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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Monogamia?


Entrevista da Marie Clair com a Rede de Relações Livres . Muito boa.



"A monogamia já era"

Entrevista completa de Regina Navarro Lins para a

Revista Marie Claire deste mês.

Em dezembro sairá a entrevista

com a Rede Relações Livres.

.

MC - Então a monogamia está com os dias contados, é isso?
RNL - É evidente que eu estou falando de tendências de comportamento, não de mudanças em curto prazo. Hoje, a maioria dos casais pode me achar louca de afirmar que o casamento monogâmico já era. Mas há, no mundo todo, sinais que mostram que casais mais liberais tendem a ser mais felizes. A revista do New York Times deu recentemente a seguinte capa: “Infidelity keeps us together” (A infidelidade nos mantém juntos) . É um exemplo disso.
MC - E por que isso nos faria mais felizes?
RNL - Nada é garantia de nada. Mas já sabemos que esse modelo que inventamos não deixa as pessoas felizes. Quem casa e opta por se reprimir em respeito ao outro pode pagar um preço muito alto. Você pode até controlar o seu desejo, mas ele vai continuar existindo em algum lugar. Daí, anos depois, você descobre que seu marido não fez o mesmo. Pronto, seu mundo caiu. Agora me diga, com toda a sinceridade: por que quando uma pessoa se casa não pode transar com outra? Historicamente, eu sei que era porque o homem não queria que sua herança fosse de outra pessoa. Mas, fisiologicamente, isso não faz sentido. Está mentindo quem diz que nunca teve tesão por outro além do marido. E mais, sexo é feito bateria de carro: se você não usa, descarrega. Por isso, o casamento monogâmico é o relacionamento no qual menos se faz sexo.
MC - É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?
RNL - Sim. O que gera sofrimento não é a traição, mas a crença no pacto de exclusividade. E o pior é que a maioria dos meus colegas não vê isso. São um bando de caretas, sabia? Todos, sem exceção, justificam a traição dizendo que o casamento vai mal ou que o amor acabou ou porque um deles quer se afirmar. Gente, não é nada disso! As pessoas têm relação extraconjugal porque variar é bom, não porque o amor acabou! Isso vai completamente na contramão do que se busca hoje: a individualidade. As pessoas querem se testar, se conhecer, perceber seus limites. É por isso que o amor romântico tende a acabar, por pregar o fim da individualidade por respeito ao outro.
MC - Que outros sinais mostram que essa mudança já começou?
RNL - É só ver a quantidade de casas de suingue que tem por aí, mulheres traindo e assumindo casos, buscando sua felicidade sem se colocar como subestimada. E não são mais pessoas procurando salvar relações falidas. São jovens que vão atrás de prazer e ponto. São tendências que apontam a mudança de mentalidade. Cada vez menos pessoas vão querer se fechar numa relação a dois e optar por relacionamentos mais soltos. Se bobear, minha tataraneta (ela tem uma neta de 15 anos) vai dizer: “Gente, tadinha da minha tataravó, precisava ter um parceiro só para tudo” (risos).
MC - O que você está propondo é uma espécie de poliamor?
RNL - De certa forma, sim. O poliamor implica ter relações sexuais e afetivas com pessoas diferentes. É assim: eu amo meu marido e transo com ele, mas também posso transar com outras pessoas, ir com elas ao cinema, viajar. Fazer o que quiser, com quem quiser, sem obrigação de exclusividade. Eles não amam com o sentimento de posse sobre o outro, por isso não sentem ciúme. Para eles, o ciúme está ligado ao medo da perda.
MC - Mas esse amor livre não poderia facilitar o abandono, aumentar a possibilidade da perda? Ou não seria uma forma de se proteger contra ela?
