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quarta-feira, 3 de julho de 2019

sobre voos -a viagem das mulheres

era uma coisa remota. sem dinheiro, so uma possibilidade de  hospedagem.
aquela estrada, aquele frio, aquele ar puro, aquele visual... era tudo que eu precisava. eu achava. dai veio a possibilidade se materializando, de repente um carro disponível, uma parceria pra dividir a gasolina, uma grana que apareceu pra viver minimamente, o desafio era: 8 horas de estrada. Sem ninguém para dividir a direção. me lembrei que todas as vezes que estive naquele lugar um homem havia me dirigido ate la, seja um um boy amigo,um bofe, um motorista de ônibus, eu nunca havia pensado na possibilidade de me levar literalmente aquele lugar que era tao cansativo, perigoso para  uma mulher ir sozinha.

Pronto, o desafio foi-me dado, eu tinha tudo para encarar ele, e muita vontade de saber se eu precisava mesmo ser levada. Nunca havia dirigido por tanto tempo, num carro meio em condições incertas e um tanto desconhecido para mim.

enchemos o bagageiro e o tanque, e la fomos nos, três mulheres, só eu dirigia, uma delas minha filha , era uma responsabilidade imensa aquelas vidas, mas a responsabilidade ainda maior era me deparar com minhas possibilidades sempre negada a mim. 

Encarei, fiz ultrapassagens de veículos longos, aprendi a fazer isso muito bem, fui e voltei, foi maravilhoso. estar la eh sempre incrível, la eh onde me reencontro, onde me resgato, onde uma parte linda de mim reaparece, onde fico mais bonita, mais leve,onde posso estar como quem sou cem por cento, quase seria o lugar perfeito para mim, se esse lugar existisse, só que o lugar perfeito para mim eh o movimento. Por isso chego a conclusão de que por hora não, não tenho vontade de morar la, a menos que algum projeto de trabalho muito grandioso me possibilitasse essa experiencia, mas ir apenas pq la eh meu lugar não eh suficiente, pq não ha lugar certo para mim... complexo e contraditório como tenho me construído ao longo da vida. 
sim me vejo uma velha num lugar como aquele, talvez nao exatamente aquele, pq daqui ate la ,aquele lugar ja nao sera o mesmo, mas um lugar daquele jeito, que me faça sentir como quando estou la. 

eu encarei o desafio de ir ate la, o caminho foi o mais grandioso, o percurso desde a elaboração da possibilidade de ir, ate a concretização dela, e a execução. 

Eu fui e voltei caralho, eu me levei pra la, eu sozinha, que belo exemplo dei para minha filha, ela pode. Foi uma viagem e tanato pra nos duas que não ficávamos juntas sozinhas por tanto tempo ha pelo menos o tempo de existência de joão, dez anos.

deslocar minha subjetividade tem sido minha maior aquisição, me provar que consigo as coisas, retomar as rédeas de mim, me perceber capaz do que sempre me foi negado. 

cada mulher que se liberta, liberta muitas outras

sigamos, nas conquistas da nossas possibilidades, e principalmente, o que determinam a  nós como impossibilidade

 e como santo não conversa, age, eu que fui com medo de ta faltando uma função no meu terreiro, bem no dia que devia estar la, estava no terreiro do meu lugar, a casa de oxossi, recebendo as bençãos do dono daquela imensa casa.