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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Novelinha sem sal.

Enquanto eu acho uma forma de organizar a vida e acho que estou perto disso recebo um puxão de tapete. De onde eu não esperava vir.... Longe de cair...só um susto de quem sempre espera o melhor das pessoas.
Hj a vó paterna da minha filha veio com a conversa de "guarda financeira" , cheia de lero-lero.... achando que me dobra. Fui incisiva.

Não. Entre na justiça e brigue pela guarda, se vc acha que deve .

Senti vários tons de uma ameaça sútil... chantagenzinha emocional... e passei longe de cair nessa. Cortei logo o assunto sobre "o que vc quer da minha vida" ...." essa profissão não vai te dar dinheiro" ...é intromissão demais minha gente....Sem a menor paciência.
Sem dúvida ela nunca tinha me visto tão incisiva e rebatedora...eu que sempre tentei colocar panos quentes no meio de toda confusão.
Medo? Nenhum, me passou a fome pela cara de pau , beirando o  cinismo. Em momento nenhum acreditei na boa intenção dela de querer ajudar minha filha, "garantir alguma coisa".... Essa história de que quer a guarda pra assegurar direitos de minha filha  pra mim é o fim dos tempos... quem quer faz...se ela quiser, ela deixa desde já por escrito a vontade dela caso venha morrer.
A única coisa que eu poderia ponderar caso fosse muito necessário e conjuntura familiar louca dela fosse outra....seria sobre a questão do imposto de renda. Mas isso eu pensei antes de eu conversar meus superadvogados sobre a questão....De fato, eles me garantem de que :

1o. não há a menor chance de ela conseguir, sem meu acordo, a guarda de Duda. ( se eu fosse ela teria inclusive medo de levantar essa possibilidade contra minha vontade pq tenho mil provas e testemunhas do quão doentio é aquele lar com a mulher do pai lá)
2o. Ela não precisa da guarda de Duda para beneficiar ela com herança. Há outros meios de fazer isso.
3o. A grana q ela vai poupar com a tal da declaração do imposto de renda é ridícula perto do significado e do poder da guarda dela.
4o. Faço, então, minha contra-proposta: Eu coloco o pai de Duda na justiça e ele alega que não tem condições,  e eles passam assumir judicialmente os gastos dela, com já fazem. Dessa forma conseguem comprovar no imposto de renda.  Rá.

Não basta esses anos todos me poder de exercer minha autonomia de mãe , agora me vem com essa. Sou muito grata sim, mas tou de saco cheio de ter que dar respostas, e ceder.... A guarda da minha filha é minha e estou bem amparada de meus direitos.

E como diz meus superadvogados. ELA QUE VENHA, é bom que ja resolvemos um monte de coisa que me incomoda há tempos....

#DESABAFO.

terça-feira, 24 de abril de 2012

San Foucault - David Halperin



O texto San Foucault faz, entre outras coisas, uma análise crítica da influência de Foucault para os movimentos sociais gays, lésbicos, trans e etc. O autor começa com a seguinte provocação: Se os sindicalistas têm como principal referencial teórico, livros comunistas, e os pacifistas têm exemplares de “A vida contra a morte”, qual seria o referencial teórico de movimentos como o ACT UP, por exemplo?
E lá na década de 80, com essa inquietação, Halperin recebe o nome de Michel Foucault como resposta e conclui que ali existe uma prática com uma nova forma de pensar e fazer política.
A noção de poder que Foucault tráz, tira do centro das discussões de poder de esquerdistas e tradicionalistas, que logo são percebidos por aliados intelectuais foucaultianos como atrasados.
Foucault desvirtua a idéia do poder vindo de cima para baixo somente, tira de foco a idéia de que determinada sociedade está dividida em quem tem e quem não tem poder e mais, o poder não é oposto de liberdade, assim como a liberdade não está livre do poder.
A leitura equivocada de Foucault, por seus críticos esquerdistas, não os permite compreender o que Foucault diz sobre o poder como força coercitiva. As críticas que recebe nesse sentido seriam de que ele sugere o poder como tão potente que não existe possibilidade de resistência, o que não se sustenta ao lermos, por exemplo, o A Microfísica do poder, em que Michel Foucault fala exatamente que “onde há poder, há contra poder.”
Halperin relata que, para Foucault, os movimentos políticos têm sido cúmplices do poder de regulação sexual e que justamente o que chamamos de “revolução sexual” reforça os mesmo poderes que tenta derrotar, já que essa “liberação sexual” tem nos liberado, na verdade, de nossa liberdade sexual, ao invés de nos fazer lutar por ela.
O autor lembra-se de problematizar o debate de Foucault sobre a liberdade como algo construído em moldes hegemônicos e que assimilamos que deve ser usada “com responsabilidade” e que não podermos “abusar” dela. Logo, chegamos a um conceito bastante complexo e limitador do ponto de vista de ser um discurso elaborado num momento iluminista, cartesiano, europeu, vendido como ideal.
As críticas mais recorrentes que Foucault recebia de seus críticos foi de que este seria incapaz de produzir uma teoria política crítica. Esse tipo de argumento se entende até os dias de hoje quando recebemos críticas dos movimentos sociais de hoje aos teóricos que se apóiam nos estudos queer e que rebatemos fortemente desconstruindo a lógica essencialista.
Outro debate que Foucault já recebia e que ainda hoje perdura nos debates, inclusive entre teóricos queer, é que esse pensamento pós-estruturalista soa como um “radicalismo chique” e “autocomplacência”, que coloca em xeque também uma discussão atual sobre a relação entre sujeito e “objeto” analisado. Apesar dessas críticas, Michel Foucault defendia que suas atividades intelectuais tinham sim um impacto político.
Halperin, nesse sentido, lembra que há uma troca de impacto na relação entre Foucault e movimentos políticos, já que o filósofo muito observou os movimentos para teorizar.
Para David Halperin, o ACT UP é um bom exemplo de inversão estratégica do poder, que coloca em prática a teoria do poder e contra-poder debatido por Foucault.
Mais para frente, no texto, o autor discorre sobre a nomenclatura queer e sua importância como um contra-discurso hegemônico e ao mesmo tempo soa como uma “moda burguesa” e conclui que essa compreensão queer, da identidade sexual, é a que mais se aproxima das reflexões de Foucault no nível de estratégia política.
O teórico também cita a prática homossexual como possibilidade de desenrolar novas formas de relacionar-se, e nesse sentido temos também recebido críticas. Atualmente, quando debatemos sobre as conseqüências de pautar o casamento gay regulamentado pelo estado e reprodutor dos modelos heteronormativos de se relacionar.
O autor discorre sobre o que seria a homossexualidade para Foucault e compreende a prática como um exercício que proporciona aos indivíduos a capacidade de transformar sua existência.
Ao falar dos direitos políticos, Halperin chega à problemática levantada pelo filósofo sobre a eficácia em despender tanta energia na luta por estes direitos. Foucault compreendia que a garantia de um direito não era a garantia de que o preconceito acabaria, por isso, seria válido pensar em tornar visível o mais diverso estilo de vidas, para garantir uma possível modificação cultural. Porém, Foucault nunca julgou desnecessária a luta pelos direitos, apontando somente suas limitações.
Ao pensar em como viver um estilo de vida queer e com seriam essas novas relações pensadas por Foucault, ele mesmo chega à conclusão de que seria preciso pensar em infinitas possibilidades de conceber o prazer e desvincular as formas de se relacionar as práticas convencionais, já moldadas e instituídas em padrões que pretendem ser fixos. E, ainda assim, Foucault se sente insatisfeito ao detectar que ainda são poucas as possibilidades de viver uma vida queer.
Michel Foucault problematiza sobre o conceito de identidade hegemônico sobre “ser mulher” e crítica a maneira de fazer política categorizando vivências e possibilidades. Nesse momento entramos na política da diferença. Halperin cita o projeto de uma política de conquista de igualdade de direitos pela prática da diferença e sugere Milán como “bastante foucaultiano”.
Ao relacionar prazer e poder Halperin lança mão a teorização de Foucault que defende que o S/M seria uma possível forma de experimentar o prazer em uma nova relação com seu corpo.
Halperin termina seu texto falando da importância de Foucault para a política queer, que coloca a homossexualidade no campo da eterna construção de si, e que possibilita a fomentar novos tipos de vivências, a idéia de uma política queer seria então libertar-se de uma “natureza” opressora, e não se deixar dominar pelos discursos de identidade que aprisiona em nome de um interesse coletivo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ogum Sete Espadas


