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terça-feira, 5 de junho de 2012

Porque eu não gosto dos Estudos Queer


Tirando a venda dos olhos, a luz incomoda, desconforta. Uma irritabilidade inevitável naquela luz invadindo meu corpo e me tomando... tomando o que eu tenho de mais seguro e estável: minhas verdades e certezas.
Os estudos queer tomaram de mim minha identidade. Arrastaram pela ladeira abaixo, desconfiguraram, decodificaram minha identidade fixa. Eu que adorava dizer: sou assim e vou morrer assim. Daí vem esses estudos queer e jogam na minha cara que não sou tão assim, assim, e falam de trânsito, de fluidez.
Foi com estudos queer que descobri que minha tão sagrada heterossexualidade não é natural. Isso mesmo, eu não nasci hétero.  Aliás, esse conceito de heterossexualidade foi construído e reproduzido e ainda me jogam na cara que é reproduzido por interesses de poder. A minha heterossexualidade então é só mais uma possível sexualidade e que, mais profundamente falando, sequer existe uma só heterossexualidade, existem várias formas de vivenciá-la.
Os estudos queers também me proporcionaram um grande desgosto em saber que o mundo não é divido em azul e rosa. Era tão mais fácil: menino azul e menina rosa. Lógico. Mas não, meninos não nascem gostando do azul, dos carrinhos e das bolas, nem as meninas das panelinhas e dos bebês que trocam as fraldinhas. Eu ensinei isso para meus filhos. Eu, o desenho animado, o coleguinha, a escola, e todos os presentinhos bem intencionados construíram o gênero de meus filhos... e eles nem eram nascidos quando isso aconteceu. Lá na ultrassonografia, quando o médico disse: é menina! E minha casa virou um grande mundo rosa e todos os amiguinhos dela seriam possíveis namoradinhos.
Foi muito frustrante saber que, por trás de meu comportamento moderninho, tinha um bocado de discurso autoritário e ao mesmo tempo obediente às normas, que me achava autorizada a não aceitar que dois homens se beijassem na frente de meus filhos. Os gays podiam existir, eu deixava,  já não era o bastante?  Não, os teóricos queer me comprovam que na verdade eu vivo da forma que eu nunca concebi: desejando a norma. Mas o pior de tudo foi depois me mostrarem que essa norma hegemônica incide sobre os mais subversivos dos seres. Comigo não seria diferente. E eu, politicamente de esquerda, sempre antenadíssima nas mazelas sociais, sempre... estava confortavelmente reproduzindo.
Mas o mais destruidor pra mim foi parar de rir das piadas, não achar mais graça do que me é abjeto, aquele riso perverso, gostoso de dar à custa da abjeção alheia, que tanto me fortalecia e que garantia minha supremacia e agora não tem mais força. Meus amigos de infância eram tão doces, bonzinhos, divertidos, compartilhávamos de quase tudo. E hoje nada mais. Minhas amigas de sempre, de guerra, de risadas, de aprontes ocupam um interminável espaço de um dia no ano de encontro, e nesse dia os comentários machistas, sexistas, homofóbicos, racistas, preconceituosos, simplesmente não me deixam gostar de estar ali.
Meus ouvidos estão sensíveis a tudo: música, poesia, teatro, novela, filme, nada me escapa uma análise crítica do discurso. A minha banda preferida virou “A melhor banda heteromonogâmica do Brasil” e tem passado por duras análises.
Minha índole pacifica e tolerante, que me fazia ser de tão fácil convivência, os estudos queer detonaram e fizeram de minha docilidade um arsenal desconstrutivo contra toda e qualquer injúria e tentativa de aprisionamento de identidades.
Eu estou impossível. Como posso gostar dos estudos queer? O que fazer agora diante de tanto mal estar? Como volto para minha zona de conforto? Qual escola dará conta de tudo que quero que meus filhos não sejam? Como usufruirei tranquilamente de meus privilégios por aparentemente estar dentro das normas de gênero e sexualidade? Quem dará conta da minha inquietude? Hein, Estudos Queer?







Um comentário:

BlackMean disse...

O lance é viver na inquietude.