentro mim, tanto que canto alto mais alto que nunca Belchior. 








domingo, 15 de março de 2015

Minha mãe de santo me contou

...e não é só um.

"Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão"


terça-feira, 10 de março de 2015

Acontecerá

Nosso Pequeno Castelo

O Teatro Mágico

Já longe de tanta fumaça
Menina que manda seus beijos com graça
Me faça rir, me faça feliz
Sentada na areia, brincando com a sorte
Não chove não molha
Não olhe agora, estou olhando pra você
Não olhe agora, estou olhando pra você
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Anoitecerá
Na estrada o farol de quem se foi
Já não ilumina quando te beijar
Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz
Já longe de tanta fumaça
Menina que manda seus beijos com graça
Me faça rir, me faça feliz
Sentada na areia, brincando com a sorte
Não chove não molha
Não olhe agora, estou olhando pra você
Não olhe agora, estou olhando pra você
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Anoitecerá
Na estrada o farol de quem se foi
Já não ilumina quando te beija
Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?

domingo, 1 de março de 2015

A vida é uma piada

há alguns anos atrás, uns 4 talvez, liguei para minha amiga, dizendo que tava afim de dar uma saída, ia ter Jorge Benjor no Pelourinho e  eu convidei ela pra ir comigo. Ela rapidamente me respondeu: -Quem é esse?
 
E eu do alto da minha arrogância pseudo-intelectual , pensei: meu Deus é sério que eu vou ter que explicar isso? Ela ta de sacanagem comigo né? só pode!
 
De fato nós duas sempre tivemos muito pouca coisa em comum em nossos gostos e história de vida. Nossa amizade forte sempre se deu por uma força quase que espiritual, uma afinidade astral que foge do campo da razão. Para ser mais sincera, tinha tudo para dar errado, para ser o contrário, pra gente se olhar na rua pensar como é bom manter a distancia de 'certo tipo de gente'.
 
Mas não foi. Talvez a idade que a gente se conheceu, nossas experiências toxicas tenham nos favorecido um contato com mais desprendimento.
 
Fabi sempre foi a menina criada com a  vó rica, e eu sempre fui a menina criada pela mãe solteira muito doida e pobre. Eu desde sempre precisei me virar na vida e trabalhar desde muito cedo, ser participativa na nossa casa e fazer escolhas dolorosas. Fabi não sabia como o botijão de gás aparecia na cozinha, e me ligava em desespero quando se via numa situação, 'inusitada', dessas, Quase sempre eu ria e ajudava ela a resolver seu grande problema, não sem esculhambar ela todinha.
 
A barra pesou pro lado dela quando com 16 anos engravidou. O bicho pegou de verdade. Dentro do campo financeiro nada preocupava. Nunca preocupou. Mas ela tinha 16 anos, estávamos no cientifico, fumávamos maconha todos-os-dias-da-vida. Vivíamos na praia, e criança era a única coisa que não precisava acontecer aquela época. Ela abriu a porteira da maternidade de nosso grupo diverso de amigas. Era bem surreal pra mim que aquela menina magrela ia ter um bebe na barriga.
Lipinho nasceu saudável, numa noite de carnaval, de parto normal, e foi para o braço de uma menina que não sabia o que fazer com aquilo. Eu só teria minha primeira filha 4 anos depois de Lipe ter nascido. Muito possivelmente nossa amizade se apoiou muito dessas intercorrências. Uma vez um rapaz muito do querido me disse que as relações se sustentam das intercorrências e adversidades da vida. Um tanto pessimista, mas eu tendo a concordar com ele.
 
Bom, com Fabi vivi coisas indizíveis, já com Lipe nascido. Dividíamos muitos segredos. Foram muitos verões na Praia do Forte experimentando a sexualidade e os limites do corpo com excessos. Foram muitas festinhas, muitos atraques e fechações. Éramos bem abestalhadas, é verdade. E tínhamos certeza que não. Sorte grande ter dado tudo certo.
 
Ainda assim nossas diferenças eram gritantes, e quando elas berravam entre nós as conversas eram longas e produtivas. Eu sei que eu sempre assustei Fabiana, e eu bem da verdade, gostava de tirar ela da zona de conforto  e fazê-la pensar de outras formas. Eu era muito menos arrogante que sou hoje, mas já exercitava meu poder dessa forma desde cedo.
 
Depois que eu tive minha filha é que fui verdadeiramente descobrir o coração de Fabi. Que pessoa linda! Foram dias de muita dificuldade , de todos os aspectos e ela foi sempre sensacional.
 
Ontem, uns 18 anos depois da gente ter se conhecido... Fabiana casa. Um casamento que sempre sonhou. Um casamento que eu acompanhei de perto desde seu sonho até sua realização... com um cara que foi um alivio para todas nós hahahahha. Fabiana me contou tudo, exatamente tudo sobre o casamento...Fabiana sabe meus gosto, Fabiana sabe que entre o trio de psirico e os trios alternativos eu estarei fora das cordas... Fabiana me lê de trás pra frente... mas foi incapaz de mencionar a possibilidade do tio dela estar na festa e fazer um show. Tio esse, que sempre fui fã e só descobri que era seu tio, depois de 15 anos de amizade e uns 15 carnavais juntas, no enterro de seu avó, o querido Vô Dudu.
De repente Armandinho estava no palco. Como assim amiga?
Eu só olhei para ela de longe, tava ela lindérrima,  toda de branco , e eu de cá, bêbada, cai em mim. Essa é Fabiana. Armandinho não significa nada para ela além de um parentesco. E aí que ele Dodô e Osmar criaram o trio eletrico??? hahahah Ela tá lá de costas para o palco torcendo que aquilo acabe e desejando que o Dj toque PararaTibum, hahahah e como eu amo ela. Como eu amo sentir ódio dela por estar surpresa que Armandinho está no palco...
 
 
Resultado, bebi aceleradamente de euforia. Bebi como se fosse a avenida. Carnavalizei tudo de novo. Já estava em outra dimensão.. quando comecei a olhar para Fabiana e para o palco e perceber como é linda a diferença.. como somos mais lindas ainda  de sobreviver a ela durante todos esses anos.  Gritei , dancei, xinguei ela com aquele vestido branco lindíssimo e me rendi a seu dia, fui até o chão com ela, e nos divertíamos como há muito não fazíamos. Joguei minha dignidade no lixo, tirei todos os discursos higienizantes de meu corpo (são bem poucos), cantei Jorge e Mateus sem saber a letra , agarrada com ela, dancei "eu vou, eu vou, sentar agora eu vou" de forma erótica e chutei todos os baldes.
 
O casamento foi muito mais que uma celebração de amor, em mim tiveram outros efeitos.
 
E quando me vi, estava com 33 anos, dançando trenzinho da sacanagem com Armandinho, que desceu do palco e decidiu rasgar rua dignidade junto com a gente.

Ela é que é feliz.

E eu estou aprendendo.