Eu tenho sete espadas


Pra me defender

Eu tenho Ogum em minha companhia

Mas, Ogum é meu pai

Mas, Ogum é meu guia

Mas, Ogum vai baixar

Na fé de Zambi e da Virgem Maria

Ogum na minha cabeça


Eita dia lindo, azul como ele... Paz, muita paz.


OGUM: 


um poderoso Orixá, dono do ferro e do fogo. Ele é um guerreiro,um lutador que defende a lei e a ordem. Este Orixá abre os caminhos e vence as lutas, agindo pelo instinto para defender e proteger os mais fracos. Todas as lutas, as conquistas, as vitórias são presididas por Ogum.
Ele é a lei divina em ação, que pune e premia, mas não gosta de ser invocado em vão. É fácil invocar Ogum, mas controlar as suas ações é impossível.
O dia da semana consagrado a Ogum é a terça-feira, que coincide com o dia dedicado pelos romanos a Marte, o deus da guerra. Sempre ligado à força e ao poder, ele é o dirigente que não quer ter suas ordens desobedecidas. Ogum pode ser associado ao arcano IV do Taro: o Imperador; como esse arcano ele encarna a vontade firme aliada a força de execução, as energias fluindo para uma realização material. Ele protege seus domínios de forma consciente, seguro do poder que representa. Enfocado como arquétipo, Ogum contém elementos fortes e consistentes que o mantém como uma figura viva e atuante na esfera psíquica do homem.
 O filho e a filha de Ogum são geralmente magros e altos . Apesar de ser um pouco tímido e discreto quase nunca passa despercebido.


O temperamento reflete o vigor físico do filho de Ogum: ele está sempre em atividade, é determinado e criador. O espírito de competição é evidente e a impaciência e as frustrações ao perder criam mais incentivo para ele seguir em frente.
Ele não reflete sobre os riscos de uma ação, pois é impetuoso e impulsivo e está sempre travando batalhas.
Sem o impulso e a coragem de Ogum a humanidade demoraria muito para alcançar o progresso; é ele o desbravador, aquele que abre o caminho para quem vem atrás. Moisés é uma personalidade típica de Ogum: a sua ira ao quebrar as tábuas da lei divina, a coragem para dirigir seu povo numa viagem para o desconhecido, o poder a ele atribuído de abrir caminhos são atributos de um homem de Ogum.
Como todo homem possui seus defeitos o filho de Ogum considera apenas o seu próprio ponto de vista, seguir metas que lhe são importantes sem considerar todos os que direta ou indiretamente estão envolvidos com ele.
Os desafios aguçam o espírito combativo de Ogum e o modo dele utilizar a sua força pode parecer, aos olhos de quem não o compreende bem, altivez e arrogância.
Qualquer forma de limite representa uma prisão para uma pessoa regida por Ogum. Ele precisa se enxergar livre para ir e vir á sua vontade, não consegue expandir sua alegria, força e energia em um ambiente restritivo e sempre igual. A novidade serve de estímulo à ação.
Com capacidade de liderar e coragem suficiente para enfrentar qualquer missão, consegue reunir a sua volta pessoas que colaboram com ele por prazer sentindo-se revitalizadas pelas qualidades magnéticas e energéticas dessa personalidade tão forte.
Sem aceitar palpites no que faz , ele é franco e rude ao impor a sua vontade aos seus subordinados. É capaz de castigar prontamente qualquer falha, mas seu perdão vem depressa e logo pede desculpas quando se excede no seu comportamento.
Gosta da verdade acima de tudo, nunca fala por trás de alguém, suas críticas são abertas, pois detesta dissimulação.
 A mulher de Ogum
Elas são  sinceras, encantadoras, vigorosas, corajosas, entusiasmadas, românticas que são qualidades que excedem seu lado negativo já que ela também pode ser mandona, irritada e impulsiva.








Eita que esse barulho me leva , me tira o pé do chão e faz tudo em volta de mim girar. 





sexta-feira, 20 de abril de 2012

Stonwall 40+ o que no Brasil?

https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/2260/3/Stonewall%2040_cult9_RI.pdf




O grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade, que atende pelo singelo nome de CUS, realizou, nos dias 
15, 16 e 17 de setembro de 2010, o seu primeiro evento, chamado Stonewall 40 + o que no Brasil?
2, realizado em Salvador. 

O objetivo foi o de debater e avaliar os estudos e as políticas públicas e identitárias no Brasil, tendo como 
marco a comemoração dos 40 anos da revolta ocorrida  no famoso bar de Nova Iorque, em 28 de junho de 1969.  Os textos reunidos aqui  são de autr@s que participaram desse evento, que só foi possível porque  nosso grupo foi contemplado com recursos do edital  de Cultura LGBT do governo do Estado da Bahia. Além  dos artigos, escritos especialmente para essa coletânea,  o livro conta com transcrições das mesas rondadas realizadas no Cinema do Museu. Algumas falas das mesas foram complementadas pel@s autor@s, que as transformaram em textos. 

Antes de tratar sobre os assuntos de cada um dos textos, gostaria de situar @ leitor@ nas discussões que atravessaram o evento,  que gerou polêmica entre pesquisador@s e militantes. Nesse 
encontro, ficou visível uma diferença entre as avaliações e análises  de algum@s participantes das mesas redondas e da plateia. De  forma simplificadora e incompleta, parece ter sido recriada uma  divisão entre acadêmic@s e ativistas, traduzida por alguns como  uma separação entre pós-identitári@s versus identitári@s ou entre  queer e adept@s do essencialismo estratégico.

Na edição de 2010 do Encontro Nacional Universitário da  Diversidade Sexual (Enuds) realizado em Campinas um mês depois  do Stonewall 40 + o que no Brasil?, a mesma dicotomia pairava  nas discussões realizadas nas mesas redondas, nas apresentações  de trabalhos, nas oficinas e também nas festas. A diferença é que  no Enuds foi possível ouvir algumas falas como: “os queer são  inimigos do movimento LGBT”, ou “estou preocupado com o fato  da academia ser vista como inimiga do movimento LGBT”.
E o que o evento promovido pelo CUS tem ver com essa  discussão? Integrantes do CUS estudam, desde o seu início, em  finais de 2007, as obras de pesquisador@s da Teoria Queer. Isso  permite que algumas pessoas concluam que, nessa aparente  disputa, nós estaríamos do lado d@s que seriam avess@s às políticas  identitárias e também, portanto, inimig@s do movimento LGBT. 

