O mundo segundo a Monsanto é
um filme de denuncia de uma estratégia de desenvolvimento desumanizada, uma
estratégia privada com consentimento estatal que tem como meta o faturamento,
sem qualquer preocupação com o impacto socioambiental que provocaria em escala
grotesca.
Empresa
Monsanto especializada em biotecnologia agrícola, lançou mão da aceleração de
produção agrícola e pecuária vislumbrando nos
empreendedores a ideia do controle sob o que até então dependia da
produção natural de alimentos como soja e leite.
Os
alimentos transgênicos, quando surgiram foram considerados o ápice do
desenvolvimento agrícola, e o filme mostra em depoimentos que qualquer
tentativa de questionamento sobre essa prática era barrada com o discurso de que
uma oposição a eles seria “anti-desenvolvementista”, o que em um mundo onde o
discurso do desenvolvimento é um forte alicerce socioeconômico, seria um
“desserviço” mundial.
O
vídeo se preocupa em captar provas documentais e depoimentos das pessoas
envolvidas nas engenharias alimentícias, inclusive os próprios cientistas, e em
confrontamentos entre relatos documentados e depoimento para o filme, fica obvio
de a Monsanto sempre soube das prováveis mortes e epidemias que seus produtos
causariam a comunidades inteiras.
Quando
existem algumas vozes no contra-discurso da engenharia e venda desses produtos
transgênicos essas vozes são caladas com subornos e demissões. A base das
negociações da Monsanto com as secretarias agricolas - que teriam a função de regulamentar e fiscalizar a
produção desses alimentos e seus impactos diretos na saúde dos cidadãos - era acúmulo
de capital. Nunca foi a ética, nunca foi o interesse em uma sociedade saudável.
É
interessante colocar em pauta, a denúncia indireta que o filme faz sobre a
autonomia das pesquisas científicas. Alerta sobre o perigo do discurso da verdade
das pesquisas cientifica no imaginário social. Imaginar que essas pesquisas são
realizadas sem qualquer interesse capitalista, de venda de marcas de
laboratórios é uma grave ilusão, que coloca em cheque, a imparcialidade dessas
pesquisas e levanta uma discussão necessária sobre o que rege esses interesses
e nos investimentos que são feitos, principalmente nas pesquisas das ciências
exatas e biociências. Não é por acaso a diferença entre os investimentos feitos
nessas pesquisas e nas pesquisas oriundas das ciências humanas.
A
situação não para por aí, a destruição pela importância a vida humana chega a
outros extremos, como a situação dos soldados americanos contaminados no Vietnã
pelos pesticidas, e os resultados alarmantes das doenças epidêmicas genéticas
que vieram a partir daí, como esclerose múltipla, gestações de anencéfalos e
hidrocefálicos.
Não satisfeitos com a nocividade pelas vias das falsificações de pesquisas científica e propagações de produtos nocivos à saúde dos seres humanos, a Monsanto cria estratégia de proteger sua patente aplicando golpes em produtores rurais para garantir a hegemonia na venda de sementes modificadas geneticamente, com objetivo claro de tirar do mercado as sementes naturais.
A
situação na Índia com as “sementes do suicídio” é mais uma denuncia contra a
empresa que utiliza de golpes para manipular a agricultura de algodão naquela
localidade, usando de artifícios desonestos de marketing para vender as
sementes modificadas que além de não atingirem o propósito prometido ainda
levam as alturas os gastos desses micros agricultores que se veem em situações
criticas de impossibilidade de levar a diante seu trabalho com o algodão,
chegando ao extremo do número de 680 suicídios de agricultores num curto espaço
de meses motivado pelas frustrações no trabalho agrícola.
No
México o impacto nocivo da hegemonia das sementes geneticamente modificadas,
atingiu não só biologicamente falando comunidades inteiras, que se quer tinham
interesse de comercializar suas plantações. O milho plantado em Oaxaca, no
México, era tradicionalmente plantado em solo natural sem interferências de
agrotóxicos, porém um “descontrole genético” atinge essa comunidade no sentido
de que esses milhos até então naturais passam a ser “infectados” pela cobiça do
desenvolvimento agrário e invadem a agricultura de subsistência daquela
localidade e de tantas outras ainda não pesquisadas.
Desconheço
se Milton Santos teve acesso a essas informações, mas se teve, provavelmente
concordaria a comigo que seria, inclusive, ingênuo chamar de desonestidade
intelectual a forma com que a Monsanto se apropria de discursos de
problemáticas sociais, como a fome, para justificar a aceleração da produção
agrícola pelas vias da modificação genética. A empresa demonstra total
alinhamento com a ideologia capitalista liberalista ortodoxa e não se preocupa
em projetar futuramente como serão as consequências da exploração da
biotecnologia visando somente o lucro desenfreado.
A
ação da Monsanto no Paraguai é mais um exemplo de sua pretensão de controlar a
distribuição de alimento no mundo, para isso não mede esforços em impactar
inclusive modos de viver de quem não se filia a imposição capitalista de
distribuição de alimentos, como é o caso dessas localidades especificas que
estão se vendo cercadas e invadidas por uma tecnologia que não fora solicitada.
Alguma
semelhança com as formas colonizadoras que vimos acontecer pelo mundo? Alguma
semelhança com o que conhecemos como Imperialismo? Como conciliar o
desenvolvimento que econômico e social sem perder as rédeas para empresas como
a Monsanto?
São
perguntas que me inquietam e que ainda não tenho respostas.
por Carla Freitas
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