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terça-feira, 19 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Minha crise instaurada

O I Simpósio Nacional  de Respeito e Visibilidade Trans não sai da minha cabeça;

Até então estava tudo organizado no meu campo das idéias. Li muito sobre a despatologização, mas caí na cilada de ler academicamente. Acho que depois de dois anos lendo sobre as vivencias tans ( trangenerxs, transexuais, travestis) finalmente me inquieto profundamente com um debate interno. Não tenho dúvidas sobre como a militancia não pode estar dissociada a academia, e vice-versa. Pensar de forma dicotomica nesses dois movimentos é  impordutivo. Mas eu caio agora no seguinte debate: Com relação as vivências trans - compreendendo que essa é uma vivência que quebra com normas de gênero e sexualidade e por isso sofre sansões socioeconomicas - não seria prepotente de minha parte debater sobre a despatologização dessas vivências de forma a desejar que seja uma demanda dessas pessoas?

 ---- Na Argentina esse é um debate vencido e a Lei de Identidade de Gênero desvinculou as vivencias trans a uma patologia, as pessoas trans lutaram por isso e hj tem sua identidade de gênero garantida por lei e podem usar seus nomes sociais e solicitar cirurgia de transexualização-----

Mas voltemos ao debate. As vivências trans da Argentina tem pontos de igualdade em experiências e demandas com as vivências dxs trans brasileirxs , porém não há como negar as singularidades. O significado de ser trans no Brasil nunca será o mesmo de ser trans na Argentina, na Itália, na India, no Haiti. Há peculiaridades. 

A minha maior surpresa nesse encontro Trans foi reconhecer a despatolizição como uma não-prioridade nas lutas políticas dxs pessoas trans. Eu já sabia que haviam fatores dificultadores, politicos e culturais, nesse debate quando institucionalizado. A desautorização do discurso médico me parece um terreno temido e que outras instituições e o Estado não tem tido muita vontade de mexer nisso.Isso não era novidade e continuou não sendo na fala de Katia Souto do Departamento de Apoio à Gestão Estratégica e Participativa que falou muito bem como a instituição desisteressada que é nos direitos integrais, o que ela fez foi jogar todo o debate da despatologização para escanteio, e em uma resposta a carta aberta de Berenice Bento -  criticando o seminário acontecido na semana anterior -  reforçou a ideia problemática que ali era um espaço de politica pública e não de referencias academicas. Mostrando um irritante ar "apaziguador" , para não dizer acomodado, justificando a exclusão do debate da despatologização para manter a cordialidade e os esforços para garantir outras demandas e aqui eu tenho que citar Malcom X

“Como você pode agradecer a alguém por lhe haver dado o que já é seu? Como, então, você pode lhe agradecer por haver dado somente parte do que já é seu? Você sequer progrediu, se o que lhe foi dado era algo que você já deveria ter tido. Isto não é progresso.”

Fiquei frustrada com as seguintes questões:

 prevenção a AIDS ( será que ainda irei num evento trans e travesti que desvinculará a AIDS das vivencias trans?) A única demanda médica que uma pessoa trans é a prevenção de DTS? Não estamos reproduzindo a ideia de que pessoas cisgeneras e heterossexuais estão livres dessas demandas e reforçando o lugar de abjeto das pessoas trans?


Fiquei arrasada que Berenice Bento não foi para o evento desconstruir a fala de Katia Souto. 


A lógica predominante na hora de decidir sobre a camapnha de Visibilidade Trans ainda foi HIPERIDENTITÁRIA e o problema disso é  que gera uma exlusão de prioridade de demanda inclusive dos homens trans. E daí me lembro também da justificativa que dão para não se pensar em politicas públicas para pessoas intesexuais: Não há representatividade. Não há uma organização desse moviemtno. Sem se quer problematizar o porque não há essa articulação; Como pensar num movimento de pessoas já mutiladas e com sua sexulidade aprisionada ao nascer? Quão doloroso é dar a cara a tapa nessa sociedade? Que porra de movimento SOCIAl é esse?  - me exauto. 


Voltando a despatologização, me surpreendi com a forma que despatologização foi tratada pelxs pessoas trasn que ali estavam ( poquissimo número). Fiquei me perguntando.... nessa realidade, nesse espaço territorial, seria então a despatolização uma demanda da produção acadêmica? Me pareceu tão longe de seus desejos... tão confuso.  Eu compreendo quando se pede a patologização para a garantia da cirurgia trasnsexualizadora, uma estratégia muito válida, mas me pergunto até que ponto essa estrategia contempla a todxs demandas de todas as vivencias trans? 


Ao mesmo tempo essas pessoas não se reconhecem como transtornadas ou doentes mentais , como sugere o CID. Me trouxeram dados novos sobre o processo de transgenitalização.... demanda que eu desconhecia. E isso foi sensacional. Entar entre elxs é sempre desconstrutivos e fantástico. 

Precisarei de mais alguns encontros para sanar minhas perguntas ou sucitar mais algumas, rs.





