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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Pele que Habito - Almodóvar

Ontem fui rever o filme. Dessa vez mais preparada, mais reflexiva, e mais observadora. Consegui inclusive perceber as reações das pessoas ao terminar o filme e as luzes se ascenderem. Mãos na boca, ruídos de espanto.
Definitivamente Almodóvar se superou. 
Se ele não leu  Focault, Derrida, Deleuze ou Butler ouviu falar muito deles!!! Queria muito saber a opinião de Berenice Bento sobre o filme.
O longa é de tirar qualquer um dos eixos. Primeiro porque desconstrói completamente a linha coerente que nos é imposta sobre gênero- desejo-pratica sexual.
Almodóvar toca sutilmentemente na questão da ética médica e nas possibilidades de construir e desconstruir os corpos, joga na cara da ciência a relação entre pesquisador  e objeto de pesquisa como algo inevitavelmente pessoal. 

O que mais inquietou pós- filme foi a cena em que Vera no processo de desconstrução de seu corpo masculino recebe vestidos e os rasga. Naquele momento fica evidente a subversão dela dentro das possibilidades em que se encontra. Vicente, ainda se sente Vicente. Vicente não quis ser Vera, foi imposto a ele uma feminilidade que seu corpo não reconhecia e que ele só passou a se filiar para conseguir fugir da condição de prisioneiro.Sim , me referi a Vera como homem , como ele se identifica.

É nesse momento que é válido pensar em como devem se sentir violentados os corpos controlados. O filme aborda o contrário do cotidiano. O que costumamos ver são corpos biologicamente nascidos sob determinados gêneros, que não se reconhecem como tal e que podamos suas tentativas de reconstrução. Esses corpos lutam por sua legitimidade e hoje o estado custeia sob um forte arsenal de condições a cirurgia de mudança de sexo para os sujeitos transexuais quem se identifica como "em crise", ou seja, essas sexualidades estão ligadas a patologia, e no contra poder há uma corrente que exige essa despatologização. Principalmente porque não é uma questão de demanda hegemônica as questões das identidades Trans  pode-se inclusive  ir para além de um gênero definido, enquadrado nas normas, legitimamente reconhecido pode-se querer viver exatamente  no trânsito  dos gêneros, sem que necessariamente sinta necessidade de mudança de sexo.

E aí , o que fazemos com isso? O que fazemos com essas demandas? Fechamos os olhos ? 
Simplesmente lhes empurramos vestidos para se sejam mulheres, calças para que sejam homens? 

A pele que habito provoca nosso próprios desejos, provoca nessas próprias estabilidades sexuais e prova através da relação Cristina, a vendedora e Vera , ex-Vicente, que apesar de toda mudança corporal de gênero o desejo dele é heterossexual. E no inverso da situação, Cristina que antes os despreza enquanto corpo masculino, lhe olha com desejo homossexual lésbico, ao identificar aquele corpo feminino.

Em fim , o filme é um exercício de reflexivo sobre as possibilidades, sobre os saberes , sobre os desejos em fim,  é uma delícia.






2 comentários:

Léo Moura disse...

Muito boa a sua reflexão sobre o filme carlinha parabéns...
Almodovar como sempre surprende a todos nós

Carla Freitas disse...

Brigadinho querido , nós crescemos e nunca mais nos encontramos, mas pelo vistos temos muita afinidade intelectual...precisamos conversar! HAhahahhaha Beijo