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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Monsanto, um mal desnecessário.




O mundo segundo a Monsanto é um filme de denuncia de uma estratégia de desenvolvimento desumanizada, uma estratégia privada com consentimento estatal que tem como meta o faturamento, sem qualquer preocupação com o impacto socioambiental que provocaria em escala grotesca.

Empresa Monsanto especializada em biotecnologia agrícola, lançou mão da aceleração de produção agrícola e pecuária vislumbrando nos  empreendedores a ideia do controle sob o que até então dependia da produção natural de alimentos como soja e leite.

Os alimentos transgênicos, quando surgiram foram considerados o ápice do desenvolvimento agrícola, e o filme mostra em depoimentos que qualquer tentativa de questionamento sobre essa prática era barrada com o discurso de que uma oposição a eles seria “anti-desenvolvementista”, o que em um mundo onde o discurso do desenvolvimento é um forte alicerce socioeconômico, seria um “desserviço” mundial.

O vídeo se preocupa em captar provas documentais e depoimentos das pessoas envolvidas nas engenharias alimentícias, inclusive os próprios cientistas, e em confrontamentos entre relatos documentados e depoimento para o filme, fica obvio de a Monsanto sempre soube das prováveis mortes e epidemias que seus produtos causariam a comunidades inteiras.

Quando existem algumas vozes no contra-discurso da engenharia e venda desses produtos transgênicos essas vozes são caladas com subornos e demissões. A base das negociações da Monsanto com as secretarias agricolas - que teriam a  função de regulamentar e fiscalizar a produção desses alimentos e seus impactos diretos na saúde dos cidadãos - era acúmulo de capital. Nunca foi a ética, nunca foi o interesse em uma sociedade saudável.

É interessante colocar em pauta, a denúncia indireta que o filme faz sobre a autonomia das pesquisas científicas.  Alerta sobre o perigo do discurso da verdade das pesquisas cientifica no imaginário social. Imaginar que essas pesquisas são realizadas sem qualquer interesse capitalista, de venda de marcas de laboratórios é uma grave ilusão, que coloca em cheque, a imparcialidade dessas pesquisas e levanta uma discussão necessária sobre o que rege esses interesses e nos investimentos que são feitos, principalmente nas pesquisas das ciências exatas e biociências. Não é por acaso a diferença entre os investimentos feitos nessas pesquisas e nas pesquisas oriundas das ciências humanas.

A situação não para por aí, a destruição pela importância a vida humana chega a outros extremos, como a situação dos soldados americanos contaminados no Vietnã pelos pesticidas, e os resultados alarmantes das doenças epidêmicas genéticas que vieram a partir daí, como esclerose múltipla, gestações de anencéfalos e hidrocefálicos.


Não satisfeitos com a nocividade pelas vias das falsificações de pesquisas científica e propagações de produtos nocivos à saúde dos seres humanos, a Monsanto cria estratégia de proteger sua patente aplicando golpes em produtores rurais para garantir a hegemonia na venda de sementes modificadas geneticamente, com objetivo claro de tirar do mercado as sementes naturais.

A situação na Índia com as “sementes do suicídio” é mais uma denuncia contra a empresa que utiliza de golpes para manipular a agricultura de algodão naquela localidade, usando de artifícios desonestos de marketing para vender as sementes modificadas que além de não atingirem o propósito prometido ainda levam as alturas os gastos desses micros agricultores que se veem em situações criticas de impossibilidade de levar a diante seu trabalho com o algodão, chegando ao extremo do número de 680 suicídios de agricultores num curto espaço de meses motivado pelas frustrações no trabalho agrícola.

No México o impacto nocivo da hegemonia das sementes geneticamente modificadas, atingiu não só biologicamente falando comunidades inteiras, que se quer tinham interesse de comercializar suas plantações. O milho plantado em Oaxaca, no México, era tradicionalmente plantado em solo natural sem interferências de agrotóxicos, porém um “descontrole genético” atinge essa comunidade no sentido de que esses milhos até então naturais passam a ser “infectados” pela cobiça do desenvolvimento agrário e invadem a agricultura de subsistência daquela localidade e de tantas outras ainda não pesquisadas.

Desconheço se Milton Santos teve acesso a essas informações, mas se teve, provavelmente concordaria a comigo que seria, inclusive, ingênuo chamar de desonestidade intelectual a forma com que a Monsanto se apropria de discursos de problemáticas sociais, como a fome, para justificar a aceleração da produção agrícola pelas vias da modificação genética. A empresa demonstra total alinhamento com a ideologia capitalista liberalista ortodoxa e não se preocupa em projetar futuramente como serão as consequências da exploração da biotecnologia visando somente o lucro desenfreado.

A ação da Monsanto no Paraguai é mais um exemplo de sua pretensão de controlar a distribuição de alimento no mundo, para isso não mede esforços em impactar inclusive modos de viver de quem não se filia a imposição capitalista de distribuição de alimentos, como é o caso dessas localidades especificas que estão se vendo cercadas e invadidas por uma tecnologia que não fora solicitada.

Alguma semelhança com as formas colonizadoras que vimos acontecer pelo mundo? Alguma semelhança com o que conhecemos como Imperialismo? Como conciliar o desenvolvimento que econômico e social sem perder as rédeas para empresas como a Monsanto?
São perguntas que me inquietam e que ainda não tenho respostas.

por Carla Freitas

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