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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Como foi seu primeiro amor romântico? [PANDEMIA]


Eu tinha dez anos de idade, quando me apaixonei perdidamente.
Ele morava na minha rua, lá no Rio Vermelho, e era um ano mais velho que eu. Eu, aquariana do dia 11, e ele do dia 9, nunca esqueci disso.
Nossa rua era povoada de gente da nossa idade e a vida era ficar subindo e descendo aquelas ruas uns atrás dos outros, pra pensar em qual transgressão ia rolar aquele dia.
Como toda galerinha da década de 90 tínhamos todos os estereótipos da novela Carrossel. Eu passava longe de ser a menina mais bonita, interessante e badalada da galera. Pelo contrário, era aquela que evitava fazer muitas coisas que fizesse chamar atenção pra minha existência.
Ele também não era o mais cobiçado de todos pela sua beleza, porém, eram muito sedutores naquela idade os meninos que transgrediam, ele era um desses. Meio palhaço, meio ilegal, escorregadio, e simpático. Diferente dos boys daquela época, não via nele o estereótipo da agressividade, nem algum prazer em constranger as pessoas.
Não lembro exatamente como ele ficou sabendo de meus sentimentos, mas sei que aquilo ficou público, e rolava meio que uma piadinha entre a galera sobre eu querer namorar com ele. Me importava pouco com isso, tava mais interessada em ouvir Patricia Marks e descobrir as músicas de amor de Renato Russo pensando na estratégia de saber mais sobre dele.
Desde sempre eu sabia que aquilo não sairia dos meus imaginários, talvez por isso não tenha sofrido tanto. Eu gostava de gostar dele. E sim, passava horas pensando como seria beijá-lo.
Quando nos aproximamos mais, foi porque tive que estudar na sua escola, por uma demanda financeira de minha mãe. Odiava a escola, mas amava esperar ele passar pra ir perto dele só pra ouvir o que ele estava falando. A vida era saber se ele tinha ido ou não para escola, ficar puta por ele ser constrangido pela freira por usar brinco, acompanhar suas traquinagens.
Amei naquele ano ter motivos de falar com ele sobre os assuntos pra estudar e , logo eu, que todo ano ia pra várias recuperações, me dispus a estudar com ele, e fui algumas vezes pra casa dele, e levei doces, nada passou de tardes de conversas aleatórias pra alimentar ainda mais minhas fantasias. Foi quando passei a escrever as cartas de amor. Escrevi milhares e sinceramente eu não lembro se entregava para ele.
Foi, talvez, o maior ganho dessa história: escrever cartas virou uma paixão.
A vida era boa. Só fantasiar que naquela tarde de estudo seríamos namorados, me dava muito prazer. Nesse tempo ele teve mil namoradas, todas lindas, interessantes, apaixonadas por ele. Eu sentia ciúmes e me dava conta de que eu não era o tipo de menina que ele namoraria. Em algum curto momento isso foi sofrido, mas dei algum jeito que passou.
Eu era uma stalker mirim, mas somente para alimentar a minha fantasia daquele amor idealizado, romântico, irrealizável, que durou anos. Quem me lê assim pensa que vivi isso estagnada. Aquariana né? Ele estava no compartimento do amor, porém, ao mesmo tempo vivi minhas pequenas paixões com outros boyzinhos.
Alí foi a minha primeira experiência com a não correspondência de afeto. Foi alí a primeira vez que me demorei numa relação sem reciprocidade, e alimentava meus sentimentos com músicas românticas, filmes de sessão da tarde e literatura da revista Atrevida sobre histórias iguais a minha e horóscopo do João Bidu para prever nossos caminhos.
Lucas, para os padrões de masculinidade da época foi até generoso, não lembro de ter sido maltratada, nem de ele ter me entregue na boca dos malditos daquela rua, não lembro de um riso perverso sobre meus sentimentos, e nem de me sentir usada por isso. Lembro de me sentir até cuidada de algum jeito, e acho que era mesmo o que ele podia ter feito de melhor naquela época em que tanto absurdo era naturalizado.
Me demorei por anos naquele sentimento. Acompanhei seus caminhos e continuei sendo sua stalker do bem por muito tempo. Hj nutrimos espaçadas e boas conversas sobre nossa boa infância. Ele mora em outro país, e pouco temos em comum além dessa história que inaugura minha caminhada de insistir em historias de amor.

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