RNL - Mas nesse tipo de relação livre não existe a possibilidade de ser trocado, porque as pessoas não precisam escolher. Veja, muitas pessoas são abandonadas, certo? Aposto que 100% delas viviam uma relação supostamente monogâmica. Ou seja, uma relação fechada não é garantia de que você nunca será abandonado. A vida toda nós fomos instruídos a dirigir nossa energia amorosa e sexual para uma pessoa só e é nisso que a gente se apega. Daí, se isso não dá certo, sofremos horrores. Sentimo-nos abandonados, jogados às traças. Mas, na verdade, o abandono acontece já nos primeiros segundos de vida. No momento em que saímos do útero da mãe, já vivemos o sentimento de falta. Aquele conforto e segurança, não teremos nunca mais. Por isso, crescemos tentando reeditar o que tínhamos no útero. E, com essa n ossa cultura, a coisa fica ainda pior. Em vez de ensinar o ser humano a viver sozinho, a sociedade prega que é preciso achar alguém que o complete, sua alma gêmea. Isso é a ilusão do amor romântico.
MC - Você acha que daqui a 40 ou 50 anos os casais monogâmicos serão minoria? Sofrerão preconceito?
RNL - O que eu espero é que haja espaço para tudo, sem preconceitos. Não seria certo que a regra fosse “agora todo mundo vai ter de transar com todo mundo” e que os casais que optaram pela monogamia ficassem excluídos. O importante é que cada pessoa escolha sua forma de viver e não reproduza um modelo por inércia nem medo de sofrer preconceito.
MC - A internet ajudou a acelerar essas transformações?
RNL - Sem dúvida. Ali, tudo é permitido. Quando criaram os primeiros chats, eu fiquei louca para saber como era o sexo on-line. Em 1998, por pura curiosidade antropológica, passei alguns dias fazendo sexo virtual. Queria muito saber se era possível sentir prazer com uma pessoa a distância, e hoje sei que é. E eu não me masturbava, viu? Não conseguia digitar e me tocar ao mesmo tempo, mas quando acabava a transa me sentia exausta, satisfeita mesmo. Foi uma experiência muito legal.
MC - Você já fingiu orgasmo?
RNL - Ah, já. Há muito tempo. Devia ter uns 20 anos quando fiz isso pela última vez. Era uma garota ansiosa como tantas outras. Mas acho isso horrível. Sempre digo para minhas pacientes não fingirem, senão elas vão viciar o homem em um modelo errado, acostumá-lo a achar que orgasmo é algo fácil e corriqueiro. E não é! É uma maravilha que custa para ser alcançada. Isso está diretamente ligado à autoestima. A mulher que gosta de si não tem problemas em fazer o homem trabalhar mais e melhor para fazê-la gozar. Agora, a que sofre de baixa autoestima se sente constrangida e finge para acabar logo com isso...
MC - Quando garota, você não sonhava com o príncipe encantado?
RNL - Não. E minha irmã dizia que eu tinha alma de homem, porque criticava o fato de ela ficar esperando o príncipe dela.
MC - Feministas mais radicais não gostam que os homens paguem a conta. É o seu caso?
RNL - Hoje eu pago, amanhã ele paga e depois dividimos. Prefiro assim. Cansei de ouvir mulher dizendo: “Ah, só me faltava essa: pagar motel!” ou “Não me incomodo de dividir restaurante, cinema, mas motel quem paga é ele”. Isso me revolta. Se os dois vão ter prazer, não há qualquer problema em dividir a conta. A mulher não é uma prostituta que está ali para servi-lo e por isso cabe a ele pagar por tudo.
MC - Mas e se o homem quiser pagar? Qual o problema?
RNL - A questão que eu quero colocar é chega de que “homem deve pagar a conta do motel simplesmente por ser homem”. As mulheres querem os benefícios da liberação feminina — tipo casar dez vezes, transar na primeira noite, ganhar bem —, mas não querem o ônus. Se os direitos são iguais, são iguais também os deveres. Isso é puro machismo! Não conheço homens que sustentem a mulher e não usem isso contra ela. O dinheiro confere poder, faz com que a gente se sinta superior. Tanto que eu, se só tivesse duas opções, sustentar ou ser sustentada, ficaria com a primeira. Deus me livre ter de pedir dinheiro para comprar minhas coisas (risos).
