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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

o silencio do tempo ruidoso

2015 foi realmente um ano tumultuado. E eu nem posso me queixar. Entre tantos caos, o meu foi o mais leve. Passei o ano tentando respirar. Em todos os sentidos, inclusive sintomático, na carne.
Um ano de correria. Um ano de força. De começar a organizar a renascença.
Um ano de superar os limites e não gostar disso.
Ano de conquistas e de repensá-las. Ano de esfriar,e  ser fria. Ser fria pra não virar sofria.
Foda. Desde agosto pra cá aconteceu o mundo. Desfazendo Gênero , fazendo afetos, desfazendo malas, refazendo a vida. Muita coisa mesmo. E eu sei que deixei de registrar tudo aqui, pq aqui era um lugar muito lá e eu precisava ser fria. E calcular. Bem do jeito que eu não gosto, mas sei ser.
Perdi de escrever tantas coisas aqui, e escrevi tantas coisas em mim.
Recebi pedido de desculpas, me perdoei.
Recebi abraços fortes
e dengo de meus orixás. mimos durante todo o ano. Eu mereço.
Faltando um mês exatos para eu ser apresentada publicamente como filha de santo, só penso nisso. Só penso em tudo que vai acontecer lá, que eu não sei, e que logo mais saberei.
É assim que me despeço de vc 2015. Obrigada por me poupar, diretamente,  do caos.
em 2016, quero me reconhecer. Estarei muito mais aqui. Tenho certeza.


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

a beleza da tristeza

Acho que fazia quase um ano que eu não chorava de saudade.

Hoje, depois de semanas sequenciais de correria, abri o computador sem nenhum compromisso.E reli algumas coisas, e vi seu rosto, e ouvi sua voz, e ouvi nossa musica. E a voz de Renato sabe maltratar em A tempestade. Eu ouvi querendo botar pra fora, ninguém que conheça Renato, do jeito que eu conheço, ninguém que sinta Renato do jeito que eu sinto, vai simplesmente clicar em A tempestade com a ilusão de que vai sair intacto. Eu sabia onde estava mexendo. Eu tava querendo matar a saudade, mas quem me mata é ela. É uma daquelas músicas que precisa de hora e local pra ouvir. Só que é um cd completo. E cada musica que ia passando vinha tudo como avalanche,e eu via vc , e sentia seu cheirinho, e nossas risadas, e sabia que não devia chorar.... mas foi inevitável, a saudade é inevitavel, a dor da ausência é inevitável.

Quando cheguei em via lactea, terminei de raspar o tacho e consegui me recompor. Depois de ouvir todos os segundos da música e imaginar vc ouvindo ela nas tardes mais dolorosas de sua vida....Porque nunca mais um sonho? Venha me ver meu amor, por favor.

o que ficou da tarde? uma bela dor de cabeça por excesso de lagrimas e.... Leila. Que de nós só não tem o nome,

Estou pensando em você
Quero lhe ver
Mas nesse horário você deve estar
Pegando os filhotes no colégio
Depois chegar em casa
Ver o resto de tudo
E quando vem o silêncio
Fumar unzinho e ouvir Coltrane
Não faço mais isso mas entendo muito bem

Adoro os teus cabelos
Adoro a tua voz
Adoro teu estilo
Adoro tua paz de espírito

O encanador te deixou na mão
Tem reunião do condomínio
O telefone não dá linha
E o chuveiro tá dando choque
Tem uma barata voadora no quarto das crianças
E os monstrinhos estão gritando alucinados
P'rá eles tudo é diversão
Mas você sabe o que é ter pavor, pavor, pavor
De baratas voadoras

E você diz daquele seu jeito:
- Ai, eu preciso de um homem! -
E eu digo: - Ah, Leila, eu também! -
E a gente ri

Você monta suas fotos prá exposição
Promete trabalhar mais com o computador
E terminar seu vídeo até setembro
Ter que pegar o carro no conserto
Ver a conta do banco, cartão, IPTU
Sábado vai ter peixada na Analú
E domingo, cachorro-quente com as crianças na
Fernanda

Adoro teu olhar
Adoro tua força
E adoro dizer seu nome: Leila
Às vezes as coisas são difíceis, minha amiga
Mas você sabe enfrentar a beleza dessa vida
Adoro dizer seu nome:
Lei.....la, Leila


"e quando vc voltar, tranque o portão, feche a janela, apague a luz e saiba que te amo..."


terça-feira, 28 de julho de 2015

primeiros erros

Capital Inicial me acompanhou numa fase muito doida de minha adolescência, e só por causa dessa música, e meu desejo sexual inexplicável por Dinho Ouro Preto, e quando escuto ela de novo, assim, por acaso, acordando, eu penso: quando vou desadolescer? quero?



Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde vou
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo os meus passos no chão
Se você não entende não vê
Se não me vê, não entende

Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende
Se o meu corpo virasse sol
Se a minha mente virasse sol
Mas só chove, chove
Chove, chove

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria ar
Mas só chove, chove
Chove, chove

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria ar
Mas só chove, chove
Chove, chove

Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria ar
Mas só chove, chove
Chove, chove
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria sol
Mas só chove, chove
Chove, chove


segunda-feira, 27 de julho de 2015

descompasso

já entendi. O ritmo é esse. Eu pensava que era coisa de um mês ou outro, nem vou profetizar aqui que agosto será um mês mais tranquilo pq eu sei que não será. Julho foi pra intensificar meu axé e minha força. todos os finais de semana de julho eu estive na roça, absolutamente todos. Em todos, eu dormi lá. Eu não sei na verdade o que seria de mim se não fosse isso, e sem dúvida foi o melhor que me aconteceu. Mas agora eu preciso de um final de semana pra me colocar em ordem, dormir, infinitamente , sem hora pra acordar....e depois preciso de outros  pra me olhar no espelho, pra fazer uma unha, pra tomar um pingo de sol em algum lugar, pra ir no jazz que tanto gosto, pra bater um cabelo com a minhas beeshas!

