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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Troféu nada, bomba.[PANDEMIA]

Tava lavando o banheiro e lembrando de um ex falando que eu tinha "derrubado" todas as mulheres e virado a namorada oficial. O termo derrubado aí cabe como vencer. Eu venci a batalha, ganhei o troféu. Ele, entre tantas mulheres, me escolheu. Sorte a minha né? 

Ainda lavando o banheiro ( de onde saem meus textos mais inquietos) eu me vi com 13 anos de idade, na escola Tomaz de Aquino, me metendo em treta com outra menina pq travamos uma batalha por um menino. Um pirralho tb de 13 anos, vários centímetros mais baixo que eu , e muito do abestalhado. 

Lembro da sensação maravilhosa que senti quando ele finalmente escolheu ficar comigo. Depois de muitas idas e vindas, depois de muita turbulências, desorganização emocional, treta e situação confusa com a outra pobre coitada. 

Eu tinha só 13 anos e já estava operando nessa lógica. Eu devia estar aprendendo a compartilhar afeto, somar amor, fortalecer com outras meninas, descentralizar os boy da vida, mas no entanto eu estava fazendo exatamente o oposto disso tudo, e iniciando a minha caminhada de equívocos naturalizados e sofrimentos desnecessários. 

Me dei conta que até um tempo muito recente, eu vivi muitas situações assim na vida , em que nas minhas relações eu me via disputando um boy com outra mulher. Várias vezes na vida, me vi em relações que de algum jeito me colocavam na situação em que eu devesse fazer mais para merecer ser escolhida por ele. Eu me lembro de todas as vezes que precisei diminuir outra mulher, que precisei jogar baixo, ou que simplesmente ignorei seus sentimentos e passei por cima com tudo. Foi assim que aprendi, é assim que a musicas nos ensinam, as novelas, os filmes, a naturalização do amor romântico monogâmico e abusivo. 

Como nunca estive entre as meninas mais bonitas da turma, sempre precisei usar de minha inteligência pra arquitetar a situação a meu favor, me tornei uma manipuladora de invejar qualquer diretor de novela. Mas a manipulação deixa a manipuladora exausta, me dei conta disso tb a muito pouco tempo, e me libertar dessa função, depois de um intenso trabalho terapêutico, me desobrigou a estar num eterno lugar de estado de atenção. 

Vários anos depois, já imersa nos debates de gênero, debatendo as naturalizações que se estabelecem em nossas vidas, ao escutar de meu ex falar essa suposta verdade disfarçada de brincadeira, senti algo muito diferente de quando tinha 13 anos,

Medo e vergonha. 

Senti vontade de me esconder do mundo. O que eu tinha feito então pra merecer aquilo tudo, esse grande boy? Porque eu estava de novo naquele lugar? De que diabos de bomba as outras mulheres se livraram e eu estava segurando em minha mão? Durante todo nosso tempo juntos eu fiquei com as palavras dele ecoando em minha cabeça. através de sua própria narrativa e minha escuta já treinada, descobri porque o presente de deus de tantas mulheres havia sido deixado de lado em suas relações. E resolvi aquilo dentro de mim. Elaborei buscando compreender esses mecanismos que nos colocam diante de tanta desnecessariedade.

hoje quando uma mulher conhece algum de meus ex e começa a se envolver com eles, me controlo da vontade de pegar na mão delas e dizer: vem ca minha filha, deixa eu te contar um negócio.... 

Longe de ser um sentimento de vingança contra o boy, que certamente vai achar isso, pq afinal é tudo sobre eles (contem ironia) , é a sensação de que eu gostaria que tivessem me avisado. Ainda assim eu teria namorado com ele, mas teria me demorado muito menos em situações chaterrimas. Não faço isso, não acho que funcione , nem que eu tenha direito, a menos que seja um caso de violência, ou que a moça venha até minha porta procurar saber do lattes do boy, me controlo. 

Um dia fiz um experimento de colocar em pratica tudo que eu estava desconstruindo sobre tudo isso. E a situação perfeita aconteceu quando um boy me colocou na situação de enquanto sua paquera, desavisadamente, incluir sua outra paquera sua em nossa programação, sem me perguntar o que eu pensava daquilo, bem na pegada: vamos ver como ela se comporta. 

Se fudeu.

Eu e a moça quase nos beijamos ali mesmo na frente dele. Entendemos logo onde ele queria chegar, e sem nos dizermos uma palavra sobre aquilo, excluímos ele do programão que ele nos arranjou, e ficamos nós duas juntas  rindo, nos interessando uma pela outra, e hoje somos amigas e nos admiramos demais e #elenão. 

Ele desde então passou a  morrer de ciúme da moça comigo, e tensionar nossa aproximação. Isso permeou toda nossa relação o que me deu ainda mais material para refletir sobre essa logica. Ele se fudeu, mas a ideia era que eu e ela  se fudesse. A ideia , era justamente colocar o pau na mesa e dizer: briguem por ele, quero ver quem ganha! Falei varias vezes isso pra ele, expus,a situação pra ele, quis construir uma reflexão sobre isso com ele. Ele jura de pé junto que não teve a intenção, de que não foi bem assim, ah pelo amor, das deosas né? faz nem um esforço de reconhecer suas limitações, se olhar, e ter a humildade de reconhecer a merda que fez e faz sempre. 

Quando a gente desmascara isso, é potência pura, é giro, deslocamento de lógica. eu saí tão feliz daquela noite, entendendo tanta coisa que perdeu completamente o sentido de disputar homem com outras mulheres. Jamais na minha vida isso vai acontecer novamente, eu abro mão de qualquer homem pra qualquer mulher, seja qual for a situação, sem pestanejar.

É libertador retirar esse peso de nós. Por muitos motivos , mas para mim o principal, é que mulher nenhum deveria passar por isso , simplesmente para satisfazer o ego do boy q n consegue refletir sobre suas emoções e sentimentos de insegurança, não consegue falar das coisas tem medo, pq esse é um lugar inóspito às masculinidades. Ao invés disso, preferem estabelecer relações a partir da dominação e se nutrindo de nossa subserviência emocional.

Só que a gente já ta ligada meu fio, 

já passou esse tempo

e se depender das véia aqui

vcs vão ter que construir um outro planeta para viver confortavelmente como boy-estátua-da-década-de-90 em seu mausoléu cultural de suas masculinidade típicas e pouca. 

melhorem, mas melhorem muito e rápido.


Nada coincidentemente, hj li esse meme circulando por aí, e lembrei de como eles são e como eu já me melhorei,



   



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