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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

o fetiche dos homens héteros pelas mulheres feministas [PANDEMIA]

 


Cá estou eu, pensando na minha estrada depois dos 30, e analisando nas histórias que venho escrevendo em minha vida, trocando ideia com outras mulheres, e experienciando estar solteira depois de tantos anos. Algo inédito nos últimos quase 15 anos de minha vida. Confesso que tenho entendido a importância disso, porém, simultaneamente, aceitando também, que o problema de não estar só, é não saber ficar só, e se a gente sabe ficar só se isso não é sofrido, e pelo que tenho sentido, não tem sido para mim, mas de repente, por algum motivo de força maior universal ou para além do que se pode ver, a gente tá sempre quase entrando numa relação, então,é isso né, aceitemos e não nos demoremos quando não mais estiver bom.


Eu não sei se muito mais mulheres se sentem assim, mas tem rolado com uma certa recorrência essa reflexão em mim, e tenho dividido com algumas mulheres por perto de mim que sentem o mesmo, obviamente sempre a partir de uma vivência. E essa vivência tem acontecido desde que tomei as rédeas da compreensão do lugar das mulheres nas relações hétero.

Desde que comecei a ocupar espaços de construção de militânca com mulheres,  me coloco em diálogo com muita gente , e de alguma forma visibiliza minha existência, principalmente por conta das redes sociais. 

Percebo uma alternância na tentativa de aproximação entre os boys que não entendem nada do que eu digo, apenas sexualizam meu corpo e minha performatividade de mulher bem situada em sua própria existência, e os boys que entendem o que eu estou falando, e que se acham O  cara, diferentão e  grandiosos  que vai ser lido como o cara feminista pq ta colando numa mulher feminista. 

Quando normalmente esses caras cismam com minha cara, e insistem em me fazer apaixonar,  eu sinto logo do que se trata: "vamos ver se sesse pensamento feminista se sustenta", ou pior, "se minha masculinidade é mais ágil e dobra ela".


É exatamente assim que me sinto em vários casos,e  não só eu, no nosso grupo de mulheres temos pensado sobre essas questões e isso atravessa muitas de nós.


Eu já entendi que há um fetiche em 'dobrar' a mulher lida como 'braba', 'agressiva', que na verdade apenas se posiciona diante do mundo.

Domar a fera.  

E aí o que fazem esses homens caso desenvolvam uma relação com essa mulher feminista? Bom, aí é que está... aí é que de fato se revela, se trata-se de fetiche, paixão, amor ou algo que perpasse por aí. A relação pode ir pra vários caminhos, e inclusive nos surpreender, mas isso não é dado de realidade, o que tem sido dado de realidade, são relações frustradíssimas, cheias de furos e adoecimentos causados pela falta de diálogo e de disponibilidade das masculinidades, principalmente se fizermos um recorte etário aí , entre os homens de 37 a 42 anos de idade. 

Estou afirmando que determinantemente nenhum homem jamais vai desenvolver uma afetividade real com essas mulheres? Não. Estou falando de uma experiência minha, e de outras mulheres próximas a mim. Acho que muitas vezes nem para eles está muito bem desenhado o lugar desse fetiche em suas escolhas por parceiras feministas. 

É um lugar de poder experienciado muito recente por esses homens, esse de conquistar aquela mulher que se posiciona de forma política e assertiva sobre equidade de gênero. Acho que muitos nem se deram conta ainda do que está acontecendo. Eles demoram de entender e mais ainda de responder aos movimentos das transformações. Por isso tenho insistido que são estátuas da década de 90. 

O que acontece é que apesar do fetiche, percebo que simultaneamente esses homens não pensam em como pode ser complexo para eles se exporem ao estar numa relação com uma mulher feminista , sem assumir de fato para si as mudanças do mundo, a  forma como nós temos nos colocado e o que temos tentado lhes dizer sobre a forma de nos relacionarmos. Se expoem , porque em algum momento vão precisar mudar de planeta porque simplesmente nenhuma mulher mais vai cair no conto da aia.  

A medida que essas relações vão acontecendo, há uma expectativa em torno de que homem esse pode pode ser nessa relação, e é uma expectativa legitima diante da problemática da masculinidade nas relações afetivas entre homens e mulheres. 

E me digam,  em momento nenhum ele pensa nisso antes de se jogar nessa empreitada? 

Eles não sabem que nós mulheres, do pequeno nicho da soterópolis nos comunicamos sobre os homens que vivem investindo no mesmo padrão de mulher feminista de esquerda? 

Se não está de fato conectado com nossas lutas e afim de se refazer e repensar, se ainda entende isso tudo como uma ação de patrulha, ou se ainda questiona a mulher sobre o que é de fato importante na sua vida: a relação ou a militância, se ainda se comporta dentro da relação como se fosse um baby da década de 90, totalmente equivocado em suas colocações, porque se arrisca assim? 

Eu só posso pensar que é uma burrice mesmo. Uma limitação cognitiva. OU eles pensam realmente que isso vai passar assim? Sempre vai ter um mulher pra cair no conto da aia, mas sempre vão ter 30 avisando a ela que ela está caindo, e quando ela cair de fato, e precisar se levantar, todas as 30 estarão lá, pra acolhe-la , e reafirmar o que todas já sabíamos. 


em fim,


quando eu falo em honestidade na relação é isso: o homem, reconhecer suas limitações, colocá-las na mesa, e se comprometer e em fazer diferente, em nome de uma relação justa e saudável. e isso não é impossível, pq eu faço, e muitas de nós fazemos, sempre. Pelo contrario , é muito possível, mas é preciso saber olhar pra si, e estar disposto a fazer diferente de tudo que já fez até então. 

cansada.


31 de agosto, finalmente, vá, se pique.

ufa





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