Primeiro alerta: @s autor@s da Teoria Queer não formam um  bloco homogêneo porém, pelo menos @s que nós estudamos e  acompanhamos, não são contra as políticas identitárias. Butler  (2002, p. 60), uma das expoentes da Teoria Queer, e que será citada  em vários momentos nesse livro, diz que é “[...] necessário fazer  reivindicações políticas recorrendo a categorias de identidade e  exigir o poder de nomear-se [...], mas também é preciso recordar o  risco que comportam essas práticas.”

Não se trata de ser contra a afirmação das identidades, mas de questionar, em especial em espaços não homofóbicos, o uso de determinadas estratégias e as relações de poder que estão inseridas 
nos discursos que tratam dessas questões.

O que a Teoria Queer faz, e vári@s pesquisador@s dessa coletânea e do CUS também fazem, é apontar os limites das políticas identitárias. Ora, há uma imensa diferença entre apontar limites, criticar determinados aspectos de certas ideias e estratégias, e ser inimig@ dessas pessoas, dos movimentos e das suas estratégias. Essa diferença precisa ser compreendida para não entrarmos em uma disputa que só nos enfraquecerá.Como diz Miskolci (2010, p. 10-11), outro estudioso da Teoria Queer no Brasil e que integra essa coletânea, 

[...] a proposta política queer não aponta para nenhuma divisão, antes é um apelo unificador à experiência comum de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e outr@s, ou seja, a experiência da vergonha. Ser chamado, leiase, ser xingado de bicha, gay, sapatão, travesti, anormal ou degenerad@ é a experiência fundadora da descoberta da homossexualidade ou do que nossa sociedade ainda atribui a ela, o espaço da humilhação e do sofrimento. Transformar esta experiência em força política de resistência é o objetivo da proposta original queer.

Qualquer avaliação sobre os estudos e políticas para a diversidade sexual no Brasil vai reconhecer uma série de avanços conquistados pelos movimentos, como vári@s autor@s apontam nessa coletânea, e também vai apontar o quanto ainda temos que avançar para que a comunidade LGBT tenha os mesmos direitos que os heterossexuais. Apenas gostaria de frisar que, em uma avaliação das conquistas e desafios do movimento LGBT, realizada em Salvador pelo ativista Toni Reis, todas as conquistas estavam relacionadas às “opressões institucionais” Antes de qualquer coisa, é preciso destacar que não se trata de 
ser contra nenhuma proposta ou projeto de lei que objetive dar à comunidade LGBT direitos que lhe são negados no Brasil. Mas isso não quer dizer que não podemos realizar um esforço crítico para  pensar quais são os limites dessas propostas e projetos. 

Esse foi um dos objetivos centrais do Stonewall 40 + o que no Brasil?, que replica nessa coletânea e gera questões como estas: por que elegemos esses  projetos e não outros? Por que temos essas pautas e não outras? Por que determinados projetos nos unem mais, nos emocionam e nos mobilizam mais do que outros? Por que nos concentramos tanto nos marcos legais e no combate à “opressão institucional”? Quais os riscos e limites dessas apostas?

Essas perguntas pairam em vários textos dessa coletânea e muitas reflexões da Teoria Queer podem ser úteis para respondê-las. Mas é preciso enfatizar que não é necessário ser seu estúdios@  para elaborar tais críticas. Aliás, essa discussão que agora aparece como “nova”, impulsionada pelos dois eventos citados no início do texto, na verdade já são discussões que estavam, de alguma forma,  embora em outros termos, presentes desde os primórdios do então Movimento Homossexual Brasileiro. Basta ler, novamente, o livro do professor Edward MacRae, A construção da igualdade, lançado  em 1990, ou o texto, do mesmo autor, Os respeitáveis militantes e as bichas loucas, publicado pela primeira vez em 1982 e que republicamos agora na abertura desta coletânea. Nesses textos, MacRae, que participou de uma mesa redonda em nosso evento, analisa movimentos homossexuais do período de 1978 a 1985.

Outr@s pesquisador@s, que publicaram trabalhos recentemente, também têm chamado a atenção sobre os limites de nossas políticas. O professor Sérgio Carrara, por exemplo, que nunca manifestou estar ligado às perspectivas queer, em artigo publicado na revista Bagoas, depois de fazer um panorama sobre as políticas e direitos sexuais no Brasil contemporâneo, aponta pelo menos três “perigos” (aspas são do autor do texto) que, segundo ele, mereceriam atenção do movimento LGBT brasileiro. Carrara diz que 


“[...] uma das possíveis consequências da judicialização da política”, entendida por ele como a tendência de se “[...] canalizar ou formalizar a luta política na linguagem dos direitos”, é que corremos o risco de apostar em uma “[...] ‘utopia jurídica’ segundo a qual se espera da Justiça que resolva todos os 
problemas”. (CARRARA, 2010, p. 143)

  
Carrara alerta que o resultado indesejável dessa aposta é a possibilidade de estarmos trabalhando apenas para uma certa elite econômica, uma vez que o acesso à Justiça, no Brasil, é desigual em função da classe social das pessoas. Eu apenas complementaria o argumento lembrando também que parece que estamos apostando demais nas leis ou decretos que já temos ou poderemos ter no futuro. Se conseguirmos aprovar o projeto que criminaliza a homofobia, e espero que consigamos, a homofobia não irá acabar. 
É claro que essa lei será um instrumento valioso, mas ela, por si só, não acaba com a homofobia. 
De certa forma, estamos nos concentrando quase que exclusivamente naquilo que Gamson (2002)chamou de ataque às “opressões institucionais”. Em contrapartida, damos pouca atenção ao que ele nomeou de “opressões culturais”. É claro que a dicotomia usada pelo autor é também passível de críticas e considerações, mas creio que ela serve para pensar um pouco essas questões. Voltarei a elas mais adiante.

Outro “perigo” apontado por Carrara, e que o aproxima muito das reflexões de divers@s autor@s ligad@s à Teoria Queer, é que, segundo ele, 

“[...] vem se desenhando uma nova moralidade sexual, projetando novos sujeitos perigosos ou abjetos em oposição a cidadãos respeitáveis, ou seja, aqueles que merecem, por suas qualificações morais, ser integrados, assimilados à sociedade”. (CARRARA, 2010, p. 144) 

Um pouco mais adiante, Carrara diz ainda: “[...] há que se discutir, finalmente, os perigos da reificação das identidades sexuais e de gênero em jogo nesse contexto e de seu possível impacto sobre políticas e direitos que, por serem ‘especiais’, podem acabar sendo mais excludentes que inclusivos”. (CARRARA, 2010, p. 144)

Em relação a esse “perigo” apontado por Carrara, muit@s autor@s da Teoria Queer e os textos incluídos nessa coletânea podem colaborar muito com os movimentos LGBT. Em que sentido? Para pensar em estratégias e discursos que, paralelamente às políticas identitárias, subvertam e questionem de forma permanente as normas hegemônicas presentes em nossa sociedade. Para que nossas pautas não colaborem para construir normas do que é ser um gay, lésbica, bissexual ou trans aceitas apenas se estiverem seguindo os padrões já postos. Padrões esses, é sempre necessário lembrar, que foram e continuam sendo os causadores da falta de respeito à diversidade sexual. 

Precisamos ter clareza de que não podemos cair no erro de usar, com a melhor das intenções libertadoras, exatamente os mecanismos que nos oprimiram e que continuam nos oprimindo.Por exemplo: boa parte das pautas que mais nos mobilizaram nos últimos anos e em boa parte dos discursos de algum@s ativistas transparece a ideia de que o gay é normal, é igual ao heterossexual, quer casar, ter filhos, viver uma vida monogâmica. O que a Teoria Queer e algum@sautor@s desta coletânea vão questionar não é o direito de casar e ter filhos e desejar uma vida em família tal como nas propagandas de margarina. É óbvio que quem quiser viver assim deve ter todo o direito e condições de fazê-lo. A pergunta que @s autor@s fazem e que ecoa em alguns textos desta coletânea é: por que desejamos esse ideal de vida? Por que queremos uma vida a mais parecida possível com a dos heterossexuais? O quanto essa ideia geral tem a ver com uma eventual vergonha da Aids e de uma presumida promiscuidade da comunidade LGBT? Queremos nos purificar? De que e por quê? 

