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sábado, 24 de agosto de 2013

meu amigo, meu amor

Façamos o necessário para que as lembranças sejam as melhores depois do último suspiro. Vamos abraçar, dizer que ama, sorrir e olhar com toda sinceridade (quando houver) ainda hoje. Amanhã não é tarde, é apenas longe do toque. - Últimos dizeres do meu amigo.

Dia 19 de agosto de 2013, virou um dia marcado pela perda, dor e despedida. Ás 21 horas recebo a ligação de meu orientador, cumprindo sua função de paternalista, anunciando cuidadosamente a morte de meu amigo Claudionor. Ele sabia o que aquilo significaria para mim, foi nosso professor e é hj meu grande amigo. Acompanhou nosso grude, nossos trabalhos, nosso carinho e admiração um pelo outro. Éramos sombras um do outro. Muita gente achava que éramos casados. E de certa forma, éramos.
Ele se despediu de mim.
 Foi meu primeiro e mais forte vinculo dentro da universidade há 4 anos atrás. E foi amor a primeira vista. Eu lembro exatamente a primeira frase que trocamos numa aula de Estudos das Culturas. E ele cheio de sarcasmos me fez sorrir e identificar ali muita coisa em comum a mim.A partir dali foram 3 anos de grude, de amor e cumplicidade. Ele sabia tudo da minha vida, reconhecia minha energia, meu estado de espírito, meus problemas e minhas soluções. A gente ia ter um filho. meu amigo era gay, e dizia que ia ser Dr. da Ufba pra poder ter um filho comigo , pq ele achava que meus filhos eram os mais lindos do mundo e que seria uma boa mãe pra o filho dele. Maior prova de amor que isso? No nosso ultimo encontro ele já tratou de borrar isso e disse que aquela altura da vida já tinha desisitido de ter filho, pq o mundo não ta pra brincadeira. Foi uma forma linda dele matar nossa “brincadeira” e nosso sonho, antes dele morrer.
Ele pensou em TUDO.
Meu amigo. Foi embora. Pra sempre. E mais uma vez eu tô nessa vida lamentando... "se eu soubesse disso teria feito mais".
Porque ele não me contou nada? Porque ele viveu isso sozinho? Racionalmente eu sei, eu sei que ele queria nos poupar, nos proteger. Porque ele me olhava sabendo que ia morrer , e ria minimizando sua própria dor? Eu senti muita raiva dele, me senti traída. Mas eu tenho direito de sentir isso? Eu não sei. Sei que estou a cada segundo vendo meu amigo paradinho na minha frente, andando dentro da minha casa, fazendo graça da vida. Sua voz não sai da minha cabeça ele passa o dia me falando coisas. E eu vou ter que me conformar com sua ausência em minha vida. Vou ter que sentir essa dor. Vou ter que me acostumar em esperar ele aparecer de alguma forma nos meus sonhos, a passar dias imaginando como foram seus ultimos momentos, sem mim..... E principalmente tentar tirar da minha cabeça a imagem dele dentro daquele caixão, com aquela cor sem vida, sem seu brilho.
Nossa trajetória foi linda, o carinho que tínhamos um pelo outro era de outra vida. 
A sensação de que nunca mais vou ver ele , que nunca vai ele vai me atender  dizendo: "ta onde kenga?" , ou vai replicar minhas brincadeiras "ahhh vadia!!" , ou vai falar de seus planos com aquele cuidado em concordar as frases perfeitamente.  E não vou conseguir ir no PAF III tão cedo... receber perguntas e consolos sobre a perda de meu amigo...e ir em Letras sem ele tomar café sem açúcar.
Ele me ensinou a rir de mim mesmo,e  eu ensinei a ele a não rir dos outros, e isso nos custou muitas risadas, conversas e descobertas. 
Ele fez tudo que quis. Ele planejou como seriam seus últimos dias. Ele levou a paz que achava necessário para sua família conseguir sentir menos dor em seu ultimo suspiro. 
O enterro foi dor e dor. Ver meu amigo ali era um pesadelo da pior especie. Ter que ser forte é muito ruim, a vontade era abrir aquele caixão e gritar com ele: SAIA DAI AGORA,DEIXE DE PALHAÇADA! Numa espécie de loucura , eu tentava ver algum tipo de respiração, naquela roupa que não tinha nada a ver com ele, mas aquele peito que tantas vezes me acolheu não se mexia. Não tinha jeito. Meu amigo tava morto, e eu tinha que lidar com isso.
Fomos pra casa da mãe dele depois de sepultá-lo. Acho que fizemos algum bem aquela senhora que numa tentativa muito generosa de nos agradecer nos encheu de sacola de frutas, e eu, com melancolia tomando conta de mim, só pensava em coisas do tipo: Vou plantar essas sementes no meu jardim. Meu amigo deve ta me vendo na casa dele, com a mãezinha dele. Foi aqui que ele viveu os últimos dias sãos.

Eu acho que ainda vou passar dias como estou: pensando nele, ouvindo ele, sentindo o cheiro dele, tentando captar seu ultimo sorriso, suas ultimas palavras comigo, tentando entender a forma que achou de se despedir de mim, imaginando onde ele está, pensando como viver sem ele na minha vida, com medo de perder algum outro amigo, e com a expectativa que ele me procure nos meus sonhos e venha dar o abraço que não me deu antes de partir.  E vou respeitar isso, acho que devo mesmo viver esse luto assim, e deixar meu coração sangrar até sarar. E ainda vou chorar a cada e-mail que receber de gente que sabe do nosso amor e imagina a minha dor.

A paulada foi forte e eu tenho certeza que toda vez q eu tocar nisso vou sentir alguma forma de dor, o que eu preciso é saber conviver com ela.

Eu te amo meu amigo, e vou morrer de saudade .  



Uma música, para celebrar a dor de viver e de morrer, tenho certeza que você onde estiver está de meu lado. 

Sou Parsifal


Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno nosso amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar
Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar
Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração
Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar
Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado
Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir
Tenho jasmim tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção p'rá mim

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo texto !