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domingo, 1 de março de 2015

A vida é uma piada

há alguns anos atrás, uns 4 talvez, liguei para minha amiga, dizendo que tava afim de dar uma saída, ia ter Jorge Benjor no Pelourinho e  eu convidei ela pra ir comigo. Ela rapidamente me respondeu: -Quem é esse?
 
E eu do alto da minha arrogância pseudo-intelectual , pensei: meu Deus é sério que eu vou ter que explicar isso? Ela ta de sacanagem comigo né? só pode!
 
De fato nós duas sempre tivemos muito pouca coisa em comum em nossos gostos e história de vida. Nossa amizade forte sempre se deu por uma força quase que espiritual, uma afinidade astral que foge do campo da razão. Para ser mais sincera, tinha tudo para dar errado, para ser o contrário, pra gente se olhar na rua pensar como é bom manter a distancia de 'certo tipo de gente'.
 
Mas não foi. Talvez a idade que a gente se conheceu, nossas experiências toxicas tenham nos favorecido um contato com mais desprendimento.
 
Fabi sempre foi a menina criada com a  vó rica, e eu sempre fui a menina criada pela mãe solteira muito doida e pobre. Eu desde sempre precisei me virar na vida e trabalhar desde muito cedo, ser participativa na nossa casa e fazer escolhas dolorosas. Fabi não sabia como o botijão de gás aparecia na cozinha, e me ligava em desespero quando se via numa situação, 'inusitada', dessas, Quase sempre eu ria e ajudava ela a resolver seu grande problema, não sem esculhambar ela todinha.
 
A barra pesou pro lado dela quando com 16 anos engravidou. O bicho pegou de verdade. Dentro do campo financeiro nada preocupava. Nunca preocupou. Mas ela tinha 16 anos, estávamos no cientifico, fumávamos maconha todos-os-dias-da-vida. Vivíamos na praia, e criança era a única coisa que não precisava acontecer aquela época. Ela abriu a porteira da maternidade de nosso grupo diverso de amigas. Era bem surreal pra mim que aquela menina magrela ia ter um bebe na barriga.
Lipinho nasceu saudável, numa noite de carnaval, de parto normal, e foi para o braço de uma menina que não sabia o que fazer com aquilo. Eu só teria minha primeira filha 4 anos depois de Lipe ter nascido. Muito possivelmente nossa amizade se apoiou muito dessas intercorrências. Uma vez um rapaz muito do querido me disse que as relações se sustentam das intercorrências e adversidades da vida. Um tanto pessimista, mas eu tendo a concordar com ele.
 
Bom, com Fabi vivi coisas indizíveis, já com Lipe nascido. Dividíamos muitos segredos. Foram muitos verões na Praia do Forte experimentando a sexualidade e os limites do corpo com excessos. Foram muitas festinhas, muitos atraques e fechações. Éramos bem abestalhadas, é verdade. E tínhamos certeza que não. Sorte grande ter dado tudo certo.
 
Ainda assim nossas diferenças eram gritantes, e quando elas berravam entre nós as conversas eram longas e produtivas. Eu sei que eu sempre assustei Fabiana, e eu bem da verdade, gostava de tirar ela da zona de conforto  e fazê-la pensar de outras formas. Eu era muito menos arrogante que sou hoje, mas já exercitava meu poder dessa forma desde cedo.
 
Depois que eu tive minha filha é que fui verdadeiramente descobrir o coração de Fabi. Que pessoa linda! Foram dias de muita dificuldade , de todos os aspectos e ela foi sempre sensacional.
 
Ontem, uns 18 anos depois da gente ter se conhecido... Fabiana casa. Um casamento que sempre sonhou. Um casamento que eu acompanhei de perto desde seu sonho até sua realização... com um cara que foi um alivio para todas nós hahahahha. Fabiana me contou tudo, exatamente tudo sobre o casamento...Fabiana sabe meus gosto, Fabiana sabe que entre o trio de psirico e os trios alternativos eu estarei fora das cordas... Fabiana me lê de trás pra frente... mas foi incapaz de mencionar a possibilidade do tio dela estar na festa e fazer um show. Tio esse, que sempre fui fã e só descobri que era seu tio, depois de 15 anos de amizade e uns 15 carnavais juntas, no enterro de seu avó, o querido Vô Dudu.
De repente Armandinho estava no palco. Como assim amiga?
Eu só olhei para ela de longe, tava ela lindérrima,  toda de branco , e eu de cá, bêbada, cai em mim. Essa é Fabiana. Armandinho não significa nada para ela além de um parentesco. E aí que ele Dodô e Osmar criaram o trio eletrico??? hahahah Ela tá lá de costas para o palco torcendo que aquilo acabe e desejando que o Dj toque PararaTibum, hahahah e como eu amo ela. Como eu amo sentir ódio dela por estar surpresa que Armandinho está no palco...
 
 
Resultado, bebi aceleradamente de euforia. Bebi como se fosse a avenida. Carnavalizei tudo de novo. Já estava em outra dimensão.. quando comecei a olhar para Fabiana e para o palco e perceber como é linda a diferença.. como somos mais lindas ainda  de sobreviver a ela durante todos esses anos.  Gritei , dancei, xinguei ela com aquele vestido branco lindíssimo e me rendi a seu dia, fui até o chão com ela, e nos divertíamos como há muito não fazíamos. Joguei minha dignidade no lixo, tirei todos os discursos higienizantes de meu corpo (são bem poucos), cantei Jorge e Mateus sem saber a letra , agarrada com ela, dancei "eu vou, eu vou, sentar agora eu vou" de forma erótica e chutei todos os baldes.
 
O casamento foi muito mais que uma celebração de amor, em mim tiveram outros efeitos.
 
E quando me vi, estava com 33 anos, dançando trenzinho da sacanagem com Armandinho, que desceu do palco e decidiu rasgar rua dignidade junto com a gente.

Ela é que é feliz.

E eu estou aprendendo.






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