Pensando   sobre   essas   questões,  Richard Miskolci,   por exemplo, argumenta que a epidemia de HIV/Aids “[...] teve o efeito de repatologizar a homossexualidade” e gerou “[...] efeitos normalizadores no campo das homossexualidades”. 


Por que a união civil proposta por nós é exatamente a baseada na família nuclear, justamente uma das instituições que tanto  colaborou para a opressão da diversidade sexual e de gênero? 
Aliás, não parece interessante (ou sintomático) que tenham  surgido, nesses últimos anos, organizações no Brasil e no exterior, compostas majoritariamente por heterossexuais, que defendam uniões livres com mais de duas ou três pessoas?

Além disso, cabe aqui lembrar que, queiramos ou não, na própria comunidade LGBT, as conjugalidades são muito mais diversas do que vislumbra a proposta de união civil. Para verificar isso, basta ler a excelente coletânea de textos organizada pelas professoras Miriam Grossi e Anna Paula Uziel e pelo professor Luiz Mello. 

Um dos textos é de Antônio Paiva que, em sua tese de doutorado, entrevistou vários casais homossexuais e concluiu:Quanto à discussão sobre institucionalização das uniões homossexuais, vimos uma abordagem bastante diversificada: há casais que advogam o direito não só ao registro civil da parceria, mas o direito de casar; outros veem a importância do registro para garantir patrimonialmente o parceiro, outros que consideram ‘ridículas’ ou irrelevantes as tentativas de legitimação das uniões; há os que veem na luta pelos direitos do cidadão o foco da discussão, não sendo necessário lutar pelo reconhecimento das relações; e ainda os que consideram importante lutar por outros modelos de conjugalidade. (PAIVA, 2007, p. 43)

Enfim, as reflexões da Teoria Queer permitem perguntar o quanto parte das nossas pautas não são influenciadas pela heteronormatividade, tida por Nádia Pino (2007, p. 160) como o 

“[...] enquadramento de todas as relações – mesmo as supostamente inaceitáveis entre pessoas do mesmo sexo – em um binarismo de gênero que organiza suas práticas, atos e desejos a partir do modelo 
do casal heterossexual reprodutivo”.

Críticos da Teoria Queer, que também integram essa coletânea,  às vezes dizem que heteronormatividade   é o mesmo que heterossexismo, conceito usado há mais tempo no Brasil. No entanto, os dois conceitos não são iguais, pois heterossexismo pressupõe que os heterossexuais pretendem, a qualquer custo, 
impor a sua orientação como a natural e correta. A ideia de heteronormatividade, que não deseja substituir o conceito de homofobia, vai muito além disso, pois aqui o objetivo é revelar também como a heterossexualidade compulsória, muito mais forte no período da patologização das orientações sexuais nãoheterossexuais, se alastrou com tamanha força que acabou por se introduzir na constituição das identidades de todos nós, sejamos héteros ou não.

Pergunto: a resistência de algum@s para entender e assimilar essas reflexões não passa pelo temor de reconhecer a própria heteronormatividade, manifestada das mais diferentes formas, explícitas e “difíceis de ler”, tal como o racismo?

No bojo dessas discussões, Butler consegue fazer uma rica análise que revela qual é o motor da heteronormatividade, que gera a homofobia e, portanto, a falta de respeito à diversidade sexual e de gênero. É nesse momento que Butler trata sobre como a sociedade exige uma linha coerente entre sexo-gênero-desejo e prática sexual. Nessa linha, o binarismo das identidades sexuais e de gênero impera e é esse binarismo, entre outras questões, que precisa ser atacado e problematizado. 
E aí cabem outras perguntas: o quanto nossa luta problematiza os binarismos? Se a heteronormatividade e o binarismo sexual e de gênero são a causa de nossas opressões, como podemos apostar tanto em estratégias que acabam, de alguma forma, reificando essas questões ao invés de problematizá-las? Para conquistar determinados direitos, temos que criar uma determinada imagem para que a comunidade LGBT seja aceita? 
E o quanto essa operação exclui quem deseja permanecer nas margens, quem não deseja esses ideais ou quem não terá condições econômicas, políticas e sociais de aspirar a esses ideais?


Outra questão apontada por autor@s ligados à Teoria Queer, sobre os limites das políticas identitárias, é como elas deixam a heterossexualidade em uma “zona de conforto”. Isso se traduz de várias formas, inclusive em boa parte das políticas preventivas das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), mas, sobretudo, nas estratégias e políticas de combate à homofobia. O que quero dizer com isso?Para combater a homofobia, apostamos quase exclusivamente na afirmação das identidades não-heterossexuais, o que gera 
impactos significativos para a comunidade LGBT, mas deixa a identidade heterossexual no confortável discurso de que ela sim é natural, normal, determinada pela biologia ou até por Deus. 

Para uma perspectiva queer, enquanto a heterossexualidade não for problematizada como uma imposição, como uma construção, a homofobia e a falta de respeito à diversidade sexual e de gênero 
não vão acabar.Portanto, nossas políticas e estratégias não podem apenas afirmar identidades homossexuais, mas também problematizar constantemente as identidades heterossexuais. Isso, é claro, só 
torna a luta muito mais complexa e difícil, mas não impossível. 

Por exemplo: no campo da educação, ao invés dos livros didáticos ensinarem o que é uma família homoparental, como alguém se constitui em homossexual, também deve ser importante problematizar como se construiu esse ideal de família nuclear, se ela ainda existe na “vida real” e com que intensidade. Ao invés do excessivo interesse em responder o que torna alguém homos -sexual, perguntar também e com a mesma intensidade o que torna alguém heterossexual.

Essas discussões não são novas entre os estudos e a militância brasileira. Segundo MacRae, por exemplo, já na época por ele analisada, o movimento homossexual era “[...] freqüentemente acusado de contribuir para um rígido reforço das categorias sexuais”, inclusive por pesquisadores como Jean-Claude Bernardet 
e Peter Fry. E continua: Alega-se que essas posturas acabavam por revalidar o uso do rótulo ‘homossexual’, concebido por alguns como sendo uma patente forma de controle social, seja ele imposto a um indivíduo por forças sociais externas ou voluntariamente adotado. A prática de ‘se assumir’, encorajada pelos grupos, correria o risco de não ser nada revolucionária, transformando-se, talvez, somente numa acomodação de comportamentos e sentimentos, até então em desarmonia com as normas gerais, integrando-se de uma maneira mais funcional à estrutura vigente. Estabelecer-se-iam novos padrões e 
simplesmente se mudaria o lugar da linha de demarcação entre o permitido e o proibido. (MACRAE, 1990, p. 56)

Além disso, MacRae (1990, p. 54) diz que, [...] atualmente, a aparência viril é cada vez mais prezada, e começa a surgir um novo homossexual estereotipado que frequentemente ressalta sua aparência  máscula, exibindo bigode, barba, músculos de halterofilista, etc.. Ora, o que podemos inferir a partir dessa observação do autor é que, então, hoje, mais de 20 anos depois, efetivamente é esse o  modelo de gay que é mais aceito em nossa sociedade e também por boa parte da comunidade LGBT.