Fora isso, filho doente, prazos vencendo, finalização de projeto, e vésperas do evento do ano. É babado. Mistura tudo ai e dá minha cara com olheira, zumbi, louca de sono....

Se o filho não estiver mais doente já ajuda bastante.

Minha casa sente minha falta, das paredes às gatas, e eu sinto delxs.

Vem a-gosto, termine de me enlouquecer. Agosto é mês de luto. Dois anos.

domingo, 12 de julho de 2015

7a.

me risco de mim, de minhas historias, meus amores, minhas dores, e vai ter mais, muito mais. Serei uma velha riscada, toda.



O presente:"Todo amor de uma mãe. Pela vida , pelos filhos , pelo ser humano , pelo trabalho, pela religião e pelo respeito. Muito obrigada minha irmã pela generosidade das palavras , pela fraternidade de mais um encontro. Muito respeito."by Nely tattoer 

quinta-feira, 9 de julho de 2015

julho já.

eita que junho passou que eu nem consegui vir aqui. Minha vida deu uma escarreirada no ritmo de trabalho que eu - como há muito não acontecia- sinto medo da velocidade das coisas. Tenho tentado me concentrar pq a sensação que eu tenho é que posso acabar meus pés pelas mãos.
Concentração seja em qual nivel for é sempre um problema pra mim.Inquieta, impulsiva, qualquer vacilo já virei a esquina e deixe para lá. E aí, depois só embola tudo. Tenho mesmo ficado assustado com o volume de coisas que tenho assumido e a velocidade do tempo me desorientando.... e olha que aqui quem vos fala é uma pessoa que gosta e só sabe trabalhar sobre pressão, no ultimo momento do prazo, sempre com a certeza de que vou conseguir e que vai dar tudo certo.... a pois, tenho sentido medo.
Com isso muitas coisas se re+des+organizam em mim. Eleger prioridades sempre me convoca a pensar menos e tender não mexer nas coisas.
Passei dez dias fora da rotina, fora dos eixos, fora dos horários e dos limites. Sem freios. Conhecendo, e fazendo oq mais amo nessa vida, ver a vida dos outros. Sentir outros modos de vida. por lá muito frio, muita tentativa, muitos sentimentos, e controvérsias.
Ainda não tenho os efeitos práticos dessa viagem, mas sei que quando estamos longe e fora do que nos é dito como real, tudo parece mais facil e tranquilo, e de certa forma, quente, por maior que seja o frio.
Agora, vem um mês cheio de ocupação no axé, o que é muito bom que quando estou perto de minhas entidades, trabalhando por elas, sinto que posso decidir melhor todas as coisas da minha vida. Cada noite sem dormir trabalhando por elxs, cada bicho tratado, cada cabeça batida... preciso disso, mesmo.
Nesse mês coisas importantes vão acontecer por lá, e recebi algumas respostas praticas sobre muita coisa, Meu Pai Ogum, se fazendo presente e me dizendo que ta tudo bem. Eu sou só gratidão pro isso. Essa minha semana tem sido louca, louca, louca, cheia de pepinos de trabalho e com uma rotatividade de novidades que tá demais pra mim.
Mas está tudo bem. Estará,

Em fim, lá vem a próxima semana, mais leve, por favor!!!

domingo, 31 de maio de 2015

31

Que mês gigannnnnte foi esse? A ultima vez q tinha vindo aqui foi há 20 dias atrás e parece que foi 40.  Filho completando 6 anos, e outro dias era um recém nascido e eu uma mãe toda querendo me encontrar. Mês de aniversário dos meus parece sempre um mini inferno astral meu. Agora as coisas tendem a se acalmar e eu consigo me concentrar de novo nos meus afazeres.

Meu janjão é uma criança linda linda linda. Toda mãe acha seu filho lindo lindo lindo... mas poxa, eu sou professora, de crianças da mesma idade dele, convivo diáriamente com elxs e não é muito dificil ser espertinha e perceber que meu filho é uma criança muito bacana. Jão tem uma sensibilidade espantosa e isso o fortalece incrivelmente. Ele parece ter discernimento sobre coisas que me assusta e as vezes me pego infantilizando ele para poupá-lo das dores do mundo, que ele parece sentir com tanta honestidade.Ele é minha paixãozinha. Aquilo de amor eterno, bem romantizado.

Mas vamos aos fatos praticos da vida. A Ufba entra em greve e me desanimo um bocado. Eu acho que necessária e apoio completamente, mas enquanto aluna é beeeem chato me ver em janeiro lá . Vou nem pensar nisso... até porque tenho planos de estar recolhida para minha obrigação e não pretendo abrir mão disso. Bem, entrego aos orixás.

Junho chegou, e as minhas cobiçadas férias juninas chegam junto. Não vai ser um período de descanso, uma viagem de descanso, vai ser uma viagem principalmente de desconstruir. Desconstruir dói e dá trabalho, então, não faço ideia de como voltarei de Buenos Aires. Serão dez dias para me desfazer de muitas coisas muito grandiosas que eu espero saber fazer com muita cautela e amor.

Descanso na verdade eu acho que só terei agora quando entrar para fazer a minha obrigação em janeiro. Até la a vida tende a ser a 200 km/h, com direito a tempestades e terremotos de proporções grandiosas. Quem puder e quiser que se segure. Entrarei para meu recolhimento em uma fase completamente desconhecida para mim e vai ser muito bom ficar longe de tudo.

Eu to assim, esperando a ventaia chegar e fazendo ela acontecer.

Vamo ver como a coisa se desenrola. O de sempre para mim: amor, amor e amor para tomar as melhores decisões e encaminhar a situação da melhor forma possível.


Que venha junho com a Feijoada de papai Ogum dia 13,  e a fogueira de Xangô, pra derreter todo gelo que vai estar por perto de mim.Ogunhê,!!!! Kaô Cabiecilé!





segunda-feira, 11 de maio de 2015

desfazendo maio

ô mesinho cretino viu?

