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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente validos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzam com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o Povo fazendo sua língua.

Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingara plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz idéia de maior quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática, física. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto dela pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas no caso expressando a mais absoluta negação esta o famoso e recentemente utilizado "Nem fodendo!". Que nem o "Não, não e não!" e nem tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" substituem.
O "Nem fodendo" é irretorquível, liquida o assunto. Te libera, com a consciência e o ego tranqüilos, para outras atividades de maior interesse em sua vida.

Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Huguinho, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com
a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o novo CD do Lupicinio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "É PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho? "Porra nenhuma!".

O "porra nenhuma", como vocês vêem, nos prove sensações de incrível bem estar interior. E como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denuncia publica de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, no "prepone" presidente de porra nenhuma.

Ha outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer um Puta-que-o-pariu! dito assim te coloca outra
vez em seu eixo. Seus neurônios tem o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitira dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforcadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Quer saber mesmo de uma coisa? Vai tomar no olho do seu cu!".
Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima.
Desabotoa a camisa e saia a rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitoria e renovado amor-intimo nos lábios.

Seria tremendamente injusto, em que pesem ainda inexplicáveis e preconceituosas resistências a sua palavra-raiz, não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do PV (Português Vulgar): "Embucetou!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Embucetou de
vez!".

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como o comentário de um vizinho para sua esposa ao sacar que no auge da violenta briga do casal da residência ao lado, chegam de súbito a amante, o filho espúrio e o cunhado bêbado com o resultado do exame de DNA: "Fecha a porta que embucetou de vez!".

O nível de stress de uma pessoa e inversamente proporcional a quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me
liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!.". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição
brasileira:

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se

Desculpe-me, desconheço o autor

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom! kkkk