A  pesquisa   realizada  no  CUS ,   sobr  e   a   representação  dos personagens não-heterossexuais nas telenovelas da Rede Globo, embora ainda esteja em andamento, já pode concluir que existem 
três grandes formas de representação na história dessas obras: a primeira delas ligou a homossexualidade com a criminalidade; a outra associou @s personagens LGBT com os estereótipos da “bicha louca”, em geral produtora de risos perversos nos telespectadores; e a terceira, que começa a aparecer com mais intensidade nos últimos dez anos e se torna hegemônica, é a que inscreve @s personagens dentro de uma matriz heteronormativa. Consideramos as três  formas de representação problemáticas.

No entanto, não é raro ver integrantes da comunidade LGBT apenas elogiando personagens enquadra do  s   dentro dessa terceira forma de representação. Para intervir nesse campo das representações, por exemplo, as políticas públicas e identitárias brasileiras são incipientes, mas não podemos desconsiderar, 
como alerta Woodward, (2007, p. 17), que é “[...] por meio dos significados das representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos”. 

Nesse sentido, cabe a distinção feita por Gamson entre estratégias que atacam mais as “[...] opressões institucionais, que fazem da rigidez das categorias uma estratégia inteligente”, das que atacam as “[...] opressões culturais, que fazem da dissolução das categorias uma estratégia inteligente”. E ele pergunta: “[...] existem movimentos ou repertórios de movimentos que sejam capazes de trabalhar com, em lugar de contra, a simultaneidade destes dois sistemas de opressão?” (GAMSON, 2002, p. 166)

MacRae, no texto que integra essa coletânea, nos possibilita apresentar outro dado que pode ser utilizado para verificarmos o quão a heteronormatividade paira inclusive sobre os homossexuais.No artigo As   respeitsas  militantes   e  as  bichas   loucas, ele analisa como um determinado jornal, na época produzido por homossexuais e ligado ao hoje Partido dos Trabalhadores, teria decidido não publicar um texto vindo do Grupo Gay da Bahia. O texto tratava do 1° Encontro de Homossexuais Organizados do Nordeste e transcrevia as palavras de ordem proferidas durante um a  p quena  passeata  o corrida  nesse   evento.  “ Esta seram frequentemente escandalosas ou aparentemente levianas, como se pode ver pelos seguintes exemplos. ‘Éte, éte, éte, é gostoso ser gilete.’, ‘Ado, ado, ado, ser viado não é pecado.’ ‘U, u, u, é gostoso dar o cu.’” (MACRAE, 1982, p. 101-102) Mais uma pergunta: em nossas paradas LGBT, quantas vezes ouvimos alguma frase desse tipo?


No último parágrafo desse texto, MacRae (1982, p. 111) diz: Sempre haverá aqueles que lembrarão que a luta é seria, que travestis são regularmente torturados e mortos e que muitos homossexuais são 
desrespeitados em sua dignidade humana. Eles têm razão e a luta por melhores condições de existência sempre é valida. Porém, é bom que fique sempre lembrado que seus novos valores também são arbitrários e não são de nenhuma forma ‘naturais’. Aliás, como dizia, se não me engano, Oscar Wilde: ‘A naturalidade é uma pose tão difícil de se manter’.Pois bem, essas foram algumas das questões centrais que rondaram as discussões do Stonewall 40 + o que no Brasil? e que atravessam os textos desta coletânea. Optei por abrir o livro com o artigo de MacRae, exatamente para dar a dimensão histórica dessas discussões. Em seguida, Richard Miskolci defende a ideia de que o essencialismo estratégico está em declínio e rebate a conferência do pesquisador português Miguel Vale de Almeida, proferida no encerramento do Fazendo Gênero de 2010. 

Nesse texto, o leitor também poderá compreender um pouco mais como surgiu a Teoria Queer e como ela impacta nos movimentos sociais. Em seguida, o professor Fernando Seffner dá continuidade às reflexões de Miskolci, ao apontar os limites das políticas públicas e identitárias adotadas pelo movimento LGBT nos últimos anos. Logo depois, Berenice Bento desconstrói a separação entre teoria e prática e analisa como @s transexuais colaboram para repensar o feminismo e as políticas para o respeito à diversidade sexual.Larissa Pelúcio, além de participar de uma mesa em nosso evento também realizou um bate-papo sobre suas pesquisas no Bar Âncora do Marujo, local onde transformistas baianas costumam se apresentar. Ela escreve sobre como é impossível categorizar as novas subjetividades das travestis. Trata-se de mais uma pesquisa que joga na nossa cara como é impossível pensarmos em identidades fixas e estáveis entre o conjunto das travestis. Imaginem, então, como falar em comunidade LGBT?  Ou em aglutinar tudo na categoria gay! 

Outros   textos  que   seguem nesse  mesmo sentido  são os de Osmundo Pinho (com o diferencial de analisar as práticas homossexuais em Salvador), de Júlio Simões (que analisa ambientes frequentados por gays e lésbicas em São Paulo) e de Wilton Garcia (que usa o filme Elvis e Madona como instrumento para pensar o trânsito entre as identidades na atualidade). Os textos de Osmundo e Suely Messeder foram incorporados em suas falas nas mesas redondas. Deco Ribeiro, tanto no texto como em sua fala, trata da importância da Escola LGBT para essa “nova onda” do movimento. Aliás, esperamos que esse livro sirva para produzir novas ondas. 

Boa leitura!
Por Leandro Colling 


O livro completo pode ser encontrado aqui: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/2260/3/Stonewall%2040_cult9_RI.pdf









Sexta-feira.

Vixe, acordei viradinha..."dequele jeito" , por um detalhe de uma explosão. Não explosão de agressividade, mas de impulso. Sinto claramente minha energia de acumulo de coisas tensas em mim. Res-pi-rar. E... lembrar que hj é sexta; Vestir minha roupa branca e lembrar que o ano tá voando e que tudo saindo como eu estava esperando que saísse.... estou me saindo bem!
Eu só preciso de uma válvula de escape; Escrever aqui tá funcionando, mas preciso de uma descarga de energia, um copo de cerveja, um cigarro pela metade, alguma coisa que subverta por algumas horas, para eu aguentar até semana que vem...Feriado, sair daqui um pouco. Ufa. 
Vivi/Douglas chegou isso me faz tão feliz!!!Como é bom tê-los por perto! Ontem me achou lá em dança , parecia uma miragem! Aquele japa passando pelo corredor estreito de dança.... Perdemos o contato desde que  foi pra Buenos Aires e ontem reapareceu. Conversamos pouquinho pena q n deu pra prolongar mas hj quero vê-lo. Outra boa expectativa é eles morando no Rio Vermelho! Maná e Douglas...Oba , isso me rende uma boa válvula de escape, com cerveja e boas risadas. Ideal. 
Em fim.... quinta-feira tenho uma conversa delicada e muita coisa do que desejo pra meus filhos está em jogo. Vamo ver no que dá...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ilê Ayaê e o Criolo.

Adorei! 

Um vídeo sobre o Ilê que chegou que conseguiu aproximar da emoção do que é essa entidade de perto. 

"Branco se você soubesse o valor que o preto tem, tu tomava banho de piche, branco, e ficava preto também. Eu não te ensino minha malandragem, nem tampouco minha filosofia, porque, quem dá luz a cedo é bengala branca e Sta. Luzia. "







quarta-feira, 18 de abril de 2012

Monsanto, um mal desnecessário.