Tinha tempo que n me vinha uma avalanche de coisa pra fazer de uma vez só, é só ver minha ausência aqui. A melhor parte de tudo, como sempre é a minha cachaça. O Cus. Iniciamos o Abrindo CUs, junto com isso a organização e comissão cientifica do Desfazendo Gênero, que tem consumido boa parte da minha lucidez, e ainda o Maio da Diversidade com 30 atividades e 2345678767897 palestras, que todo mundo resolve fazer neste mês, pra ser politicamente correto. Eu juro que não sabia que dava conta de tanta coisa junto. Bote aí algumas doses de surtada no final de tudo. Abrindo o Cus acaba nesse semestre e Maio "já está no final"...  vamo ver o que sobra de mim disso aí.

E aqui eu nem to falando de mestrado, filhos, macumba, flertes e amigos, nem to contando os amores e desabores, nem to falando das insônias pelas duvidas, pelas certezas e as vontades de me perder por becos e vielas, nem to contando as carteiras de cigarro que eu n devia ter fumado e todas as outras que excedi a cota diária. Nem to dizendo que furei todas as consultas medicas, e ortodônticas pq n tenho tempo para parar a vida nesse mês e cuidar dessas coisas q nunca são mesmo prioridade para mim.

Em fim, maio vai passar, mas antes de passar ainda sentirei um bocado de coisa, e fecho ele com aniversário do pequeno e o Enlaçando Sexualidades e visitas mil em casa. Aiai, toma aí distraída!

Tanta coisa assim, a vida acaba decidindo um monte de coisa por mim.








segunda-feira, 20 de abril de 2015

Se eu fosse Verônica

 

 
 
Eu não sei o crime que Verônica cometeu. Sinceramente eu não procurei saber. O que eu sei é que não faz a menor diferença diante dos fatos em questão. No último domingo (12), Verônica foi detida, após conflito entre vizinhxs, e na delegacia teve seu cabelo raspado, foi colocada em cárcere masculino e foi espancada. Após reagir à violência mordendo a orelha de um dos policiais que lhe agredia, Verônica foi oferecida à imprensa em condições desumanas, quando mais uma vez foi violentada. (Leia mais aqui, http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/04/15/em-defesa-de-veronica-bolina/ ).
O que é importante saber é que, se pudéssemos medir o tamanho do seu crime, e eu, mulher, branca, cis, classe média, tivesse cometido um crime duas vezes maior do dela, com certeza absoluta minha imagem não estaria estampada nos jornais, com quase todo meu corpo à mostra. Sem dúvida, a polícia pelo menos se preocuparia em esconder os meus hematomas, eu sofreria uma série de sanções sociais, além das jurídicas, por ser uma mulher criminosa. Mas provavelmente até marchas feministas estariam na porta da delegacia, mas eu não estaria violentada de forma tão escancarada, com o aval de toda uma sociedade. Disso eu tenho convicção.
Se eu fosse negra, a coisa estava mais complicada pro meu lado. Teríamos, com certeza, enquadramentos midiáticos horríveis, que naturalizariam minha aptidão criminosa de forma a fazer entender que é esperado que uma pessoa negra esteja ligada ao crime. Provavelmente meus advogados seriam menos interessados em mim, a polícia me trataria com o desdém racista, e eu teria muitos direitos infringidos. Mas, ainda assim, meu corpo não seria exposto nu, deformado por pancadas dessas policias. Caso, por algum ‘descuido’, acontecesse, os direitos humanos podiam até acionados.
Mas, para um corpo completamente abjeto, com o menor valor do mercado, a quem se aciona?
Verônica é travesti e negra. Quem é o Deus protetor dessas mulheres? Qual tipo de polícia é especializada para tratar com ela? Que tipo de assistência básica lhes é garantida? Que tipo de justiça lhe é ofertada? Que Direitos Humanos funcionariam a quem é cotidianamente desumanizada?
Se eu fosse a Verônica, porém cis e branca, e tivesse tirado um pedaço da orelha de um PM, para a metade a população eu seria uma louca a ser medicalizada, para outra metade eu seria até uma feminista resistente que chegou no seu limite para garantir sua sobrevivência.
Mas Verônica, é negra e travesti, e a sociedade, hegemonicamente, a lê como um monstro cometendo monstruosidades. A quem interessa?
Se importariam se eu, cis e branca, morresse na delegacia? Se eu aparecesse morta, quantos “menos um” seria dito sobre mim? Quantos acreditariam no que de fato aconteceu lá dentro? Verônica está presa, humilhada, torturada, completamente desamparada, e provavelmente deve estar lutando pela própria vida dentro da cadeia. Porque, desde os homens presos junto com ela, até os carcereiros, delegados, juízes, pouco se importam com a forma como se deu a prisão, a construção midiática em torno disso e sua repercussão.  Pelo contrário, esse é o corpo que pode e deve ser invadido, esse é o cabelo que deve ser arrancado, a unha que deve ser quebrada uma a uma, o batom que deve ser arrancado da boca debaixo de porrada, o seio que não merece poesia, o direito que deve ser negligenciado.
É didático, e muito doloroso, ler os comentários das reportagens cisexistas e transfóbicas, e compreender por quais mortes choramos, como sugere Butler: é verdade que todas as vidas deveriam importar, se a construção fosse essa, se as normatividades de gênero, sexualidade e raça não colocassem travestis no lugar máximo de abjeção e repulsa social. Mas não é, e sabemos que há uma potente escala de inteligibilidade que acessa nosso choro e sensibilidade, e é essa construção que nos deve interessar.
Talvez, ao desconstruir da hierarquização de inteligibilidade humana, as pessoas parem deslegitimar as identidades de gênero dissidentes e travestis deixem de ser apedrejadas, humilhadas, torturadas pela cultura fascista naturalizada. Talvez aí nos soe absurdo a cena de uma pessoa com as condições que Verônica foi apresentada pela polícia. E para a mídia a orelha do policial deixe de ser o que importa e escandaliza, e o caso passe a ser visto como um ato desesperado de revolta e sobrevivência de uma mulher sistematicamente violentada. E talvez aí as lágrimas pelas travestis comecem a rolar, o pronome feminino passe a ser respeitado, e seus direitos humanos básicos sejam garantidos.
Eu sou Verônicas, todos os dias. Pelo fim das brutalidades contra essas mulheres. 