MC - Condena o cavalheirismo?
RNL - Não, mas sei que ele é uma herança da cultura patriarcal da Idade Média que se disfarça de gentileza para atestar a força masculina e a fragilidade feminina. Gentileza é uma via de mão dupla. A mulher também pode mandar flores, assim como o homem pode ser gentil cozinhando. É tudo convenção. Que tipo de homem deseja proteger uma mulher? Certamente não um que a veja como uma igual, mas aquele que se sente superior a ela.
MC - Por isso o homem está em crise?
RNL - Sem dúvida. Para os que não se libertaram do mito da masculinidade (ou seja, a maioria), as mulheres que combatem o cavalheirismo são uma afronta. Eles se sentem ameaçados, pois não conhecem outro papel senão o de guardiões, protetores. Para eles, essa mudança é muito nova. No século 19, o marido tinha o direito de bater na mulher com uma vara do tamanho do seu antebraço e da grossura do seu dedo médio. Parece piada, mas é verdade! Depois me perguntam se eu sou feminista. E dá para não ser? Só não é feminista quem quer continuar vendo a mulher ser oprimida.
MC - A febre dos sex shops mudou o padrão dos relacionamentos?
RNL - Não. Mas deveria. As mulheres, principais frequentadoras de butiques eróticas, ainda ficam tímidas. Compram, no máximo, pequenos artigos para se masturbar. Não para transar junto com o parceiro, porque os homens entram em competição e acham uma ofensa. Chega disso, gente (grita)! Temos de combater o preconceito pelo menos na hora da transa. O sexo com o parceiro e o vibrador ao mesmo tempo é fisiologicamente imbatível. Enquanto o parceiro cuida da penetração, o vibrador estimula o clitóris e o orgasmo é duplo, mil vezes mais intenso. Incomparavelmente melhor.
MC - Você e o Flávio usam? Isso não é um problema para ele?
RNL - Usamos, claro. O Flávio é superbem resolvido. Uma vez fomos à Praia da Pipa e, quando me dei conta de que tinha esquecido o vibrador, peguei um táxi e rodei Fortaleza inteira atrás de um sex shop. Comprei um novo, grandão. Para que vou me conformar com um orgasmo simples se posso ter um duplo?
MC - O que é mais comum: que a pessoa sofra porque foi traída ou que ela sofra porque, depois de traída, foi abandonada?
RNL - As pessoas morrem de medo do abandono, e o problema é justamente relacionar isso à traição. Uma coisa não tem a ver com a outra.
MC - Nesse caso, estamos falando da traição simplesmente sexual. E quando ela é emocional, quando existe um envolvimento amoroso?
RNL - Não usaria a palavra traição em nenhum desses casos. É pejorativo demais! Trair, para mim, é alguém estar comigo por algum interesse e não por amor. Relação extraconjugal não é traição, é a coisa mais banal que existe. As pessoas deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: 1) me sinto amada?; 2) me sinto desejada? Se a resposta for sim para as duas, tenho certeza de que está tudo bem na relação. No fundo, isso é o que importa.
MC - E se a resposta for não?
RNL - Aí a questão não é ter ciúme ou ser traída. É se vale a pena continuar numa relação mesmo sem ser amada. Na minha opinião, quem não se sente amado deve partir para outra. Isso é vida. Tem pessoas infelicíssimas dentro do casamento, se agarrando como náufragos um na perna do outro só para não ficar só. Isso é uma fantasia.


2 comentários:

renata lennon disse...

seu blog esta me ajudando muito como mae mulher e dona de casa obrigada

Carla Freitas disse...

nossa rê q bom q meu blog ajuda alguem , q honra!!! Bjoca