O mundo segundo a Monsanto é um filme de denuncia de uma estratégia de desenvolvimento desumanizada, uma estratégia privada com consentimento estatal que tem como meta o faturamento, sem qualquer preocupação com o impacto socioambiental que provocaria em escala grotesca.

Empresa Monsanto especializada em biotecnologia agrícola, lançou mão da aceleração de produção agrícola e pecuária vislumbrando nos  empreendedores a ideia do controle sob o que até então dependia da produção natural de alimentos como soja e leite.

Os alimentos transgênicos, quando surgiram foram considerados o ápice do desenvolvimento agrícola, e o filme mostra em depoimentos que qualquer tentativa de questionamento sobre essa prática era barrada com o discurso de que uma oposição a eles seria “anti-desenvolvementista”, o que em um mundo onde o discurso do desenvolvimento é um forte alicerce socioeconômico, seria um “desserviço” mundial.

O vídeo se preocupa em captar provas documentais e depoimentos das pessoas envolvidas nas engenharias alimentícias, inclusive os próprios cientistas, e em confrontamentos entre relatos documentados e depoimento para o filme, fica obvio de a Monsanto sempre soube das prováveis mortes e epidemias que seus produtos causariam a comunidades inteiras.

Quando existem algumas vozes no contra-discurso da engenharia e venda desses produtos transgênicos essas vozes são caladas com subornos e demissões. A base das negociações da Monsanto com as secretarias agricolas - que teriam a  função de regulamentar e fiscalizar a produção desses alimentos e seus impactos diretos na saúde dos cidadãos - era acúmulo de capital. Nunca foi a ética, nunca foi o interesse em uma sociedade saudável.

É interessante colocar em pauta, a denúncia indireta que o filme faz sobre a autonomia das pesquisas científicas.  Alerta sobre o perigo do discurso da verdade das pesquisas cientifica no imaginário social. Imaginar que essas pesquisas são realizadas sem qualquer interesse capitalista, de venda de marcas de laboratórios é uma grave ilusão, que coloca em cheque, a imparcialidade dessas pesquisas e levanta uma discussão necessária sobre o que rege esses interesses e nos investimentos que são feitos, principalmente nas pesquisas das ciências exatas e biociências. Não é por acaso a diferença entre os investimentos feitos nessas pesquisas e nas pesquisas oriundas das ciências humanas.

A situação não para por aí, a destruição pela importância a vida humana chega a outros extremos, como a situação dos soldados americanos contaminados no Vietnã pelos pesticidas, e os resultados alarmantes das doenças epidêmicas genéticas que vieram a partir daí, como esclerose múltipla, gestações de anencéfalos e hidrocefálicos.


Não satisfeitos com a nocividade pelas vias das falsificações de pesquisas científica e propagações de produtos nocivos à saúde dos seres humanos, a Monsanto cria estratégia de proteger sua patente aplicando golpes em produtores rurais para garantir a hegemonia na venda de sementes modificadas geneticamente, com objetivo claro de tirar do mercado as sementes naturais.

A situação na Índia com as “sementes do suicídio” é mais uma denuncia contra a empresa que utiliza de golpes para manipular a agricultura de algodão naquela localidade, usando de artifícios desonestos de marketing para vender as sementes modificadas que além de não atingirem o propósito prometido ainda levam as alturas os gastos desses micros agricultores que se veem em situações criticas de impossibilidade de levar a diante seu trabalho com o algodão, chegando ao extremo do número de 680 suicídios de agricultores num curto espaço de meses motivado pelas frustrações no trabalho agrícola.

No México o impacto nocivo da hegemonia das sementes geneticamente modificadas, atingiu não só biologicamente falando comunidades inteiras, que se quer tinham interesse de comercializar suas plantações. O milho plantado em Oaxaca, no México, era tradicionalmente plantado em solo natural sem interferências de agrotóxicos, porém um “descontrole genético” atinge essa comunidade no sentido de que esses milhos até então naturais passam a ser “infectados” pela cobiça do desenvolvimento agrário e invadem a agricultura de subsistência daquela localidade e de tantas outras ainda não pesquisadas.

Desconheço se Milton Santos teve acesso a essas informações, mas se teve, provavelmente concordaria a comigo que seria, inclusive, ingênuo chamar de desonestidade intelectual a forma com que a Monsanto se apropria de discursos de problemáticas sociais, como a fome, para justificar a aceleração da produção agrícola pelas vias da modificação genética. A empresa demonstra total alinhamento com a ideologia capitalista liberalista ortodoxa e não se preocupa em projetar futuramente como serão as consequências da exploração da biotecnologia visando somente o lucro desenfreado.

A ação da Monsanto no Paraguai é mais um exemplo de sua pretensão de controlar a distribuição de alimento no mundo, para isso não mede esforços em impactar inclusive modos de viver de quem não se filia a imposição capitalista de distribuição de alimentos, como é o caso dessas localidades especificas que estão se vendo cercadas e invadidas por uma tecnologia que não fora solicitada.

Alguma semelhança com as formas colonizadoras que vimos acontecer pelo mundo? Alguma semelhança com o que conhecemos como Imperialismo? Como conciliar o desenvolvimento que econômico e social sem perder as rédeas para empresas como a Monsanto?
São perguntas que me inquietam e que ainda não tenho respostas.

por Carla Freitas

segunda-feira, 16 de abril de 2012

É tudo uma questão de Gênero.


Eis um vídeo que complementa meu raciocínio do post anterior sobre questões de gênero.
A socióloga Berenice Bento em um evento Natal falando didaticamente. 
Super vale a pena ver!

domingo, 15 de abril de 2012

Micro-política anti-machista do lar

Eu não vejo melhor caminho para reciclarmos os costumes das relações Pai X Filho -  Mãe X Filho do que a reformulação da própria dinâmica familiar.

A deficiência é tão grande  e pautada tão fortemente no machismo que o sujeito entra em casa depois de um dia de atividade cheio e age como se o filho fosse um chocalho, brinca, sacode e tchau.
Quando questionado sobre seu papel na paternidade, ele joga o trabalho em questão justificando o cansaço e ausência do exercício pratico de ser pai. Ignorando completamente a demanda de atividade da pessoa que irá assumir o que é de sua responsabilidade, a mãe, a vó, ou baba.

O que vem por trás desse discurso praticado é o entendimento errôneo e determinista de que a mulher "tem mais pratica" , é possuidora de um "dom materno especial" que a faz dar conta de todas atividades, trabalho,estudo e todos os filhos.

É simples assim, chegamos em casa juntos, marido e mulher. O marido já contando que "alguém" vai suprir o que é também sua obrigação, senta na mesa e come, sem nenhuma preocupação com a comida do filho. Ele simplesmente, naturalmente sabe que alguém , provavelmente do sexo feminino, fará.

O marido chega em casa junto com a mulher. Alguma vez ele entra e leva o filho ao banheiro? Não. Pelo contrário. Ele entra toma o banho tranquilamente, sai do banheiro e vai pra varanda... porque alguém certamente tem mais "jeito" para dar banho no filho que precisa que alguém dê banho.

Em fim, a lógica machista age de diversas formas. E está latente no dia-a-dia inclusive de quem se diz muito politicamente ativo, contra as injustiças.... vem em frases assim que soam inocência... " ô amor, filhinho precisa almoçar." , "ô amor, filhinho precisa tomar banho...." Ele age carinhosamente , sugestivamente no comando da tarefa nunca no exercício dela.