Microondas

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Tem coisas lá em casa que eu nem ligo mais, pra não ter que desligar.
Pessoas da minha vida parecem sumir, mas insistem em voltar.
Amores requentados, feito pão dormido, vêm do microondas.
E o bom e velho gosto de romance antigo é sempre bom de recordar.
Flores que você traz pra me dar...
Eu não preciso disso pra lembrar.
Lembro cada beijo que eu te dei!
Eu lembro cada beijo que eu te dei!
Só pra lembrar, só pra lembrar, só pra lembrar - mais um!
Eu nunca esperei me encontrar, com você nesse lugar
O que você tem feito? Como vão seus pais? Vamos sair para jantar.
O quê que eu tô dizendo? Eu não acredito! Olha o microondas!
Desse jeito, requentando, eu sei que não existe nada pra descongelar.
Flores que você traz pra me dar...
Eu não preciso disso pra lembrar.
Lembro cada beijo que eu te dei!
Eu lembro cada beijo que eu te dei!
Só pra lembrar, só pra lembrar, só pra lembrar - mais um!



Bidê ou Balde

Nossos alvos.

O perigo
de sabermos
quem são 
nossxs leitorxs 
é 
passar 
a escrever 
só pra elxs.



[pobre coração, quando o teu estava comigo era tão bom]

                                                                        renato russo

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terça-feira, 5 de junho de 2012

Porque eu não gosto dos Estudos Queer


Tirando a venda dos olhos, a luz incomoda, desconforta. Uma irritabilidade inevitável naquela luz invadindo meu corpo e me tomando... tomando o que eu tenho de mais seguro e estável: minhas verdades e certezas.
Os estudos queer tomaram de mim minha identidade. Arrastaram pela ladeira abaixo, desconfiguraram, decodificaram minha identidade fixa. Eu que adorava dizer: sou assim e vou morrer assim. Daí vem esses estudos queer e jogam na minha cara que não sou tão assim, assim, e falam de trânsito, de fluidez.
Foi com estudos queer que descobri que minha tão sagrada heterossexualidade não é natural. Isso mesmo, eu não nasci hétero.  Aliás, esse conceito de heterossexualidade foi construído e reproduzido e ainda me jogam na cara que é reproduzido por interesses de poder. A minha heterossexualidade então é só mais uma possível sexualidade e que, mais profundamente falando, sequer existe uma só heterossexualidade, existem várias formas de vivenciá-la.
Os estudos queers também me proporcionaram um grande desgosto em saber que o mundo não é divido em azul e rosa. Era tão mais fácil: menino azul e menina rosa. Lógico. Mas não, meninos não nascem gostando do azul, dos carrinhos e das bolas, nem as meninas das panelinhas e dos bebês que trocam as fraldinhas. Eu ensinei isso para meus filhos. Eu, o desenho animado, o coleguinha, a escola, e todos os presentinhos bem intencionados construíram o gênero de meus filhos... e eles nem eram nascidos quando isso aconteceu. Lá na ultrassonografia, quando o médico disse: é menina! E minha casa virou um grande mundo rosa e todos os amiguinhos dela seriam possíveis namoradinhos.
Foi muito frustrante saber que, por trás de meu comportamento moderninho, tinha um bocado de discurso autoritário e ao mesmo tempo obediente às normas, que me achava autorizada a não aceitar que dois homens se beijassem na frente de meus filhos. Os gays podiam existir, eu deixava,  já não era o bastante?  Não, os teóricos queer me comprovam que na verdade eu vivo da forma que eu nunca concebi: desejando a norma. Mas o pior de tudo foi depois me mostrarem que essa norma hegemônica incide sobre os mais subversivos dos seres. Comigo não seria diferente. E eu, politicamente de esquerda, sempre antenadíssima nas mazelas sociais, sempre... estava confortavelmente reproduzindo.
Mas o mais destruidor pra mim foi parar de rir das piadas, não achar mais graça do que me é abjeto, aquele riso perverso, gostoso de dar à custa da abjeção alheia, que tanto me fortalecia e que garantia minha supremacia e agora não tem mais força. Meus amigos de infância eram tão doces, bonzinhos, divertidos, compartilhávamos de quase tudo. E hoje nada mais. Minhas amigas de sempre, de guerra, de risadas, de aprontes ocupam um interminável espaço de um dia no ano de encontro, e nesse dia os comentários machistas, sexistas, homofóbicos, racistas, preconceituosos, simplesmente não me deixam gostar de estar ali.
Meus ouvidos estão sensíveis a tudo: música, poesia, teatro, novela, filme, nada me escapa uma análise crítica do discurso. A minha banda preferida virou “A melhor banda heteromonogâmica do Brasil” e tem passado por duras análises.
Minha índole pacifica e tolerante, que me fazia ser de tão fácil convivência, os estudos queer detonaram e fizeram de minha docilidade um arsenal desconstrutivo contra toda e qualquer injúria e tentativa de aprisionamento de identidades.
Eu estou impossível. Como posso gostar dos estudos queer? O que fazer agora diante de tanto mal estar? Como volto para minha zona de conforto? Qual escola dará conta de tudo que quero que meus filhos não sejam? Como usufruirei tranquilamente de meus privilégios por aparentemente estar dentro das normas de gênero e sexualidade? Quem dará conta da minha inquietude? Hein, Estudos Queer?