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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Das tragédias que nos tiram a paz.

Sexta-feira saí do trabalho meio dia e entrei num site de jornal local. A capa anunciava a tragédia: Casal de irmãos morre em acidente de moto em Ondina.  Senti medo de abrir aquela matéria pq Ondina é bairro vizinho ao que fui criada, e morei a vida toda, um bairro pequeno e de gente que se conhece por todo canto, nem que seja da fila de super mercado. Abri o link. E tava lá : Emanuel e Emanuella Gomes, 21 e 22 anos, respectivamente.  Dez anos mais novos que eu. Mas eu conhecia. Conhecia Emanuel de pequenininho andando pelas ruas da Barra, e Emanuella, linda de morrer, dos bares e amigos em comuns. Emanuel era muito mais familiar, tínhamos muitos , muitos amigos em comum. Vi aquele menino subir e descer em onda, andar de bike cheio de malandragem de quem acha que a vida é  louca. E é.



Fiquei péssima, e não quis saber os pormenores. A tragédia tava feita, morreram em acidente de moto. Ai comecei a ver as postagens no facebook de amigos , todos odiosos, querendo matar uma médica que causou o que  acidente. E aí descubro que nem posso chamar de acidente. Passei o final de semana com isso na cabeça. Todos os jornais falando disso, todas as pessoas falando disso.
E pensei que sociologicamente falando, como vende uma tragédia branca de olhos claros e um carro do ano. A imprensa baiana está feita por um bom tempo. A velha historia das mortes que choramos e as mortes que se quer sabemos. E logicamente tomada pela dor de tantos amigos, pela dor da tragédia em si, prefiro deixar que meus colegas façam essas analises e que eu fique me resguardando, em respeito a minha própria dor e principalmente a dor de meus amigos.


Como eu me lembro dele. Junto  com todos os outros moleques da Barra que poderiam estar com ele nesse mesmo acidente.

Analisando o ocorrido, que merda de surto foi esse que essa mulher teve pra jogar o carro nessa
moto?  Antes disso , que merda de reação teve esse menino que causou esse surto nessa mulher? Eu posso olhar essa tragédia por vários ângulos, mas não consigo em nenhuma deles pensar que essa mulher quis ser assassina desses irmãos. Com isso não estou dizendo que acho que essa pessoa precisa sair impune. E muito menos culpabilizando as vitimas. A médica, deve pagar pelo risco que resolveu assumir. Obvio. Mas certamente não será prisão penitenciaria que vai amenizar os estragos dessa tragédia. O inferno dessa mulher está só começando. Mesmo livre de penitenciária dificilmente ela viverá nessa cidade sem sofrer risco diário de linchamento moral, dificilmente ela comprará um pão no anonimato, sem sofrer retaliações de todos os níveis. E olhar seus filhos crescendo e pensar em como deve ser vê-los morrer aos vinte anos vitima do surto de alguém.



E a minha loucura com a morte

Bem, aqui vem a parte dois. Como alguém que perdeu alguém recentemente e que tem varias questões muito mal resolvidas com a morte , digo que entrei num de autismo absoluto com essa historia toda. Sábado estava indo pra casa da minha irmã, passei na frente do local do acidente. um dia depois, e o sangue deles ainda estava secando no chão. É simplesmente inacreditável que a pessoa saia viva de casa, pra levar a irmã no aeroporto, e depois ir trabalhar, se despeça da sua mãe e nunca mais volte, se estrebucha no chão para sempre.
Um segundo, só um segundo a mais ou a menos e eles estariam vivos, e tudo isso poderia ter sido evitado. E aí é cuidar pra cabeça não pirar, pq eu fico lembrando de Emanuel, e pensando, quantas vezes aquele moleque passou ali de bike? Quantos carnavais ele pulou e parou ali, no lugar que um dia ia morrer? Ele morreu exatamente onde a turma dele estaria se a rua tivesse fechada e o circuito de carnaval estivesse pronto. Era onde eu estaria tb. Era onde eu passei  minha adolescência estando. E aí eu olho praquele mar, pras ondas que ele não vai mais pegar , pros nossos amigos pensando em como se livrar dessa assombrosa historia. Pensar nessa mãe, que vai quer que passar por alie  ver aquele chão manchado pra sempre, ver aquele mar vazio, a bicicleta dele parada.

Meu sentimento é de dor, por eles, por meus amigos, por minhas lembranças , por essa mãe e pela família dessa médica também, que para sempre vai carregar o fardo de um duplo assassinato.


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