Para um homem machista nenhuma atividade que a mulher, mãe ou baba faça será tão consumidora do que a dele...  é por isso que temos desde bebezinhos não só dar carrinhos e jogos estimulantes pra nossas filhas conquistarem atributos da masculinidade que lhe darão alguma chance de ter poder na vida.... é muitíssimo importante que nossos filhos meninos, brinquem de boneca, troquem a  fralda, se deem banho...aprendam a  ser mães. Porque se pra menina ter que aprender a ser menino é uma estratégia de sobrevivência num mundo onde o homem é referencia de tudo que é melhor.... para ao menino aprender a ser menina é questão de um mundo menos machista, mais solidário, com crianças mais saudáveis e autônomas.

O que faz hoje em dia um casamento dar certo é sem duvida a qualidade da relação amorosa, afetiva e sexual. Porque, muito facilmente, a mulher de fato se adapta com ausência desse "pai do filho" dentro da própria casa e esse muitas vezes este homem  lhe invade a ponto de, além de ser desnecessário, passa a ser um peso invasivo em sua rotina, planos e entranhas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O sono que eu tenho

Nessa hora é a hora que eu sei que meu corpo precisaria adormecer. Meus olhos estão lutando para se manter abertos e eu não quero ir. Adoro essa hora da noite. Hora que ninguém ta aqui de meu lado. Que eu finalmente estou sozinha em casa. Sem crianças me solicitando. Sema sogra me sugerindo e me tratando como a baba de meu próprio filho....(e eu ainda tendo que agradecer que ela o papel de pai dele....)Eu simplesmente sinto a paz. Leio os jornais... consigo ler o El Pais completinho.... treino meu espanhol, atualizo meus textos das Ufba, tenho ideias de artigos, falo com as pessoas no msn  e escrevo em meu Blog.
Nessa hora consigo até esquecer que não tenho nem como ver tv deitada pelada na cama. Esqueço que tb não posso estar de calcinha no computador, lembro por algumas horas como é bom esse silêncio.E reforço meu desejo que cresce diariamente de ter o meu cantinho.
Eu juro que não ingrata, eu juro que sentirei até falta.... mas o limite chegou há tempos e é hora e cair fora.



13 de Abril.

E aí hoje eu acordo cantando : "sou metal, raio relâmpago e trovão"

É como se meu coração tivesse adestrado para se manifestar de forma melancólica em algumas datas. Será que é só comigo? Será que só eu não consigo deixar passar algumas datas que talvez já devessem ser passadas desapercebido?

Essa data, em especial, meu coração comemora gritando e meu cérebro, fazendo a parte dele, baixa o volume. E já acostumada a esse ritual anual, meu dia será como nos últimos 13 anos tem sido: meu corpo se moverá no automático, minha cabeça vai tentar imaginar desesperadamente como está seu dia de hoje, e meu coração vai querer muitas vezes sair de mim para ir lá. Dai eu vou acordar e já é amanhã.

Eu espero um dia postar sobre como não me sinto ridícula sobre isso. Como gosto de viver sem me desamarrar completamente de sentimentos antigos e que na prática sua existência não faz o  menor sentido.

Um dia pretendo descobrir se isso é algo que utilizo estrategicamente para tornar minha vida mais subversiva ou se sou demente.

Na verdade eu teria que discutir aqui o que de fato faz sentido, e quem dá sentido as coisas. De fato estudos subalternos e pensadores desconstrutores atuam de forma quase terapêutica.




Nesse dia, para mim, a única coisa que faria sentido seria um abraço bem forte e o cheiro de minancora que não sai de mim.

Hoje, desejo que o amor continue se transformando na eternidade, que seus dias não te maltratem e que as cores do dia-a-dia não se apaguem. No mais... saúde, paz, alegria . Tudo potente em você.

E meu presente, é sem dúvida o melhor sentimento e lembranças de época que jamais vai passar. Feliz aniversário!



quarta-feira, 11 de abril de 2012

O abraço da velha na Boca do Monte

Esse post é para uma casa que não existe mais. A casa da minha vó. Soube hoje que ela foi demolida e por isso a inspiração do post....  é como se, agora, uma parte de mim só existisse em fotos. E olhe que eu tento praticar o desapego... Lá se foi a casa da minha vózinha... demolida. Então escrevo para ela e registro o meu lugar da eternidade.

O ano passava inteirinho até entrarmos no avião com coisas pelos braços, sempre atrasadas para a possibilidade de uma vida nova. Passei a minha infância e boa parte da juventude vivendo com minha mãe suas tentativas de voltar a viver na sua terra natal. Essas tentativas duravam o tempo exato das férias de verão. Exceto uma vez, que o verão durou todo o inverno.
Verde Colorido - Chácara das Flores
Atravessava o país voando, e atravessava o estado gaúcho pela estrada para entrar na Boca do Monte...cheia de verde colorido, chão de pedra embutida, marcado de doces na esquina e chegava no portão menor que eu, com um ferrolho singular e lá estava a velhinha da Vila do Carmo, sentada em sua cadeira de balanço, com o mate do lado , a cabeça branca e o braço molinho, gostoso de apertar.
Dois meses voavam, e aprendi a viver morrendo de saudade de lá, ou de cá. Hoje quando volto a Santa Maria da Boca do Monte diminuiu a cidade, o chão de pedra asfaltou, o mercado virou lan house e a vovó já não está mais ali...Aquela casa, aquela vila, aquela vida , tinha muito cheiro de eternidade....nunca pensei que fosse acabar.
Mas... ainda sento na calçada e dou aquelas risadas infantis, e lavo minhas mãos do cheiro de cigarro cigarro nas filhas das pitangueiras e sonho em soltar meus filhos lá , para essa história continuar....

Vila do Carmo - a casa que só existe em fotos. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Aracaju pros olhos e pra alma

Fiquei tão confusa lá. Lugar lindo, cidade organizada, parecia um sonho viver lá.
Me deixou muito feliz ver uma cidade do nordeste tão desenvolvida , aliás, desenvolvida com tanta qualidade.
Dai senti muita vontade de morar lá.... mas acho que desejava isso caso minha vida fosse o que desejava antes de tudo mudar dentro e fora mim. Cheguei a  me ver andando pelas ruas, passeando com filhos e cachorro... cheguei a pensar na confortabilidade de "ser normal". Mas ao mesmo tempo não reconhecia mais naquela vidinha pacata e sem ruídos.
Talvez férias lá... umas férias longa, me ajudasse a sentir isso melhor.Senti desgosto, isso sim. Com Salvador e coma vida que levo hj. Não que me falte alguma coisa... talvez por sobrar muita coisa.
Mas em fim, viajar é sempre bom pra gente saber o que precisamos, mas mais ainda: pra saber o que não precisamos, o que não dependemos... Vamos em frente,que lá vem gente. Matutando uma ida ao sul...com calma e coragem....de sempre. Hasta la vista Santa Maria!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pegar a estrada

Fazer o que mais gosto de  fazer. Indo pra Sergipe, com meu filhote e amigos. Um sitiozinho e cidade gostosa, não vejo a hora de ver a cara de Aracajú. Será que vou sair de lá louca pra morar la?
Lógico que vou. A principio fiquei triste pq bê n vai...mas depois pro processo pelo qual passamos eu repensei e vi que, de fato, foi até bom isso ter acontecido, e darmos esse tempo de folga um ao outro...Ir la junto, e eu tinha planos de irmos pra la e agora já não será mais isso nunca...ja foi descartada a possibilidade de sermos "nós" e ja internalizei isso....e cada dia que passo me trabalho para nesse sentido me desprender de toda e qualquer ideia que me leve a esse sentimento....então melhor assim.
João vai adorar...experimentar viajar , vai passar 4 dias com dindo, com Rhuan...vai se divertir.
Em fim, vamo que vamo.
Só vai faltar minha Dudoca que preferiu viajar coma vó.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Carta para Felipe