Texto meu.
Publicado originalmente em Políticas do CuS

segunda-feira, 13 de abril de 2015

13 de abril


Então, hoje o dia foi doido. Eu cheguei as 7:30 atrasada na escola, e fiquei lá até agora, entrando e saindo de reunião. Mil vezes me perguntaram, - que data é hoje? Isso nunca acontece. Sempre sou eu a perdida que pergunta isso. E todas as vezes que me perguntavam, eu dizia, 13 de abril. E dizer isso era evocar uma série de sensações, umas domesticadas e outras não. E ai eu pensei. hoje é segunda-feira , dia de Exu, e 13. Muito mais doido que sexta-feira 13. Ainda mais sendo abril. 
Ainda mais.

E ai entre uma respirada e outra, eu olhava para o lado e via o tempo voando, a segunda indo embora e a minha de perspectiva de parar um pouco para cumprir o rito anual deste dia ficando mais distante. Esse ano passei o o dia bem consciente e nos intervalos entre uma fumaça e outra eu pensava em como a vida é linda e como os sentimentos nos fazem sentir mais ela. 

Não vai ser ainda esse ano que quebrarei o protocolo, continuo desejando o céu inteiro para vc, os sorrisos mais desajeitados, as gargalhadas mais impiedosas, as lágrimas mais justas, os sentimentos mais sutis e as memórias mais despretensiosas. Desejo, um rio de desejos, sinta todos, não os deixe passar. Espero que o controle remoto da minha mão, a direção do filme da minha vida esteja um pouco na sua, e que vc volte quantas vezes precisar. E que saiba que se apertar o pause o tempo continuará correndo, ainda assim. 
Nesse dia, eu quero estar mais perto de vc e estou. 
E lhe abraço bem forte, e te olho profundamente até o infinito, e vejo vc lá, sentado na praia, levando Renato muito a sério, como deve ser.
Que Exu esteja em seu caminho, e lhe oferte tudo que ele tem de melhor: vida. 

A palavra “Exu” significa, em ioruba, “esfera”, aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é o principio de tudo, a força da criação, o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula master da geração da vida, o que gera o infinito, infinita vezes.
É considerado o primeiro, o primogênito; responsável e grande mestre dos caminhos; o que permite a passagem o inicio de tudo. Exu é a força  natural viva que formenta o crescimento. É o primeiro passo em tudo. É o gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir.
Exu está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos que carregam, em seu plexo, o elemento dinâmico denominado Exu.
É  aquilo que no candomblé  chamamos de Bára, ou seja “no corpo”, preso a ele. É o que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem  o elemento Bára, a vida sadia é impossível. Sem ele, o homem seria excepcional, retardado, impossível de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de vida..
Realmente, Exu está presente em tudo. E damos como  exemplo inicial a concepção da geração da vida. O membro ereto do macho tem a presença de Exu- aliás, em terras da África, o membro rijo é o símbolo da vida, o símbolo de Exu - ; a penetração na fêmea, tema a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozóide dentro da fêmea, é regido por Exu; também na fecundação do óvulo  Exu está presente. E quando a primeira célula da vida esta formada, a presença de Exu se faz necessária. Já na multiplicação da célula, a regência passa por Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.
Exu também está presente no calor, no fogo, na quentura. Presente se faz nos lugares poucos arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios.
Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo. Está presente no medo, no pavor, na falta de controle do ser humano. Também está perto na gargalhada, no riso farto, na alegria incontida. Para nós brasileiros, amantes do futebol, Exu está presente no grito de “gol”, que soltamos de forma feliz e nervosa. É o desprendimento do nervosismo contido no peito.
Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de idéias que temos. É a invenção,  descoberta. Exu é  o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreadas e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos ba´sico. Aquele que ludibria, engana, e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz a dor e a felicidade.

Exu é a força que atua sobre o negativo de qualquer pessoa tentando equilibrar essa ação. É aquele que faz o erro virar acerto e o acerto virar o erro. É aquele que escreve reto em linhas tortas, escreve torto em linhas retas e escreve torto em linhas tortas.
Mesmo nos momentos em que nos vemos no meio do caos, Exu sabe fazer com que a ordem prevaleça. Exu não gosta de displicência e de injustiça, não aceita nada mais e nada menos do que lhe é de direito e de dever.

Um bom presente de aniversário: 

domingo, 5 de abril de 2015

março se foi,

e que seus estragos permaneçam intactos.  Era preciso. Essas duas ultimas semanas de março me levaram tudo que eu tinha de certeza do controle em minhas mãos. Eu preciso disso. Eu preciso passar por essas coisas para parar de me iludir com esse sentimento cretino. 

No final, que tá longe de ser o fim, deu tudo certo. E eu sei que dará, pq é assim mesmo,  a vida, sempre nova, acontecendo de surpresa. Afinal, o mundo seria um caos sem músicas, poesias, e literatura não é? Aprendi assim.

Eu fiquei muito triste, e sem saber por onde reorganizar a vida, e os sentimentos, mas hoje, apesar do medo, eu tenho mais é que agradecer a meus orixás e que , em nenhum momento deixaram de estar comigo, pelo contrario. Me presentearam com a possibilidade de sinceridade e a oportunidade de sentir os melhores sentimentos.
Tá tudo certo, tudo bem. 

E Tempo será meu guia. Iroko Issó! Eró!Iroko Kissilé!!! “O TEMPO DÁ, O TEMPO TIRA, O TEMPO PASSA E A FOLHA VIRA” Que Zara Tempo, que Tempo Zará, Olorum Modupé!

Quero outras semanas, com tão pouca santidade, e tanto axé e buniteza, ...tanta sobra de afeto. Quero o cuidado deles e a presença sua, sempre que possível,e quando impossível seja também, presente. 


Então, não desista de mim, vida. 


