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domingo, 15 de setembro de 2019

Afetividades dissidentes

Aquela coisa de sempre. Desestabilizar as estruturas. Desnaturalizar as normais.
Porque? por as normas naturalizadas oprimem, tornam abjetas outras formas de ser, existir, pensar e agir.
Qualquer tentativa de defender uma forma de dominação é a mais contundente prova de seu interesse em se manter dominadora e que ela, apesar de se manter de pé através da naturalização, nada tem de natural.
A monogamia é isso. Um estrutura de dominação. uma norma. Tal qual heteronomatividade, cisgeneridade, a branquitude, o  machocentramento.
É bom que isso seja dito com todas as letras. E como todo projeto de dominação, se estrutura no capital, a serviço do mesmo.

A ideia do amor verdade, do único, daquele que suporta tudo para manter o status de 50 anos de casado, é uma falácia. Não exatamente o amor, mas a ideia de que somente o amor mongamico é possível e é verdeiro.
Gosto muito de usar a imagem da afetividade entre amigos. Quantos amigos vc tem? Vc consegue se relacionar simultaneamente com vários? Consegue dar atenção, ter as coisas que gosta de fazer com cada um , estar disponível para todos eles com uma certa organização lojistica?

Essas inquietações sempre me atravessaram, agora venho amadurecendo essa noções, sistematizando e organizando elas. tem acontecido quase como forma terapêutica tb. Porém, ser mulher e se sentir atravessada por isso, é sempre diferente do que é ser homem. Assim como ser uma mulher branca vivendo afetividades é sempre diferente do que como é ser  para uma mulher preta.

Enquanto mãe, tenho questões especificas que me atravessam. me convenci por um tempo de que é dispare uma relação não monogâmica entre um homem e  uma mulher que tenha filho, porque dentro da logica machista , o homem e sempre terá mais disponibilidade temporal e organizacional de vida para se apaixonar e viver essas paixões. Mas aí ontem eu ouvi de uma mulher transativista , que a monogamia nunca protegeu ela de violências , de preterimento, de transfobias, e aquilo me atravessou. A monogamia igualmente nunca me protegeu da disparidade da forma como preciso lidar com o tempo dividido entre minhas questões pessoais e a criação de meus filhos. O problema aí não é ser monogâmica ou não -mono. O problema aí é a desgraça do machismo.

Então hoje eu não tenho mais argumentos racionais para sustentar minha pouca condição de lidar com uma relação nao-mono. Eu nunca na vida consegui estabelecer uma relação honestamente não monogâmica porque para mim é difícil, difícil em muitos aspectos. Racionalmente tudo faz muito sentido para mim, muito mais do que a relação monogâmica, e tenho plena convicção de que o que não faz sentido é pura estrategia de manter as coisas dentro da confortabilidade de não mexer nas feridas.

Sim, possivelmente isso tem a ver com a falsa sensação de que a monogamia pode garantir alguma segurança emocional que me faça suportar melhor meu medo de abandono, e preterimento.
Ja me dei conta de algumas coisas. Todas as vezes que propus uma relação não monogâmica ----isso que eu vou escrever é muito louco----  em minhas relações,apesar de ser completamente convencida pela racionalidade do sentido que tem a não monogamia, toda vez eu fizisso por medo. Fiz na tentativa de suportar lidar com o possível abandono que para mim estava ja dado como certo. Ou seja, minhas tentativas de estabelecer relações abertas estão diretamente ligadas ao medo do abandono.
E ai eu sei construir toda uma linha argumentativa para defender a nao monogamia, porque de fato é muito mais honesta e

Eu sei, va pra terapia filha.

eu fui, e vou, e to olhando para isso, tanto que estuo aqui assumindo minha fragilidade e a complexidade que é tudo isso para mim,e imagino que muita gente que se questiona sobre seus desejos, e possibilidades afetivas.
Não sei exatamente o rumo que devo tomar sobre isso, mas sei que pelo menos estou em vias de apaziguar a relação entre minhas sensações, meus danos subjetivos e a racionalidade.

acho que é um bom caminho.