Lipe,

Quanto tempo não me referia a vc assim.... desde ontem meus pensamentos estão para vc, o Dudu e a Gabi. Confesso que fiquei muito abalada, pq acreditava na recuperação dela, acreditava muito. E sou mãe, divido com ela a angustia de saber que está deixando o filho. Mas, na verdade, estou aqui para falar de você. 
Há uns dez anos atrás vc foi embora da minha vida, da mesma forma que entrou, de supetão. Desde então nunca mais nos olhamos nos olhos e isso é muito esquisito. Hj eu tenho 30 anos , dois filhos e muitas coisas mudadas em mim, meus bens imateriais são os meus mais preciosos, são os bens que eu não posso pegar , mas que tranquilizam minha alma e esclarecem minha escuridão. Eles me permitem por exemplo olhar pra trás e ver que vivemos felizes nosso namoro.... com toda loucurada...me diz,  qual era nosso problema? Dinheiro? Ciumes? Expectativas frustadas? Diante de nossa vida hoje , podemos dizer que tínhamos problemas? 
Em fim, esses bens imaterias que possuo, a vida me deu através de minhas experiencias, da minha tragetória , dos ensinamentos da minha mãe, da troca com a minha irmã, dos namorados que amei, das vezes que me frustei, das risadas que marcaram, do ensinamento diário que meus filhos me possibilitam... e principalmente a Universidade. 
Através dela eu compreendi uma movimentação que muito me inquietava e que não entendia. Não entendia e não gostava , porém não sabia como me movimentar diferente. Algumas coisas na nossa forma de viver a vida me fazia menos segura de meus desejos. 
Hoje quando lembro dos nossos anos de namoro, lembro nossos momentos difíceis, das coisas que me frustravam em vc, e consigo compreender perfeitamente , porque me incomodavam e porque para vc era tão difícil mudar. 
Foi lá na universidade que fui materializar a nossa dimensão no mundo. Fui compreender que somos todos construídos, numa lógica onde alguém constrói as coisas, as leis, os poderes, as religiões, e alguens que dão  valor a tudo na nossa sociedade. Alguéns com interesses nem sempre obvios, nem sempre claros o suficiente para a gente ver.
E aí eu compreendi que temos caixinhas. Caixinhas foram construídas para gente caber dentro, são caixas apertadas, com etiquetas bem escritas "branco" "negro" "índio" "católico" "protestante" "evangélico" "espirita""gay" "hétero""bi" "homem" "Mulher" "Rico" "pobre". Poderia passar a noite aqui, categorizando, falando o nome dessas caixinhas,e ai , aquelas mesmas pessoas que nos dizem e nos lembram todos os dias em qual caixinha nós devemos entrar são as mesmas pessoas que fecham as gavetas e nos deixam de fora de tudo quando por algum motivo não entramos nas caixas. 
Quem tá lá dentro das caixinhas está bem confortável e não quer nem saber o que acontece fora dela. 
E quem não tá? Pois é, tem gente , muita gente que tenta entrar nessas caixas, tenta numa, tenta noutra, e sempre uma parte de si fica de fora. É dificílimo caber nelas, e se conseguir entrar lá dentro é um aperto só, qualquer tentativa de se mexer pode ficar alguma coisa de fora.
E é assim que somos a maioria. Tentamos todos os dias nos encaixar nessas caixas, caber em algum lugar, pertencer a algum lugar, mostrar para pessoas que somos dignos dessas caixas. Muitas vezes nem sabemos se queremos mesmo estar nelas... mas pensar nisso é difícil porque também nos ensinam a não questionar porque temos que entrar em alguma dessas malditas caixas. 
Você e eu temos algo muito em comum, não cabemos nunca nelas. Eu , nunca me senti representada por nenhum esteriótipo de beleza, nunca me percebi igual as mulheres lindas que nos ensinam que são lindas  e que devemos ser assim, devemos atingir esse padrão... e isso me causava muito mal-estar , principalmente quando criança....quando comecei a pensar em namorados. Mas pelo menos eu pensava em namorados, não pensava em namoradas... porque ai já estaria fora de outra caixa. 
Você coube direitinho na caixa que eu não entrei. Lindo de morrer....sempre.Branco, olhos azuis, cabelos lisos, sorriso completo, peso ideal...todo dentro do padrão de beleza..... Mas nunca coube na caixa da "normalidade" , suas necessidades sempre foram fora do padrão. 
E aí  muitas coisas ficam de fora, porque você não atendeu as expectativas da normalidade , que é a caixa básica. Se tem uma coisa que vc não é, é normal. E isso me inquietava. Hoje o que me inquieta é... porque eu tenho que ser normal? Mais: O que é ser normal? Quem determinou o que é ser normal e o que é ser anormal?O que é o certo e o errado? 
E foi assim que eu cheguei a conclusão que ser normal é muito, muito chato. Que ser normal é ser comum, que ser normal é ser igual. E nessa igualdade eu não acredito e eu não quero para mim. Foi assim que de um namorado que me trazia lembranças de dor, você se transformou num grande exemplo de pessoa. 
Você está longe de ser normal e isso é que é lindo em você.
Hoje eu já lembro de nossa relação como a grande oportunidade que tive de viver com o diferente. Depois de você tive duas pessoas intensas na minha vida.Os pais de meus filhos. Eles foram o oposto que vc foi para mim. Foram a centralidade, o equilíbrio,  a normalidade. E foi com eles que mais desejei estar dentro das caixas, que mais lutei para estar dentro da maior quantidade de caixas que podia, quis atender todas as expectativas. No primeiro me frustei, e achei que entrei em poucas caixas, no segundo, foi tão bom pra mim , e é até hoje, que inicialmente sai entrando em todas as caixas que me ensinaram que eram "as melhores". E aí meu bem.... depois de tanto fechar e abrir caixa... resolvi sair de todas . E entrar onde eu quisesse, estrategicamente para sobreviver nessa sociedade, sabendo que nenhuma dessas caixas significa realmente NADA para mim. 
Sou louca? Devo ser.
Você foi o namorado que facilmente mais me desestabilizou, mais me frustrou, mas também o que mais de me acrescentou. Me fez questionar o que queria e não queria pra mim, o que arrancou gargalhas na marra, o que me mostrou o que é coragem, o que esteve por perto por todos esses anos como exemplo de muitas coisas.
O que eu quero dizer com tudo isso, é que depois de uma experiência como essa que vc vem passando, muita coisa sai do lugar, muito sentimento vem a tona e que é muito fácil a gente diante disso pensar que fez e faz tudo errado... mas que pensar nisso não vai te fazer melhor em nada.Você , só vc sabe exatamente onde vc acha que errou, e se isso lhe causa dor , recomece , tudo de novo, como vc fez quando chegou na Bahia, como você fez quando saiu daqui... como vc fez para estar em Camboriú. 
A dor lhe fará companhia ainda por um tempo, mas não faça dela uma companhia ruim, poque até a tal FELICIDADE foi criada, e só quem sabe o limite da sua é você. Isso não é uma carta de auto-ajuda. Isso é uma carta de amor... como a muito tempo não te escrevo uma.
Espero poder te dar um bom abraço dia desses.....
Fica bem, e continue sua caminhada do jeito que você achar melhor, e lembre-se que você não está só.

beijos

Carla.


Uma música para as noites que a dor dor maior que tudo, que a esperança quiser sumir e o mundo tentar gritar uma normalidade que não existe;

Escute:  http://www.youtube.com/watch?v=DIM1taAcUM0