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Você se lembra

Entre as estrelas do meu drama
Você já foi meu anjo azul
Chegamos num final feliz
Na tela prateada da ilusão
Na realidade onde está você
Em que cidade você mora
Em que paisagem em que país
Me diz em que lugar, cadê você
Você se lembra
Torrentes de paixão
Ouvir nossa canção
Sonhar em Casablanca
E se perder no labirinto
De outra história
A caravana do deserto
Atravessou meu coração
E eu fui chorando por você
Até os sete mares do sertão
Você se lembra..

Geraldo Azevedo

domingo, 29 de março de 2015

dos processos teurapeuticos curativos

hoje é domingo, nesses dias, minha casa costuma ter sempre gente, alguém sempre bate aqui pra almoçar, quando não é assim estou enchendo a casa de alguém com todos os meus excessos.
Estou em dias tão delicados de minha vida que me forcei a solidão. Aproveitei o vazio da casa para sentir as coisas. Coloquei minha lista de musicas fossa, e mergulhei na cozinha. Minha cozinha virou meu quarto. Entre cigarro, musicas e tempero resolvi cuidar de mim. Resolvi sair da cama, e ir enfrentar a cozinha. E como foi terapeutico. Cozinhei para mim, so eu ia almoçar, normalemnte em dias assim eu nem como.
Enfrentei as dores, eu, a faca e a tabua de temperos. moí tudo no liquidificador, coloquei sal sem pensar no gosto alheio, coloquei a quantidade de pimentão que eu achei necessária.
Isso foi tão bom. Eu me vi colocando a mesa para mim, ouvindo a musica que eu queria no volume que me agradasse.
Pensei, senti, parei de cortar tudo, falei com amores gaúchos, fiz tratos comigo, estipulei metas, descumpri regras , puxei a cadeira que gosto para dentro da cozinha e me melhorei.
Não sei até que horas,mas sei que serviu para eu pensar em mim. De forma bem egoista mesmo. Eu detesto não reconhecer meus sentimentos. Quando eu me vejo tumultuando tudo é como se eu tivesse me boicotando. Eu sei que se eu parar um pouco para ver, para escutar e sentir tudo, as coisas vão ficar menos turvas.

Em fim, cozinhei para mim, no meu tempo, com meu tempero, e cuidei de pensar em tudo, e me permiti sentir meu caos e me assustar com ele. A solidão é uma coisa poderosa quando se escolhe por ela.

Eu, meus alhos e minha fumaça fomos felizes no meio de tão poucas risadas.

Ele sempre comigo, me acompanhando nos mais doidos devaneios, o nome da musica é um detalhe importante, Obrigada Renato!

"Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.
Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos."


sábado, 21 de março de 2015

pessoas necessárias

Hoje recebi em minha página um link que me fez pensar em pessoas necessárias.

Recebi o link de Carlos Bonfim. Professor de primeiro semestre no Bacharelado. Foda. Ele foi responsável por tirar vários panos dos meus olhos. Ainda posso ouvir sua voz marcante e suave, necessária. Nutri inclusive uma paixão platônica por sua pessoa. Mas platônica mesmo, ele nunca soube, se soubesse acharia graça. Eu tentava disfarçar e não tinha a menor pretensão de levar aquilo para além a abstração. Ainda guardo uma copia do email que chegou até mim,  onde ele me indicava a uma professora para participar de seu grupo de pesquisa, e se referia a mim como uma das alunas promissoras do IHAC. Todos os dez que e me deu em sua aula de Estudo das Culturas, não me deixaram mais feliz que suas palavras naquele e-mail. 

Foi através dele que conheci projetos e pessoas sensacionais. O projeto Sarau bem black , do gigante Nelson Maca. Foi ele que levou nossa turma numa quarta-feira de noite lá no Sankofa African Bar, para jogar na minha cara como eu não sabia de porra de nada da vida. Eu ainda amamentando meu pequeno João, tão longe de outras socializações, lembro claramente o que senti quando entrei naquele lugar, era o véu caindo, era a vida sorrindo e pisando, era a muita coisa prum semestre só... eu tinha era que ter uns 6 semestres com aquele homem que me desconstruiu toda. Que não me avaliava em números e me levava para conhecer a produção cinemátográfica de Bollywood, e fiquei envergonhada da minha cegueira. Foi ele quem me levou pro hip hop, e me disse suavemente que eu precisava ir ao Equador. Ainda irei.
Carlos é necessário em toda universidade, é necessário em todas as vidas, e seu projeto não diferente dele é incrivel, e tai bombando. Adoro voltar dos lugares ouvindo Latitudes Latina no carro, mato a saudade dele.

Carlos é o tipo de homem que foge os estereótipos, todos, de autoridade enquanto professor, de masculinidade enquanto homem cis, enquanto produtor de conhecimento. Ele de fato borra diversas fronteiras, e isso o deixa por demais interessante. 

A história de vida de Carlos é incrível. E ele tem tanta suavidade em ser, e parece ser intelectualmente tão honesto, que não é surpresa nenhuma ouvir sua voz hoje em uma das rádios mais potentes de Salvador, não é surpresa nenhuma ver o o projeto Latitudes Latinas ocupando diversos espaços. Muito bom perceber nossas afinidades na perspectiva pós-colonial, e perceber que cruza completamente com meus interesses em estudos de gênero. Eu me identifiquei por demais com os saraus do Latitudes organizados no sebo, achei sensacional o encontro de pessoas latinas ao som de suas musicas... aquele povo é demaiiis! 

Eu lembro de ter tomado um breve café com ele em letras há uns 3 anos atrás e ter lhe dito de meus projetos em gênero e sexualidade, e ele disse que sabia de minhas pesquisas e que torcia pela minha entrada lá no PósCult. Disse isso tão honestamente que pensei em levar a diante aquela ideia maluca de colocar um mestrado em minha vida. Fique animada em saber que ele seria meu professor de novo caso  eu entrasse no poscult e ainda estou no aguardo de me ver trocando outra ideia com ele e outrxs colegas na mesma sala de aula. E nunca mais falamos, nos vemos brevemente nos lugares de interesse comum, mas sempre com muita gente e som, dois beijos e tchau. Até eu passar no mestrado, quando ele me mandou um email muito do gentil dizendo que tava muito feliz com minha entrada lá e que sabia que em breve seríamos colega. Espero ter várias oportunidades de agradecer suas singelas palavras de sempre e sua doce desconstrução em minha vida, eu acho que eu nunca disse a ele de sua importância na minha formação e como tudo fez sentido quando ele me ajudou a entender a contra-cultura e cobiçar a subalternidade. 

