O
texto San Foucault faz, entre outras
coisas, uma análise crítica da influência de Foucault para os movimentos
sociais gays, lésbicos, trans e etc. O autor começa com a seguinte provocação:
Se os sindicalistas têm como principal referencial teórico, livros comunistas,
e os pacifistas têm exemplares de “A vida contra a morte”, qual seria o
referencial teórico de movimentos como o ACT UP, por exemplo?
E
lá na década de 80, com essa inquietação, Halperin recebe o nome de Michel
Foucault como resposta e conclui que ali existe uma prática com uma nova forma
de pensar e fazer política.
A
noção de poder que Foucault tráz, tira do centro das discussões de poder de
esquerdistas e tradicionalistas, que logo são percebidos por aliados intelectuais
foucaultianos como atrasados.
Foucault
desvirtua a idéia do poder vindo de cima para baixo somente, tira de foco a
idéia de que determinada sociedade está dividida em quem tem e quem não tem
poder e mais, o poder não é oposto de liberdade, assim como a liberdade não
está livre do poder.
A
leitura equivocada de Foucault, por seus críticos esquerdistas, não os permite
compreender o que Foucault diz sobre o poder como força coercitiva. As críticas
que recebe nesse sentido seriam de que ele sugere o poder como tão potente que
não existe possibilidade de resistência, o que não se sustenta ao lermos, por
exemplo, o A Microfísica do poder, em
que Michel Foucault fala exatamente que “onde há poder, há contra poder.”
Halperin
relata que, para Foucault, os movimentos políticos têm sido cúmplices do poder
de regulação sexual e que justamente o que chamamos de “revolução sexual”
reforça os mesmo poderes que tenta derrotar, já que essa “liberação sexual” tem
nos liberado, na verdade, de nossa liberdade sexual, ao invés de nos fazer
lutar por ela.
O
autor lembra-se de problematizar o debate de Foucault sobre a liberdade como
algo construído em moldes hegemônicos e que assimilamos que deve ser usada “com
responsabilidade” e que não podermos “abusar” dela. Logo, chegamos a um
conceito bastante complexo e limitador do ponto de vista de ser um discurso
elaborado num momento iluminista, cartesiano, europeu, vendido como ideal.
As
críticas mais recorrentes que Foucault recebia de seus críticos foi de que este
seria incapaz de produzir uma teoria política crítica. Esse tipo de argumento
se entende até os dias de hoje quando recebemos críticas dos movimentos sociais
de hoje aos teóricos que se apóiam nos estudos queer e que rebatemos fortemente desconstruindo a lógica
essencialista.
Outro
debate que Foucault já recebia e que ainda hoje perdura nos debates, inclusive
entre teóricos queer, é que esse
pensamento pós-estruturalista soa como um “radicalismo chique” e “autocomplacência”,
que coloca em xeque também uma discussão atual sobre a relação entre sujeito e
“objeto” analisado. Apesar dessas críticas, Michel Foucault defendia que suas
atividades intelectuais tinham sim um impacto político.
Halperin,
nesse sentido, lembra que há uma troca de impacto na relação entre Foucault e
movimentos políticos, já que o filósofo muito observou os movimentos para
teorizar.
Para
David Halperin, o ACT UP é um bom exemplo de inversão estratégica do poder, que
coloca em prática a teoria do poder e contra-poder debatido por Foucault.
Mais
para frente, no texto, o autor discorre sobre a nomenclatura queer e sua importância como um
contra-discurso hegemônico e ao mesmo tempo soa como uma “moda burguesa” e
conclui que essa compreensão queer,
da identidade sexual, é a que mais se aproxima das reflexões de Foucault no
nível de estratégia política.
O
teórico também cita a prática homossexual como possibilidade de desenrolar
novas formas de relacionar-se, e nesse sentido temos também recebido críticas.
Atualmente, quando debatemos sobre as conseqüências de pautar o casamento gay
regulamentado pelo estado e reprodutor dos modelos heteronormativos de se
relacionar.
O
autor discorre sobre o que seria a homossexualidade para Foucault e compreende a
prática como um exercício que proporciona aos indivíduos a capacidade de
transformar sua existência.
Ao
falar dos direitos políticos, Halperin chega à problemática levantada pelo filósofo
sobre a eficácia em despender tanta energia na luta por estes direitos.
Foucault compreendia que a garantia de um direito não era a garantia de que o
preconceito acabaria, por isso, seria válido pensar em tornar visível o mais
diverso estilo de vidas, para garantir uma possível modificação cultural. Porém,
Foucault nunca julgou desnecessária a luta pelos direitos, apontando somente
suas limitações.
Ao
pensar em como viver um estilo de vida queer
e com seriam essas novas relações pensadas por Foucault, ele mesmo chega à
conclusão de que seria preciso pensar em infinitas possibilidades de conceber o
prazer e desvincular as formas de se relacionar as práticas convencionais, já
moldadas e instituídas em padrões que pretendem ser fixos. E, ainda assim,
Foucault se sente insatisfeito ao detectar que ainda são poucas as
possibilidades de viver uma vida queer.
Michel
Foucault problematiza sobre o conceito de identidade hegemônico sobre “ser
mulher” e crítica a maneira de fazer política categorizando vivências e
possibilidades. Nesse momento entramos na política da diferença. Halperin cita
o projeto de uma política de conquista de igualdade de direitos pela prática da
diferença e sugere Milán como “bastante foucaultiano”.
Ao
relacionar prazer e poder Halperin lança mão a teorização de Foucault que
defende que o S/M seria uma possível forma de experimentar o prazer em uma nova
relação com seu corpo.
Halperin
termina seu texto falando da importância de Foucault para a política queer, que coloca a homossexualidade no
campo da eterna construção de si, e que possibilita a fomentar novos tipos de
vivências, a idéia de uma política queer
seria então libertar-se de uma “natureza” opressora, e não se deixar dominar
pelos discursos de identidade que aprisiona em nome de um interesse coletivo.
Um comentário:
Muito bom!
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