é isso, mais Carlos, por favor. 

Sarau Bem Black

quarta-feira, 18 de março de 2015

Pequeno mapa do tempo


Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião
Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão
Medo, medo. medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo que Belo Horizonte
Eu tenho medo que Minas Gerais
Eu tenho medo que Natal, Vitória
Eu tenho medo Goiânia, Goiás
Eu tenho medo Salvador, Bahia
Eu tenho medo Belém, Belém do Pará
Eu tenho medo pai, filho, Espírito Santo, São Paulo
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá
Eu tenho medo Estrela do Norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará
Medo, medo. medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo e já aconteceu
Eu tenho medo e inda está por vir
Morre o meu medo e isto não é segredo
Eu mando buscar outro lá no Piauí
Medo, o meu boi morreu, o que será de mim?
Manda buscar outro, maninha, no Piauí

Belchior

tempo, tempo, tempo



"Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo"

É tão bom ter a quem recorrer, é tao bom entrar nessa estrada e seguir em frente , até passar aquele posto de gasolina e entrar naquela rua. Minha alma já começa se aquietar, tudo que não importa vai embora, fica só o que eles deixam. Viro aquela esquina, e tá lá minha vaga, e eu desço quase louca, se eu virasse no santo tenho certeza que não conseguiria entrar no terreiro sem ele. Quado buzino naquela porta só quero estar lá dentro e deixar o mundo todo lá fora. Quando eu tomo aquele banho já estou ali por completo,e eles sabem que eu estou e desafogam meu coração. Acho que pela primeira vez fui chamada com toda força que eles puderam. Quando eu bato minha cabeça nos pés da minha mãe tenho certeza que a tremedeira era a falta, e aí recebo aquele abraço apertado, aquele olhar acolhedor e aquela força de quem tem super poderes. E pouco preciso dizer. Entramos e entendemos as urgências. Era aquilo, de sempre, cuidado com as pessoas, cuidado com os corações, calma, calma, muita gente em volta. Respira, entenda o tempo das coisas. Deixa de ser burra. Assim vc estraga tudo. Uma Oxum, dois Xangôs, uma Iansã, dois Oguns e alguns Exus. Babado, confusão e gritaria, é muito trabalho espiritual, muita reflexão, muita experimentação, crescimento espiritual. O aprendizado foi de cuidar muito disso, com paciência e fé, muita fé. 

Eu tenho muito o que agradecer a meus guias, tenho muito o que dizer que os amo, tenho muito o que trabalhar por aquele lugar e dar o melhor de mim, pq eu não tenho dúvidas que sou privilegiada de ter um lugar para ir, sempre , todo os dias, para sempre. 

Esse também é um post para dizer que dar certo é isso, fazer dar.  E que eu tenho é muito muito amor dentro mim, tanto que canto alto mais alto que nunca Belchior. 








domingo, 15 de março de 2015

Minha mãe de santo me contou

...e não é só um.

"Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão"


terça-feira, 10 de março de 2015

Acontecerá

Nosso Pequeno Castelo

O Teatro Mágico

Já longe de tanta fumaça
Menina que manda seus beijos com graça
Me faça rir, me faça feliz
Sentada na areia, brincando com a sorte
Não chove não molha
Não olhe agora, estou olhando pra você
Não olhe agora, estou olhando pra você
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Anoitecerá
Na estrada o farol de quem se foi
Já não ilumina quando te beijar
Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz
Já longe de tanta fumaça
Menina que manda seus beijos com graça
Me faça rir, me faça feliz
Sentada na areia, brincando com a sorte
Não chove não molha
Não olhe agora, estou olhando pra você
Não olhe agora, estou olhando pra você
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Me faça um gesto, me faça perto
Me dê a lua que eu te faço adormecer
Anoitecerá
Na estrada o farol de quem se foi
Já não ilumina quando te beija
Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?
No nosso livro, a nossa história
É faz de conta ou é faz acontecer?

domingo, 1 de março de 2015

A vida é uma piada

há alguns anos atrás, uns 4 talvez, liguei para minha amiga, dizendo que tava afim de dar uma saída, ia ter Jorge Benjor no Pelourinho e  eu convidei ela pra ir comigo. Ela rapidamente me respondeu: -Quem é esse?
 
E eu do alto da minha arrogância pseudo-intelectual , pensei: meu Deus é sério que eu vou ter que explicar isso? Ela ta de sacanagem comigo né? só pode!
 
De fato nós duas sempre tivemos muito pouca coisa em comum em nossos gostos e história de vida. Nossa amizade forte sempre se deu por uma força quase que espiritual, uma afinidade astral que foge do campo da razão. Para ser mais sincera, tinha tudo para dar errado, para ser o contrário, pra gente se olhar na rua pensar como é bom manter a distancia de 'certo tipo de gente'.
 
Mas não foi. Talvez a idade que a gente se conheceu, nossas experiências toxicas tenham nos favorecido um contato com mais desprendimento.
 
Fabi sempre foi a menina criada com a  vó rica, e eu sempre fui a menina criada pela mãe solteira muito doida e pobre. Eu desde sempre precisei me virar na vida e trabalhar desde muito cedo, ser participativa na nossa casa e fazer escolhas dolorosas. Fabi não sabia como o botijão de gás aparecia na cozinha, e me ligava em desespero quando se via numa situação, 'inusitada', dessas, Quase sempre eu ria e ajudava ela a resolver seu grande problema, não sem esculhambar ela todinha.
 
A barra pesou pro lado dela quando com 16 anos engravidou. O bicho pegou de verdade. Dentro do campo financeiro nada preocupava. Nunca preocupou. Mas ela tinha 16 anos, estávamos no cientifico, fumávamos maconha todos-os-dias-da-vida. Vivíamos na praia, e criança era a única coisa que não precisava acontecer aquela época. Ela abriu a porteira da maternidade de nosso grupo diverso de amigas. Era bem surreal pra mim que aquela menina magrela ia ter um bebe na barriga.
Lipinho nasceu saudável, numa noite de carnaval, de parto normal, e foi para o braço de uma menina que não sabia o que fazer com aquilo. Eu só teria minha primeira filha 4 anos depois de Lipe ter nascido. Muito possivelmente nossa amizade se apoiou muito dessas intercorrências. Uma vez um rapaz muito do querido me disse que as relações se sustentam das intercorrências e adversidades da vida. Um tanto pessimista, mas eu tendo a concordar com ele.
 
Bom, com Fabi vivi coisas indizíveis, já com Lipe nascido. Dividíamos muitos segredos. Foram muitos verões na Praia do Forte experimentando a sexualidade e os limites do corpo com excessos. Foram muitas festinhas, muitos atraques e fechações. Éramos bem abestalhadas, é verdade. E tínhamos certeza que não. Sorte grande ter dado tudo certo.
 
Ainda assim nossas diferenças eram gritantes, e quando elas berravam entre nós as conversas eram longas e produtivas. Eu sei que eu sempre assustei Fabiana, e eu bem da verdade, gostava de tirar ela da zona de conforto  e fazê-la pensar de outras formas. Eu era muito menos arrogante que sou hoje, mas já exercitava meu poder dessa forma desde cedo.
 
Depois que eu tive minha filha é que fui verdadeiramente descobrir o coração de Fabi. Que pessoa linda! Foram dias de muita dificuldade , de todos os aspectos e ela foi sempre sensacional.
 
Ontem, uns 18 anos depois da gente ter se conhecido... Fabiana casa. Um casamento que sempre sonhou. Um casamento que eu acompanhei de perto desde seu sonho até sua realização... com um cara que foi um alivio para todas nós hahahahha. Fabiana me contou tudo, exatamente tudo sobre o casamento...Fabiana sabe meus gosto, Fabiana sabe que entre o trio de psirico e os trios alternativos eu estarei fora das cordas... Fabiana me lê de trás pra frente... mas foi incapaz de mencionar a possibilidade do tio dela estar na festa e fazer um show. Tio esse, que sempre fui fã e só descobri que era seu tio, depois de 15 anos de amizade e uns 15 carnavais juntas, no enterro de seu avó, o querido Vô Dudu.
De repente Armandinho estava no palco. Como assim amiga?
Eu só olhei para ela de longe, tava ela lindérrima,  toda de branco , e eu de cá, bêbada, cai em mim. Essa é Fabiana. Armandinho não significa nada para ela além de um parentesco. E aí que ele Dodô e Osmar criaram o trio eletrico??? hahahah Ela tá lá de costas para o palco torcendo que aquilo acabe e desejando que o Dj toque PararaTibum, hahahah e como eu amo ela. Como eu amo sentir ódio dela por estar surpresa que Armandinho está no palco...
 
 
Resultado, bebi aceleradamente de euforia. Bebi como se fosse a avenida. Carnavalizei tudo de novo. Já estava em outra dimensão.. quando comecei a olhar para Fabiana e para o palco e perceber como é linda a diferença.. como somos mais lindas ainda  de sobreviver a ela durante todos esses anos.  Gritei , dancei, xinguei ela com aquele vestido branco lindíssimo e me rendi a seu dia, fui até o chão com ela, e nos divertíamos como há muito não fazíamos. Joguei minha dignidade no lixo, tirei todos os discursos higienizantes de meu corpo (são bem poucos), cantei Jorge e Mateus sem saber a letra , agarrada com ela, dancei "eu vou, eu vou, sentar agora eu vou" de forma erótica e chutei todos os baldes.
 
O casamento foi muito mais que uma celebração de amor, em mim tiveram outros efeitos.
 
E quando me vi, estava com 33 anos, dançando trenzinho da sacanagem com Armandinho, que desceu do palco e decidiu rasgar rua dignidade junto com a gente.

Ela é que é feliz.

E eu estou aprendendo.






segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

do que é bom de matar

sau.da.de 
sf (lat solitate1 Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas. 2 Nostalgia. Ornit Pássaro muito atraente da família dos Cotingídeos (Tijuca atra); assobiador. Bot Nome com que se designam várias plantas dipsacáceas e suas flores; escabiosa. Bot Planta asclepiadácea (Asclepias umbellata). sf pl Lembranças, recomendações, cumprimentos. S.-da-campina: o mesmo que cega-olho, acepção 1.Saudades-de-pernambuco: o mesmo que jitirana-de-leite. Saudades-perpétuas, Bot: planta da família das Compostas (Xeranthemum annuum).





"E é só você que tem a cura pro meu vício

De insistir nessa saudade que eu sinto

De tudo que eu ainda não vi." R.R







ouvir vozes

aí a pessoa que todos-os-dias-da-vida acorda sofrendo as 5 da manhã, um dia acorda as 4 para ouvir vozes.

só pode tá louca. Essa sensação de não reconhecimento eu já conheço. Em outras proporções e outras potências.

A coisa é grave. Sempre é.

Se tratando de mim todo cuidado é pouco. Preciso me lembrar disso.

O barulho da voz é como um chamado antigo, como se tivesse o tempo todo ali, me esquizofrenizando, me forçando uma lembrança que eu não vivi. E aí eu olho tudo em volta tentando me encontrar no quarto escuro, sem esperar o chato do despertador fazer seu cretino trabalho de me acordar  e preciso vir escrever. Preciso ser ouvida tb. Será que minha voz chega nos lugares também?

Será que estou ha muio tempo sem ir pro meu axé? será que uma noite de sexta feira para arriar um ebo pra meu Pai acalmaria meus ouvidos?

Meu parceirinho, meu João, tão ligado a mim, acorda junto comigo e me faz perguntas metafisicas complicadissimas e atemporais para seus curtos 5 ano. O que me deixa mais inquieta.

E aí, ao som do Discovery Kids, o maldito do despertador toca cumprindo seu papel de me lembrar o dia comprido que vai ser hoje, e que estamos em 2015. Isso aí, 2015 é impar.

Me vem na cabeça que talvez seja medo de avião. Eu preciso parar com isso, Um capuccino ajuda, sempre tenho em casa, pros dias de frio e vozes.





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

me deixe dormir


carnavalizei-me

7 dias
era mesmo pra ser 7

encontros e desencontros, de sempre e quase nunca. Aqueles abraços de quem espera o ano todo.

Pelo primeira vez eu passo carnaval inteiramente entregue a mim mesmo. Eu não retribui olhares que não me fossem convenientes. Eu não me fiz presente onde eu não quisesse ser, de fato. Eu não deixei de pular nem um segundo, e não abri mão de minha luta, e nem das minhas pequenas alegrias.

Eu precisei mediar amores e rancores alheios, eu precisei cuidar dos outros e nem bebendo um litro de sagatiba por dia eu precisei ser cuidada.

Eu me fantasiei de Olinda e me fiz de ladeira.

eu sai de meu corpo e fui fazer encontros para alem da materialidade
eu olhei pra lua e vi olhares, virei o copo e senti cheiros
briguei por meu direito de ir e vir,e não voltar se quiser.
pulei todas as cordas, driblei todas as fardas, cobicei todos os amores.






Eu esperei o sinal ficar verde, impacientemente, esperei respostas sem a menor pretensão de realmente tê-las.

Eu vivi esse carnavalizar sabendo que no próximo ano estarei muito longe dele e dos outros, sabendo que a reclusão será obrigatória.


Eu disse não a outros e  sim a mim, eu disse, e senti.Me conciliar em mim nunca foi tão prazeroso.



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ganhei

um email, um presente, e muitas lágrimas.

a música...  é exatamente isso e um pouco mais. eu não sei dizer o que eu senti, se algum dia eu conseguir alcançar, eu volto aqui e tento.

Vc é foda.



paz, para acalmar o espírito
sabedoria para enfrentar a vida
muitas alegrias para justificar tudo.

11.02

sábado, 7 de fevereiro de 2015

aniversário

eu gosto do dia 11. É um dia simbólico para mim. Não só 11/02. O 11 mesmo.  Muitas coisas fortes acontecem dias 11. Pessoas muito legais são do dia 11. Mas isso é só uma contestação superticiosa de quem acha sentido para tudo.

Eu gosto do meu aniversário. Gosto muito, pq gosto de gente, e quanto mais diferente, mais eu gosto, não só diferente do normal, diferentes entre si. Nesse dia costumo conseguir reunir numa mesma mesa um número absurdo de gente diferente uma das outras, não falo só da diferença entre o roqueiro de preto e a macumbeira de branco. Não é só isso. É gente bacana com gostos esquisitos, pessoas malvadas que falam as dores do mundo sem sutileza, e gente que ri disso tudo. É gente que abraça até apertar e gente que não gosta de contato físico. É gente  submetida a todas as normatividades possiveis,e gente completamente dissidente...Tudo na mesma mesa, no mesmo espaço, pelo mesmo objeto, estar comigo.

Esse ano terei um plus. Mu aniversário vai ser na avenida. E eu desconfio que serei muito feliz. Amo carnaval. Amo receber muitos abraços e sorrisos, e beijos e afetos em super dose, só pq é meu aniversário.

Esse ano é um número bunitinho, 33.

33 anos de luta, não é fácil ser mulher, não é fácil ser filha de Vera Freitas, não é fácil ser aquariana, não é fácil ser feminista, nem ser ativista, nem ser mãe de dois, nem de um, não é fácil ter intensidades, não é fácil desejar tudo, não e fácil ter fé, ser macumbeira, ter bons sentimentos e sangue nos olhos!

Mas é uma delicia.

Quarta vou ser feliz, pq é dia de iansã, de Xangô, meus guias. Quarta vou ser feliz pq eu adoro um abraço apertado e manifestações inusitadas de amor. Vamos fechar a avenida!




Eu quero é botar-meu-bloco-na-rua







quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

uma tarde com ele


o pássaro azul



Charles Bukowski.


(Tradução: Pedro Gonzaga)
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você ?


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

voltando (?)

as coisas vão voltando. Tudo chegando e  eu completamente lá, que eu nem sei onde é.
Passei três dias na escola, sem crianças. Esquisito.

Acho que só depois do carnaval eu aterrizarei. E aí vai ser programar o ano. Sumir. Subir. Descer. Voar.

A expectativa do carnaval? Medo.

Que eu saia inteira, ou tão despedaçada que não encontre meus pedacinhos mais nunca.




A luz da lua , a noite escura
a cena toda como num cinema
o bumbo ao longe, o metal anuncia
tá começando mais um carnaval
A rua está cheia
eu vou me esgueirando feito um ninja no meio da
multidão
o peito inflama , a lágirma derrama
tá começando mais um carnaval
O carnaval, quem é que faz?
O carnaval ainda quem faz é o folião 2x
No empurra, empurra, no roça roça
a massa avança num filme medieval
a fantasia tá na sua cabeça
tá começando mais um carnaval
Quem está em baixo quer mais espaço
quem está em cima quer o seu calor
quem tá na chuva, pula e se enxuga
tá começando mais um carnaval
O carnaval, quem é que faz?
O carnaval ainda quem faz é o folião 



domingo, 25 de janeiro de 2015

odeio

veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus, diamante, jasmim
veio enfim o e-mail de alguém
veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também
odeio você, odeio você, odeio você
odeio
veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito um deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém
veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também
odeio você, odeio você, odeio você
odeio
caê

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

hoje eu queria

"Hoje eu queria fazer um poema
Com pena dos versos de chumbo que faço
E faria um poema voando tão leve
Um poema de éter, poema de pássaro"